(CÓPIA DO PROTESTO ENVIADO À REDACÇÃO DA REVISTA DA LIGA DOS COMBATENTES)
Sou também um ex-combatente inscrito na Liga, embora pelas razões que se seguem, não tenha as quotas em dia.
Cumpri o meu serviço militar obrigatório entre Janeiro de 1969 e Novembro de 1972 – um longo período portanto, para um simples Furriel miliciano…
27 meses desse serviço, foram cumpridos em Moçambique, numa guerra com a qual não concordava, mas a que não fugi - como as esmagadora maioria dos milicianos desse tempo, aliás…
Daqui decorre portanto, que para mim a condição militar por si só, não chega para definir um homem de bem, porque tal como os políticos, os militares sobretudo os oficiais de carreira e fundamentalmente os que estão acima da posição de subalternos, juntam-se à volta de causas e nem todas são boas causas: algumas coincidem até com as más causas dos políticos…
Se assim não fosse, não teríamos passado pelo que passamos, enfrentando uma guerra colonial, contra tudo e contra todos e sobretudo, contra o Povo!
Mas respeito muito os militares, os das boas causas – como foi a causa do 25 de Abril de 1974!
Desgosta-me portanto a excessiva "filtragem" que na Revista da Liga dos Combatentes se faz a tudo o que fale de Abril e dos militares que o ajudaram a fazer!
Assim como me choca tropeçar a cada página com notícias relacionadas com outros militares que nunca partilharam do espírito de Abril e com expressões do género “contra golpe do 25 de Novembro” e outras que tais…
Os militares – os do activo e os outros também - emanam do Povo e nunca se devem arrogar o direito de hostilizar o Povo (ainda que seja apenas uma parte do povo). Devem isso sim, manter-se num plano superior às naturais facções deixando comentários e análises sobre acontecimentos políticos, para os próprios políticos e para os jornalistas que infelizmente se organizam à volta dos mesmos.
Aproxima-se a comemoração de mais um aniversário da Revolução de Abril – o 35º - este ano ensombrada com a proposta de promoção a General do Coronel Jaime Neves, um homem que não é de Abril e que por isso mesmo ultrapassa inexplicavelmente todos os dignos militares como Vasco Lourenço, Salgueiro Maia (já falecido) e tantos outros, que mereciam muito mais essa promoção.
Não me espantarei se um dia destes vir na Revista um panegírico qualquer sobre a promoção do primeiro e nada sobre o esquecimento a que os segundos estão votados.
Oxalá me engane no entanto e encontre num futuro próximo, uma Revista diferente…
Com os melhores cumprimentos, etc., etc.