A "RESERVA MENTAL" DE SÓCRATES...
Esperteza saloia, é como o comentador televisivo Marcelo Rebelo de Sousa vê a exclusão da adopção na proposta do PS sobre o casamento homossexual aprovada na generalidade no Parlamento.
Segundo ele, Sócrates saberia à partida da probabilidade (quase certeza) de o Tribunal Constitucional vir a considerar inconstitucional esta exclusão e então, como quem lava as mãos qual Pilatos, limitar-se-ia a dizer simplesmente: "nós respeitamos os compromissos assumidos no nosso programa eleitoral apresentado ao eleitorado, mas face à posição do TC, só podemos cumprir a Lei"...
Não andará o Professor Marcelo muito longe da verdade - até porque o vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS, Ricardo Rodrigues já começou a caminhar nesse sentido - DN-Hoje.
É aliás por causa desta intenção escondida do PS de Sócrates, que os defensores das "soluções mais abrangentes" que foram reprovadas se têm mantido tão serenos perante esta aparente descriminação: Eles sabem que o comboio colorido que leva o engenheiro Sócrates como maquinista, não parou a sua marcha. Apenas abrandou um pouco para distrair aqueles que eventualmente pudessem estar a pensar em bloquear a linha...
Os Bispos da Conferência Episcopal Portuguesa criticam a precipitação verificada com a aprovação do casamento gay e denunciam aquilo que classificam como a abertura de uma "ferida democrática" por parte do Parlamento, ao rejeitar a convocação de um Referendo..
Curiosa e tardia posição de quem pretende falar em nome dos interesses da família!
Não se percebe muito bem porque é que tendo a Igreja por hábito emitir opiniões - às vezes de forma bem inflamada - sobre assuntos bem mais comesinhos e menos fracturantes do que este (uso do preservativo, educação sexual, retirada de símbolos religiosos das escolas, capelões hospitalares, etc.,) não tenha saído a terreiro na defesa mais activa dos defensores do Referendo.
Há até quem fale em estranhas e curiosas negociações de bastidores com o governo e o aparelho do PS, onde o próprio Cardeal Patriarca ou seus delegados se terão envolvido e que terão ditado este estranho pacto de neutralidade e não agressão da Igreja no período que antecedeu a aprovação da Lei.
O tempo encarregar-se-à seguramente de contar o resto da história...
Os membros da Plataforma Cidadania e Casamento enviaram ontem uma petição on-line ao presidente da Assembleia da República para perguntar aos deputados o que é preciso fazer mais para que o Parlamento aceite o referendo.
"Quantas assinaturas necessitam os senhores deputados para convocar o referendo?", questiona Marta Roque, em declarações ao JN.
Poderiam ainda ter acrescentado uma alínea à pergunta: "e quantas assinaturas para correr com a cáfila de pseudo-Deputados e colocar na representação do Povo pessoas integras e com "espinha dorsal sem entorses?" É que dizendo-se eles contra a homofobia de que acusam os promotores do Referendo, sofrem de uma outra mania não menos criticável - a "familiofobia".
Salvaguardam-se evidentemente algumas excepções honrosas (poucas) transversais ao "arco parlamentar" - porque a falácia que a própria imprensa foi alimentando ao longo do processo sobre os defensores do Referendo serem de direita e os outros a esquerda, não passa disso mesmo : uma falácia!