"A TERRA COMO LIMITE"
Numa altura em que o debate sobre as questões relacionadas com a Interrupção Voluntária da Gravidez, cresce de tom - facto a que não será totalmente alheia a divulgação de algumas sondagens sobre os possíveis resultados do Referendo do dia 11 - ganharíamos todos (o lado do SIM e o do NÃO) se respirássemos mais pausadamente e contássemos até 10 antes de debitarmos as nossas doutas opiniões sobre os temas em discussão.
Como dizia o Cardeal Patriarca de Lisboa D.José Policarpo, na Grande Entrevista transmitida ontem no Canal 1 da RTP, (numa lúcida abordagem, digo eu) NADA está decidido antecipadamente e em cada dia, há novos dados que alimentam esta dúvida - para os dois lados...
Esta constatação deveria constituir motivo mais que suficiente para nos auto impormos o máximo de contenção verbal e nos deixarmos TODOS, de andar para aí a dar tiros nos próprios pés...
O SIM, que não pode deixar de ter em conta que a Despenalização, quer queiramos quer não, mexe com sentimentos de religiosidade profundamente arreigados, de uma grande parte das pessoas e que por isso mesmo, merece uma abordagem esclarecedora (mas também respeitadora desses sentimentos...) partindo de um princípio inquestionável de que a esmagadora maioria dos defensores do NÃO, está de boa fé!
De igual modo, o lado do NÃO terá que interiorizar que uma parte grande dos apoiantes do SIM, não concorda com a vulgarização do aborto nem o considera como uma conquista (no sentido mais usado do termo) para a mulher. Antes o admite como o mal menor, num contexto de dificuldades consideradas por esta, inultrapassáveis num determinado momento da sua vida...
(O SIM não impõe uma opção - essa deve ser da mulher - e por isso mesmo, rejeita qualquer penalização face à opção tomada...)
O NÃO, tem todo o direito de defender aqueles que diz serem os princípios da Moral Católica, mas não pode deixar de ter em conta, que esta questão não é uma questão religiosa!
Aliás, se o fosse, era a própria Lei actual que também estaria em causa ao admitir motivos justificativos para o aborto - casos de violação e saúde psíquica da mãe, por exemplo... - onde também seria lógico defender a prossecução da gravidez (ainda que depois, a criança viesse a ser encaminhada para adopção...)
O lado do NÃO, também teria algo a ganhar (e ainda bem que não o tem feito, digo eu...) se deixasse de ameaçar com o fogo do inferno, com a excomunhão e coisas do género, que terão seguramente sobre as pessoas, um efeito contrário ao pretendido...
Por último, e no campo das alternativas que o NÃO diz existirem para as mulheres, elas serão sempre bem vindas - eu pessoalmente, ficarei profundamente satisfeito, sempre que uma mulher concreta, que pense interromper a gravidez, deixe de o fazer, porque alguém lhe apresentou uma ajuda concreta para a situação que enfrenta...
Mas por favor, não convençam nenhuma mulher nesse sentido, apenas com promessas e sobretudo, não prometam o Céu (que nunca lhe poderão dar)...
O ideal seria que tivessem sempre a Terra como Limite - só assim a promessa poderá deixar de ser apenas isso, para passar a ser uma realidade!