Como se esperava - como o governo esperava e desejava - o casamento entre pessoas do mesmo sexo, já é "tema do dia" há vários dias (e não pelas razões publicamente expressas pelo primeiro ministro...)
Hoje por exemplo, a propósito de declarações do Cardeal Saraiva Martins, houve mesmo um fórum sobre o tema, no canal de Notícias da RTP...
Tudo portanto a correr pelo melhor para José Sócrates, com a crise a perder algum fôlego no debate público - o que não significa obviamente que o poder letal da mesma se tenha vindo a atenuar!
Fica cada vez mais claro, que a introdução peregrina deste tema e neste momento, mais não visa do que iniciar o processo de "indução anestésica" da sociedade, para que esta não reaja da forma que seria expectável face à incapacidade do governo em encontrar a terapia adequada para o sofrimento cada vez maior que sobre ela se abate...
Por outro lado, não se percebe muito bem a posição dos vários grupos de gays e lésbicas sobre o assunto:
Por que raio é que duas pessoas - do mesmo sexo ou não - que se amam e por isso decidem constituir uma célula familiar, necessitam da "bênção" do Estado para o fazer? Será apenas através do casamento que se pode resolver o problema dos seus direitos mútuos?
Será que a qualidade e a robustez dos laços que os unem dependem da "mimetização" parola dos casamentos hetero, com o ramo de flor de laranjeira (já agora, qual dos dois é que deve levar o ramo?) a troca de alianças, o "pode beijar a noiva (ou o noivo)", o lançamento do ramo para o grupo das moças casadoiras - onde é suposto que ocorra também uma alteração de "pormenor" consoante a cerimónia se refira ao casamento de dois "eles" ou duas "elas"...
Mas tem sorte o primeiro ministro ministro, por ter do lado dos opositores ao dito casamento, uma Igreja e uma hierarquia, onde o discernimento nem sempre abunda: bastou que os "agitadores de turno" do lado do governo lançassem o "isco", para que as águas se agitassem com vários Bispos, Cardeais e outros porta vozes, a emitir opiniões e críticas, cada uma mais insensata que a outra...
De facto, a Igreja é a entidade com menos credibilidade para formular juízos de valor acerca do que é ser ou não ser "normal":
Não nos devemos esquecer que a Igreja ainda não considera "normal" o uso de um simples preservativo e que a "função primordial" do sexo. ainda é fundamentalmente a da procriação - já para não falar no "pecado" que constitui, o facto dos dois elementos de um casal (casal hetero, entenda-se) optarem por "percursos" diferentes dos tradicionais para a consumação do acto sexual...
É caso para dizer - adaptando um aforismo bem conhecido - que "com inimigos como estes, para que é que precisa José Sócrates de amigos?"