As "visitas da casa" - este espaço modesto e simples que um dia destes vou ter de remodelar tornando-o um pouco mais aprasível - merecem conhecer esta intervenção do nosso Vereador Dr. Pedro Panzina produzida hoje na reunião pública de Câmara.
Uma análise demolidora aos contornos do estado de "concubinato" a que hoje foi dada projecção pública, baseado numa combinação cromática tão tão "semelhante" ("rosa" e "laranja") que nunca poderia ser harmonioso
Estamos a assistir hoje a um dos episódios mais tristes de quantos têm marcado este mandato autárquico.
Esta ligação que hoje e aqui se torna evidente bem poderia ser, com toda a legitimidade, um acordo, uma coligação ou outro tipo de união com um fundo político ético e orientado por interesses atendíveis. Lá poder, podia. Mas não é. PS e PSD resolveram, verdadeiramente, viver em concubinato, resolveram amancebar-se.
Ausentando-se como se ausentou completamente de negociações no seio de executivo, com vista a uma solução para a grave situação financeira do Município, aparecendo à última hora, contrariando tudo o que antes tinha dito, o acto do PS de Valongo é uma concupiscência.
Não adianta proclamar que o superior interesse municipal pode ditar todas estas cambalhotas, toda esta acrobacia, a menos que se diga, também, que os artistas só agora acordaram para a realidade.
Há três vertentes muito negativas neste comportamento, que não podem passar em claro:
- Face a todas as declarações anteriormente proferidas (vejam-se as declarações políticas que constam das actas, que são publicas, e das declarações nos jornais), face à pressa com que o entendimento foi feito (é mentira que o PS esteja a negociar há dois meses, como se pode depreender da notícia de ontem – a primeira reunião, anunciada nos jornais, teve lugar na 2ª feira, dia 7 de Março), face à ausência, pelo menos visível, de contrapartidas compreensíveis e atendíveis (o que vem nos jornais, apesar de contrariarem o próprio plano de saneamento financeiro, são minudências), face a tudo isto, só há uma explicação possível: mais uma vez Valongo foi tratado como um ser incapaz e, não sendo capaz de resolver o que deveria ter sido resolvido pelas estruturas locais, foi acordado pelos directórios partidários.
- Os agentes políticos locais deram o pior dos exemplos em política. Não só porque se contradisseram. Aliás, desde o início do mandato, com estes protagonistas, o PS de Valongo não tem feito outra coisa que não seja encarregar-se a si próprio de desmentir num dia o que disse no dia anterior. Neste caso, sendo uma decisão que lhes foi superiormente imposta, destes intérpretes de uma vontade que não é a sua, seria de esperar que tomassem a única atitude de dignidade que se impunha: dizerem que não a tamanha afronta. Mas não, o que estão a fazer não é isso. Os próprios, porventura, admitirão que possam estar a prestar um bom serviço aos seus interesses ou aos interesses do seu partido. Mas a verdade é que estão a prestar um mau serviço ao concelho de Valongo e, sobretudo, em matéria de exemplo, estão a prestar um péssimo serviço à democracia e a vida política. Muitos vêm reclamando que é preciso mudar a classe política. Acreditamos que estes comportamentos acabam por justificar tais apelos. Cremos, porém, que o que é preciso, de facto, é que os políticos mudem de comportamentos. Esta foi, para os eleitos do PS, uma oportunidade perdida de contribuírem para essa mudança necessária e para dignificaram os seus mandatos.
- Um momento de crise como este, que poderia ser ocasião imperdível para arrumar definitivamente com a prática do passado, para impor mudanças de atitude, para aplicar novas regras de gestão, para criar um novo paradigma para a vida municipal, foi totalmente desprezado pelo PS, numa clara demonstração de que, afinal, se dúvidas houvesse a tal propósito, os vícios e os “tiques” da partidocracia estão bem presentes e bem vincados.
Há, porém alguns aspectos positivos a extrair neste momento:
- Sendo que o Município de Valongo precisa de um Plano de Saneamento Financeiro, embora em nossa opinião tal documento não seja, por si só, suficiente, ele aí está, dado de bandeja por quem achava que o tal Plano não só não era necessário como era uma má solução.
- Mantendo a concupiscência em que vive desde o início do mandato ao nível municipal, traduzida na partilha de lugares na Assembleia Municipal, e na viabilização, na Câmara e na Assembleia, de um plano de investimentos, um quadro de pessoal e um orçamento fraudulento em 2010, esvaziando a Câmara das suas competências, dando-as de mão beijada a quem todos os dias criticam, o PS demonstra uma inegável coerência com os outros concubinatos em que vive em Ermesinde e em Sobrado, fazendo prolongar este estado de coisas para o ano de 2011. Tal triste coerência de atitudes, não pode deixar referida.
Lemos exaustivamente as declarações do PS nos últimos meses, quer as proferidas pelos seus vereadores nas três últimas reuniões, quer os comunicados oficiais, como tal publicados na imprensa, designadamente a opinião de um Senhor Vereador do PS publicada num periódico do passado dia 5 de Março de 2011. Há nelas um vastíssimo conjunto de afirmações que merecem ser recordadas.
Há perguntas que, neste momento, em nome duma memória que deve ser mantida, mesmo sabendo que não serão respondidas, não podem deixar de ser feitas ao PS:
- Quais são, de facto, e em toda a sua extensão, os termos do acordo que permitiu viabilizar o Plano de Saneamento Financeiro e os documentos estruturantes para 2011?
- Esse acordo estender-se-á, tácita ou expressamente, para os orçamentos e demais documentos de 2012 e 2013?
- As dúvidas sobre a real situação financeira, ao abrigo da qual o PS reclamava uma auditoria, estão sanadas?
- Se sim, qual o montante real da dívida de Valongo?
- Está o PS contra a criação de uma empresa municipal para gestão dos equipamentos desportivos?
- Na medida em que se oculta o passado, este acordo significa uma co-responsabilização do PS com uma política de “Quem vier a seguir que feche a porta”?
- O PS ainda considera que a proposta que agora viabiliza é um duro golpe no desenvolvimento no Concelho?
- O PS garante que, com esta sua atitude, passará a haver transparência na gestão da Câmara?
- Se sim, por que meios?
10. O PS deixou de ter dúvidas sobre a capacidade financeira da Câmara de Valongo para liquidar, anualmente, 3,5 milhões de euros de juros e amortizações, para além das outras prestações de empréstimos contraídos ao longo dos anos?
11. Mesmo sem a reclamada auditoria, o PS já tem uma real dimensão do problema que designou de verdadeira ruptura financeira de Valongo?
12. O PS deixou de considerar que o Plano de Saneamento Financeiro, que agora viabiliza, mais não é do que o primeiro passo para branquear gestões ruinosas ao longo de vários mandatos?
13. Acha o PS que já não é preciso parar para pensar, depois do rotundo fracasso que representou o estilo de gestão com expressão nos últimos anos?
14. Ou o PS já pensou tudo, desde o dia 7 de Março até hoje, tendo feito o trabalho de casa e preparado, assim, a Câmara para os desafios do futuro?
15. Com esta viabilização do PS, o concelho passou a ter um Plano Estratégico?
16. Na opinião do PS, o empréstimo de 25 milhões de euros já não é apenas um suporte para os desvarios do passado?
17. O PS, viabilizando o empréstimo de 25 milhões de euros, passou a querer salvar a face de quem conduziu a Câmara a este atoleiro?
18. O PS acha que, entre outras contrapartidas negociais, as transferências para as Juntas e o relvado sintético em Ermesinde estão em linha de coerência com o que está previsto no Plano de Saneamento Financeiro?
Os valonguenses esperam uma resposta. De preferência, antes das eleições de 2013. O vosso silêncio será também uma resposta.
De uma coisa estamos hoje mais certos. A Coragem de Mudar é a verdadeira e única oposição em Valongo.
Pedro Panzina