Ora bem...
Vamos lá ver se consigo teorizar um pouco sobre aquela que foi uma espécie de tataravó da minha máquina fotográfica - a Câmara Escura.
A Wikipédia - que para alguns é uma espécie de Bíblia - numa definição desta vez um pouco macarrónica, descreve-a da seguinte forma:
"Ela consiste numa caixa (ou também sala) com um buraco no canto, a luz de um lugar externo passa pelo buraco e atinge uma superfície interna, onde é reproduzida a imagem invertida."
A Wikipédia faz ainda entre outras, algumas referências pouco desenvolvidas sobre possibilidade da mesma já existir na China do século 5 aC ou ainda na Grécia de Aristóteles, do século 4 aC.
Desta vez, a Wikipédia não nos ajuda muito - nem seria suposto que o fizesse - a esclarecer o enigma de Valongo, que tem também - obviamente em versão moderna - a sua CÂMARA ESCURA.
Tal como a original, é composta por um corpo principal bem escuro por dentro e igualmente por um orifício através do qual vai passando alguma luz (pouca), mas seja porque o formato da nossa é demasiado volumoso, seja porque o buraco é grande demais, a imagem que se forma é muito difusa e não dá para perceber se a figura que aparece ao fundo, tal como acontecia na original, aparentando uma pessoa de idade, é quem nós pensamos ou pelo contrário, se trata de simples ilusão de óptica e corresponde de facto a alguém mais jóvem que ali conclui o seu MBA (Master of Business Administration), perdão, o seu MAC - Mestre em Administração de Câmaras, para adoptarmos a designação aportuguesada e adaptada ao contexto, preparando desde já a tomada (por dentro) do poder antes que possa ser abocanhado daqui a uns meses por muitos elementos famintos do mesmo rebanho - para já não falar dos rebanhos da concorrência.
Inclino-me mais para esta hipótese, até porque o senhor de idade já poucas vezes circula pelos passos perdidos da CÂMARA ESCURA, preparando talvez a sua próxima aposentação, o que implica seguramente muita arrumação e muita queima de arquivos, as quais devem ser feitas com todo o rigor científico e com a ajuda de quem perceba, porque tantos anos de gestão autárquica implicam muitas decisões, umas questionáveis outras também e nos tempos que correm, face aos enormes avanços da ciência forense, até as cinzas daquilo que incineramos falam e conseguem contar coisas sobre a nossa vida e os nossos comportamentos mais comprometedores e inconfessáveis.
É que a partir de uma certa altura do desenvolvimento tecnológico, sobretudo na era mais recente da Internet, tu escreves, digitalizas, trocas e-mails com amigos e inimigos e depois, seja por desconhecimento ou simples descuido, quando acreditas que em relação àqueles mais comprometedores já resolveste o problema com o habitual "delete" ou com a formatação do disco rígido e a reinstalação do sistema operativo, vais encontrá-los de repente por aí a pairar no espaço, autênticas espadas de Dâmocles sobre a tua cabeça despreocupada, porque - julgavas tu - tinhas feito uma limpeza rigorosa, tinhas sacudido o tapete (do rato), tinhas vasculhado o fundo de todas as gavetas do computador pessoal e afinal, como no anúncio do algodão que não engana, muito lixo tinha ficado para trás.
O pior, é quando essa constatação é feita apenas na altura em que tu és visitado de forma inesperada por aquela equipe pluridisciplinar de polícias mal vestidos e com ar de marginais, que normalmente traz sempre consigo um ou mais elementos com aspecto de cromos de ar lunático e de quem nunca terá visto um computador à sua frente, mas que depois, com a paciência de quem esgravata os resíduos domésticos à procura da peça que deixou o talher desirmanado, vão vasculhando nas várias camadas do disco rígido e encontram esqueletos e mais esqueletos que conseguem pôr a falar e a contar histórias sobre ti.
Essa é a altura em que ficas sem pinta de sangue e já só te apetece deitar a fugir, embora saibas também, que isso não te levaria a lado nenhum.
Mas para além dos raides dos melgas da polícia que normalmente já trazem um esquema de busca pré elaborado com base em informações recolhidas de várias fontes, há ainda aquelas incursões que resultam apenas do facto de em determinada altura os cidadãos se cansarem do nepotismo, da corrupção, do favorecimento ilícito de serem tratados abaixo de cão sempre que têm necessidade de interagir com a autarquia e resolverem - para usar uma engraçada expressão brasileira - "lançar meleca no ventilador". Quando isso acontece, normalmente é o desastre total, pois tudo o que fede e compromete fica colado em paredes e tectos não dando muitas vezes tempo para que se faça uma limpeza rápida que impeça o registo visual da porcaria, sendo que quem comete este tipo de atentados contra a salubridade, para agravar o problema, telefona previamente para a CIA, para o MFA, para a ASAE, para o New York Times - ou até mesmo para o pasquim do bairro - a anunciar que o vai fazer.
Aí sim, tu começas a perceber que está tudo perdido e - antecipando-te à ordem que sabes vai ser proferida - começas a pôr os braços atrás das costas, a jeito para acolherem as algemas regulamentares.
Depois... Bem depois, é a vez dos advogados fazerem o que lhes compete e se tiverem competência bastante, até podes ser apenas mais um daqueles presos de robe e chinelos com direito a uma pulseira feita de materiais não preciosos e paga pelos contribuintes.
E agora perguntarão: "mas o que é que isso tem a ver com a história da CÂMARA ESCURA de Valongo?".
E perguntam muito bem, porque assim de repente, parece não existir qualquer ligação plausível. A verdade porém, é que há:
É que a figura difusa lá ao fundo - lembram-se? - é afinal a do aprendiz de Presidente, ou seja aquele que está na fase final do seu MAC (Mestre em Administração de Câmaras) e sobre o qual muita tinta ainda há-de correr neste e noutros espaços blogosféricos...