TERRA DA FRATERNIDADE...

Grândola vila morena
Terra da fraternidade
E que esta realidade
Inclua também Alfena
Mesmo de olhos fechados, sei que é Primavera: Pelo cheiro das flores do meu jardim pelo inconfundível aroma que as minhas laranjeiras libertam por esta altura do ano. Também pela azáfama em que vejo a passarada no meu quintal e um pouco por todo o lado, pelos seus cantares, pelos chamamentos constantes dos juvenis que vão começando a sair dos ninhos experimentando os primeiros voos em liberdade...
E hoje em especial, neste dia de sol radioso (pelo menos em Alfena) recordo um dia - por sinal, em tudo idêntico em fulgor primaveril - vivido 36 anos atrás e revejo essa manhã em que me preparava cuidadosamente para o meu primeiro dia de trabalho num novo emprego, quando ouvi pela primeira vez a NOTÍCIA... Claro que o emprego aconteceu, o trabalho é que não, pois se nem o próprio director-geral da empresa o conseguia fazer...
Era verdadeiramente patética a aflição do Sr. Riss, o alemão que administrava a empresa multinacional do ramo da electrónica, não sabendo se havia de acreditar nas notícias que ia ouvindo nas Rádios. A certa altura, em desespero optou por ir a casa buscar um daqueles rádios gigantes que existiam na época, com uma daquelas antenas sofisticadas capazes de captar as emissões estrangeiras e foi vê-lo ao longo do resto da manhã com o aparelho às voltas, a tentar equilibrar a antena numa das janelas dos escritórios, para apanhar o melhor sinal da Deutche Welle...
Hoje tudo isso me vem à memória com mais intensidade - talvez porque neste dia especial, contra a vontade dos muitos que já os usaram mas que agora lhes recusam espaço na sua lapela, os cravos teimam em ser vermelhos (ainda mais vermelhos...) e o seu perfume misturado com o canto das aves voando em liberdade, faz despontar em nós idêntico desejo de, tal "como elas, sermos livres de voar".