IOHANNIS DIXIT...
D.João Miranda, Administrador Apostólico da Diocese do Porto, falou na sua homilia do dia de Natal, sobre o abôrto .
Pois... e melhor seria que o não tivesse feito - que um Bispo, mesmo que no papel de simples Administrador Apostólico, tem por vezes de se auto-impor alguma contenção verbal.
D.João Miranda, talvez num impeto momentâneo, talvez ainda - o mais provável - na tentativa de consolidar um lugar que ocupa apenas interinamente, pensou mais na hipotética vantagem que o impacto mediático das suas palavras lhe poderia trazer, do que no interesse mais geral dos católicos da sua Diocese - muitos dos quais, como eu, não se revêm minimamente nas suas referências aos "expostos" ou aos "meninos da roda".
Talvez valha a pena lembrar ao Senhor Bispo, uma regra elementar que ele seguramente conhece, mas de que se esqueceu na sua homilia de Natal: falar em público, sobretudo para uma plateia que é multiplicada pelos microfones e câmaras de televisão presentes numa celebração solene como a do Natal, não é a mesma coisa que dissertar numa roda de amigos ou de paroquianos conhecidos.
Depois, Senhor Bispo, o que está em causa no próximo referendo, não é aquilo que alguns em que se inclui uma certa Igreja retrógrada de que lamentavelmente parece fazer parte, querem fazer crer aos menos atentos: a liberalização do aborto!
O que vai ser referendado, é a despenalização da interrupção voluntária da gravidez !
Convenhamos, que até um Bispo menos atento, deveria saber encontrar a diferença entre uma e outra terminologia - porque no fundo , é a diferença entre a mistificação (no caso da primeira) e a verdade (contida na segunda).
Depois, Senhor Bispo, comparar uma situação de interrupção da gravidez - independentemente do que em teoria se possa considerar como sendo o verdadeiro início da vida - ao abandono das crianças à porta da antiga Roda ou aos expostos, valha-me Deus! Não havia necessidade...
Por outro lado, como pode a Igreja Católica arrogar-se o direito de atirar a primeira pedra às mães que por razões seguramente ponderosas e seguramente também, de forma profundamente dolorosa, se vêm obrigadas a interromper a sua gravidez?
É que a Igreja Católica, tem mantido até hoje (e não se vislumbra nenhum sinal de que venha a mudar de atitude) a sua recusa insensível em aceitar qualquer método contraceptivo - verdadeiramente entendido como tal!
Donde necessariamente se tem que concluir, que essa atitude sim, não fora o empenhamento dos Estados e da sociedade civil em geral, criando Instituições de acolhimento humanizado ou promovendo a adopção, conduziria de facto à multiplicação dos "expostos" e "enjeitados" de que ousa falar...
Depois, Senhor Bispo, um dos Direitos Fundamentais do ser humano, é o de nascer e viver no seio de uma família feliz e existem muitas e muitas situações - a maioria daquelas que em teoria podem ser passíveis de uma interrupção de gravidez não penalizável - que seguramente não cumprem este desiderato.
Termino, congratulando-me por me incluir no número dos católicos, que se sentem felizes por permanecer no seio de uma Igreja fraterna, amiga, solidária e não sectária nem fundamentalista - uma Igreja que nem sequer equacione o regresso aos tempos da "Santa Inquisição"!
Uma Igreja que espero sinceramente seja já - ou venha a ser muito em breve - maioritária entre os católicos!