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A TERRA COMO LIMITE...

UM ESPAÇO ONDE ESCREVEREI SOBRE TUDO, SOBRETUDO, SOBRE TUDO QUE SEJA CAPAZ DE CAPTAR A MINHA ATENÇÃO. UM ESPAÇO ONDE O LIMITE NÃO LIMITA - APENAS DELIMITA.

A TERRA COMO LIMITE...

UM ESPAÇO ONDE ESCREVEREI SOBRE TUDO, SOBRETUDO, SOBRE TUDO QUE SEJA CAPAZ DE CAPTAR A MINHA ATENÇÃO. UM ESPAÇO ONDE O LIMITE NÃO LIMITA - APENAS DELIMITA.

VALONGO NA HORA DA DESPEDIDA - ENTRE OS APLAUSOS E... A FALTA DELES.

Fernando Melo despediu-se hoje dos valonguenses - formalmente, porque na prática já o tinha feito há muito!

Impõe-se aqui a pergunta habitual destes momentos: 

E agora?

Para aqueles que consideram que os seus mandatos representaram para Valongo anos de progresso, ficará seguramente uma sensação de orfandade - sobretudo aqueles para quem ele sempre constituiu a asa protectora, a 'rede' que os defendia das quedas indesejáveis.

Esses vão ser os primeiros a descobrir como são diferentes o salto ou a escalada com ou sem rede.

Para os outros, aqueles que sempre consideraram a gestão de Fernando Melo como o 'desastre de Valongo' o 'cancro' que corroeu o nosso Concelho até à medula, este ficará na história, como 'o problema' e nunca como ' a solução'.

O dia de hoje foi portanto dia de elogios, de despedida e de declarações de 'fidelidade eterna', por parte da minoria que governa  e de simples despedida feita com a urbanidade de circunstância para os restantes.

Houve aplausos de pé da parte minoritária da mesa e de uma parte do público e silêncio sentado por parte dos restantes - que não estávamos em nenhum funeral em que por norma todos devam estar tristes e com ar abatido, mesmo aqueles que em vida tivessem mais razões de queixa do morto...

Fizemos parte dos últimos obviamente, porque nada nos obriga a considerá-lo como alguns fizeram, aquilo que nunca foi: um grande homem e um grande autarca.

E para ele, até é bom que continuemos a poder expressar esta opinião por muitos e bons anos - sinal de que continuará vivo.

É que uma grande parte dos 'grandes homens' só o foram depois da vida!

Mas resta ainda por responder, a pergunta inicial:

E agora?

Vamos ter um Presidente de corpo inteiro a 'dar o peito às balas' que vão chover de todos os lados?

Vamos ter finalmente - agora que Relvas abriu os cordões à bolsa(?) - o empréstimo previsto no (mau) plano de saneamento financeiro viabilizado pelo PS, que possibilite a elaboração do Orçamento, ou vamos continuar com os duodécimos pequeninos?

E o novo Presidente vai arcar com todo o trabalho pesado sobre os seus ombros, ou vai distribuir pelouros em áreas que ficaram recentemente 'desertas'?

E nesta última hipótese, quem serão os 'eleitos'?

E a Câmara, será que vai devolver ao Presidente as competências retiradas a Fernando Melo, ou vai continuar tal como está, a discutir tudo colegialmente, incluindo questões 'transcendentes' do género 'Declaração de caducidade de processo de obras, declaração de caducidade de licença administrativa, concessão de licença de exploração de máquina de diversão', etc., etc.,? 

É que muito daquilo que João Paulo Baltazar fizer nas próximas semanas, irá inevitavelmente sinalizar o caminho que conduzirá às 'distantes eleições'!

 

publicado às 11:55

RELVAS - UM MINISTRO QUE APRECIA MOZART?

Aquela aglomeração - embora ordenada - de artigos, pomposamente designada de Lei nº 22/2012, que hoje foi publicada no Diário da República, pode ter passado no 'crivo' de malha larga do Presidente da República.

Poderia até passar, se a tanto chegasse a decência de quem tinha a obrigação de a levar lá, na malha um pouco mais fina do Tribunal Constitucional.

Poderia.

Mas será que mesmo que todas essas 'validações' tivessem sido asseguradas, o dito 'aglomerado de artigos ordenados' deixaria de ser uma completa aberração jurídica e um autêntico atentado contra as mais básicas regras da democracia?

É verdade que a democracia não existe sem leis, mas o que separa esse princípio basilar e a lei estúpida, sem sentido, sem a preocupação de auscultar o pulsar do coração do Povo,  baseada numa 'matriz' autoritária de má memória, é abissal! Esta lei fez o percurso todo sem que ao seu autor tivesse ocorrido que 'talvez' tivesse valido a pena ouvir os interessados nos efeitos nefastos que resultarão da sua aplicação, ponderando todas as críticas, valorizando o significado daquela imensa manifestação de Lisboa, valorizando ao fim e ao cabo, tudo o que deve servir para formatar as leis justas!

Em determinada altura do processo, alguém disse que se tratava de uma reestruturação feita a 'regra e esquadro'.

Eu acho que foi mais a 'compasso e esquadro' no decurso de um daqueles rituais secretos em que alguns dos nossos governantes gostam de participar.

Resta saber em qual das 'lojas' terá ocorrido e se a música de Wolfgang Amadeus Mozart terá tido algo a ver com a inspiração dos escrevinhadores do articulado legal.

E para que o bolo não ficasse sem a cereja do costume no respectivo topo, Relvas 'libertou' o Povo da maçada de longas e fastidiosas discussões em sede de Assembleias Municipais e de Freguesia - Valongo vai ter de passar por esse processo - criando uma 'UNIDADE TÉCNICA' (?) verdadeiramente 'exemplar' em termos de independência, logo de imparcialidade:


(...)

2 — A Unidade Técnica é composta por:
a) Cinco técnicos designados pela Assembleia da República, um dos quais é o presidente;
b) Um técnico designado pela Direcção-Geral da Administração Local;
c) Um técnico designado pela Direcção-Geral do Território;
d) Cinco técnicos designados pelas comissões de coordenação e desenvolvimento regional (CCDR), um por cada uma, sob parecer das respectivas comissões permanentes dos conselhos regionais;
e) Dois representantes designados pela Associação Nacional de Municípios Portugueses;
f) Dois representantes designados pela Associação Nacional de Freguesias.
3 — Os técnicos designados pelas CCDR só podem participar e votar nas deliberações relativas a municípios que se integrem no âmbito territorial da respectiva CCDR.
4 — As designações previstas no n.o 2 devem ser comunicadas à Assembleia da República no prazo de 20 dias após a entrada em vigor da presente lei.


República das Bananas talvez não seja uma abstracção que se costuma mencionar apenas por piada.

Talvez exista mesmo uma 'república' com esse nome...

 

publicado às 22:11

LEI Nº. 22/2012 - PRIMEIRO PASSO PARA A 'GRANDE AUTARQUIA DE LISBOA'

Agora já está - versão integral AQUI...

Relvas finalmente - e apesar de 'debilitado', segundo alguns analistas geralmente bem informados -  'deu à luz'!

Para alguns a recem-nascida é (apenas) o meio termo entre a 'Grande autarquia de Lisboa', agregando a totalidade das freguesias do País e a situação anterior.

Relvas continuará no entanto a sonhar e a trabalhar para construir um 'País' formatado à sua imagem e semelhança - se entretanto não sair do governo.

A 'pimpolha' irá passar ainda algum tempo nos cuidados intensivos neonatais, assistida pela Unidade Técnica para a Reorganização Administrativa do Território, uma designação pomposa para um Órgão que terá por 'funções' garantir o cumprimento da vontade do ministro desde que não sejam ultrapassados os limites por ele definidos para uma razoável 'abertura' - "protestem, barafustem, façam abaixo-assinados, que é para o lado que eu durmo melhor".

 

 

publicado às 12:58

VALONGO - 'A VITÓRIA DE TODOS-1'...

Não fosse a crise que nos atormenta, não fosse a pequenez dos duodécimos com que por enquanto os valonguenses vão ter que se governar, rectifico, de serem governados, não fossem as incertezas que resultam da 'pequenina chantagem' de Miguel Relvas - verdadeiramente à medida do seu autor - que transformam a linha de crédito às Câmaras numa espécie de 'presente envenenado' e até se poderia justificar que fosse servido aos valonguenses do costume que vão estar na próxima reunião pública de Câmara - dia 31 de Maio pelas 10 horas e que não costumam ser muitos - um singelo 'Porto de honra'!

Pela primeira vez desde há muito, que Valongo tem razões para comemorar:

A partir de 31 de Maio de 2012, 'A Vitória de Todos' passará a ser 'A Vitória de todos - 1'!


 

publicado às 22:36

RELVAS, A LINHA DE CRÉDITO E A 'CHANTAGEM'...

Desde ontem - mais ou menos por esta hora - que muitos empresários que estão 'a arder' com muitos milhões resultantes do despesismo insensato dos últimos anos de Fernando Melo, das festas, festinhas e festivais - pimba, rock, folclore e outros géneros que tais - dos almoços pagos e não documentados, onde nem uma 'certa oposição' era esquecida, devem ter visto renascer alguma esperança no pagamento dos 'calotes' - ou pelo menos de uma parte significativa dos mesmos.

 

Eu no lugar deles, não estaria assim tão animado e a dar-me razão, estão as reticências da Associação Nacional de Municípios Portugueses, no final do acordo. Fernando Ruas encontrou um eufemismo para o facto de não o considerar um bom acordo: "evidentemente que não estamos aqui com um sorriso rasgado (...)".

 

De qualquer forma, no caso de Valongo, 'a procissão ainda nem sequer vai no adro', pois um mau plano de saneamento financeiro - assim considerado pelo Tribunal de Contas por duas vezes - não passará a ser o seu contrário para o governo, sobretudo nesta fase de permanente e cerrada vigilância da troika.

 

Para quem não tenha percebido as verdadeiras razões da saída de Fernando Melo 'pela esquerda baixa', ele não se vai embora 'por estar cansado, por já não gostar de ser presidente, por já ter algumas dificuldades de locomoção' coisa nenhuma!

 

Vai-se embora, porque não tem respostas - nem dinheiro - para os amigos a quem foi fazendo despesa mandando 'pôr no livro'.

 

Vai-se embora, porque já não pode fazer aquilo de que mais gostava: inaugurar obras de fachada! Agora, com a crise que veio para ficar, já nem 'fitas privadas' consegue cortar...

 

Mas quem tem mesmo muitas razões para estar preocupado com este acordo de última hora é o valonguense comum:

 

No dia em que a Câmara conseguir transformar aquela vergonha de plano de saneamento financeiro num documento aceitável que possa suportar o empréstimo do governo, vai ter que se haver com a 'chantagem' feita por Relvas para abrir os cordões à bolsa:

 

Aumentos no IMI, na água, no saneamento e recolha de resíduos, nas habituais derramas e sei lá que mais. Tudo para o máximo que a lei permita! E para aquelas Câmaras que já interpuseram providências cautelares em relação ao IMI ou que estavam a equacionar ainda fazê-lo, 'nem pensem nisso - disse Relvas - ou as retiram, ou não há emprestimozinho!'

 

publicado às 20:43

TRANSPORTE DE DOENTES NÃO URGENTES...

 

Uma das 'regras de ouro' dos últimos governos visando a contenção da despesa pública 'na defesa do Serviço Nacional de Saúde', consiste em cortar em tudo que, possa embora parecer essencial, ou mesmo sendo-o de facto, tenha em contrapartida a 'vantagem' de mexer apenas ou quase só com pessoas sem capacidade reivindicativa.


Aliás, de tão habituados a tirar o chapéu quando os senhores doutores do governo falam deles e de tudo de bom que por eles vão fazendo, os visados pelos cortes, chegam até a ficar convencidos de que os sacrifícios que lhes impõem são uma inevitabilidade, uma consequência da "tal crise" de que ouvem falar em todos os quatro canais que a televisão digital terrestre lhes 'vendeu' - é o termo exacto, depois de terem sido obrigados a comprar aquela 'coisa' chamada descodificador...


Um dos cortes desde já anunciados, é aquele que tem a ver com o transporte de 'doentes não urgentes'.


O Hospital fica a mais de uma dezena de quilómetros? Paciência! Alguém com bom coração e (ainda) com dinheiro para a gasolina do carro e que por feliz acaso tenha de se deslocar para aquelas bandas, há-de representar a solução.


Mas também, mesmo que a gasolina falte, que o carro enguice, que não haja ninguém a ter de ir para os lados do Hospital, restará sempre a solução de 'transporte colectivo' destes novos tempos de crise: Três burros 'ligados em série' à maneira dos electricistas e de que a fotografia acima é um exemplo.


Um deles, monta-o a Ti'Arminda, a condutora e que também vai a uma consulta "por causa do coração que não anda bem" e os outros dois, podem resolver o problema do exame à próstata do Ti'Otílio e das análises e da radiografia aos pulmões da Ti'Adelina.


A Ti'Arminda é solidária e por isso vai fazer dois pequenos desvios para os pegar nos respectivos casebres onde moram e onde iriam ficar resignados à espera de melhores dias para os ditos exames.


Com um pouco de sorte do senhor Herculano da funerária da Vila - a sorte de uns é a má sorte de outros - não fosse a bondosa Ti'Arminda e talvez nem viessem a precisar da deslocação.


Retalhos do País real, de um País em crise profunda - que no entanto, não é para todos, mas apenas para aqueles que não a podem evitar, nem aos nefastos efeitos e ao sofrimento atroz que a sua passagem provoca aos mais frágeis e desprotegidos. Este País não é para velhos  - sobretudo, velhos doentes e pobres!

 

publicado às 21:29

CITANDO JOSÉ ANTÓNIO BARREIROS - A TRAPEIRA DE JOB...

Vale a pena ler este excelente texto do meu amigo e ilustre advogado Dr. José António Barreiros publicado no seu Blog 'A Revolta das Palavras'.

Diz muito - quase tudo - sobre o caminho que nos trouxe até a este estado de decadência, talvez menor que aquela que justificou - segundo relata o Velho Testamento - que Deus tivesse mandado destruir Sodoma:

Mas talvez antes de o lermos, se justifique que dispensemos uns minutos a visitar a página da Rádio Sempre (profissionais da antiga Rádio Moçambicana) e ouvi-lo pela voz da jornalista Dina Maria.

Vivemos divididos entre a parte imbecil do futebol e a imbecilidade total das novelas da noite, antecedidas da outra que passa em todos os canais, sobre os amigos espiões de Miguel Relvas e sobre se este - aceitam-se apostas - se aguenta nas canetas e continua no governo.

Já não era pequena a dose, mas mesmo assim, ganhamos ainda uma mais recente sobre o novo escândalo que envolve o Vaticano e que já levou à prisão do mordomo do Papa - ver AQUI - que seguramente ainda vai ter muitos episódios 'interessantes' para debater à mesa do café, entre o pastel de nata contrafeito e o galão aguado.

E com tantos conteúdos de entretenimento, 'lá vamos cantando e rindo' até ao próximo resgate da troika - será que ainda vivos?

Obrigado meu querido amigo Dr. José António Barreiros - por escrever tão bem e nos 'contaminar' com a sua Revolta das Palavras de que eu sou um fiel seguidor.


Houve um tempo em que, nos lares, se aproveitava para a refeição seguinte o sobejante da refeição anterior, em que, com ovos mexidos e a carne ou peixe restante, se fazia "roupa velha". Tempos em que as camisas iam a mudar o colarinho e os punhos do avesso, assim como os casacos, e se tingia a roupa usada, tempos em que se punham meias-solas com protectores. Tempos em que ao mudar-se de sala se apagava a luz, tempos em que se guardava o "fatinho de ver a Deus e à sua Joana".

E não era só no Portugal da mesquinhez salazarista. Na Inglaterra dos Lordes, na França dos Luíses, a regra era esta. Em 1945 passava-se fome na Europa, a guerra matara milhões e arrasara tudo quanto a selvajaria humana pode arrasar.

Houve tempos em que se produzia o que se comia e se exportava. Em que o País tinha uma frota de marinha mercante, fábricas, vinhas, searas.

Veio depois o admirável mundo novo do crédito. Os novos pais tinham como filhos uns pivetes tiranos, exigindo malcriadamente o último modelo de mil e um gadgets e seus consumíveis, porque os filhos dos outros também tinham. Pais que se enforcavam por carrões de brutal cilindrada para os encravarem no lodo do trânsito e mostrarem que tinham aquela extensão motorizada da sua potência genital. Passou a ser tempo de gente em que era questão de pedigree viver no condomínio fechado, e sobretudo dizê-lo, em que luxuosas revistas instigavam em couché os feios a serem bonitos, à conta de spas e de marcas, assim se visse a etiqueta, em que a beautiful people era o símbolo de status, como a língua nos cães para a sua raça.

Foram anos em que o Campo se tornou num imenso ressort de Turismo de Habitação, as cidades uma festa permanente, entre o coktail party e a rave. Houve quem pensasse até que um dia os Serviços seriam o único emprego futuro ou com futuro.

O país que produzia o que comíamos ficou para os labregos dos pais e primos parolos, de quem os citadinos se envergonhavam, salvo quando regressavam à cidade dos fins de semana com a mala do carro atulhada do que não lhes custara a cavar e às vezes nem obrigado.

O país que produzia o que se podia transaccionar, esse, ficou com o operariado da ferrugem, empacotados como gado em dormitórios, e que os víamos chegar mortos de sono logo à hora de acordarem, as casas verdadeiras bombas-relógio de raiva contida, descarregada nos cônjuges, nos filhos, na idiotização que a TV tornou negócio.

Sob o oásis dos edifícios em vidro, miragem de cristal, vivia o mundo subterrâneo de quantos aguentaram isto enquanto puderam, a sub-gente. Os intelectuais burgueses teorizavam, ganzados de alucinação, que o conceito de classes sociais tinha desaparecido. A teoria geral dos sistemas supunha que o real era apenas uma noção, a teoria da informação substituía os cavalos-força da maquinaria pelos megabytes de RAM da computação universal. Um dia os computadores tudo fariam, o Ser-Humano tornava-se um acidente no barro de um oleiro velho e tresloucado que, caído do Céu, morrera pregado a dois paus, e que julgava chamar-se Deus, confundindo-se com o seu filho e mais uma trinitária pomba.

Às tantas, os da cidade começaram a notar que não havia portugueses a servir à mesa, porque estávamos a importar brasileiros, que não havia portugueses nas obras, porque estávamos a importar negros e eslavos.

A chegada das lojas-dos-trezentos já era alarme de que se estava a viver de pexisbeque, mas a folia continuava. A essas sucedeu a vaga das lojas chinesas, porque já só havia para comprar «balato». Mas o festim prosseguia e à sexta-feira as filas de trânsito em Lisboa eram o caos e até ao dia quinze os táxis não tinham mãos a medir.

Fora disto, os ricos, os muito ricos, viram chegar os novos ricos. O ganhão alentejano viu sumir o velho latifundário absentista pelo novo turista absentista com o mesmo monte mais a piscina e seus amigos, intelectuais, claro, e sempre pela reforma agrária, e vai um uísque de malte, sempre ao lado do povo, e já leu o New Yorker?

A agiotagem financeira, essa, ululava. Viviam do tempo, exploravam o tempo, do tempo que só ao tal Deus pertencia, mas, esse, Nietzsche encontrara-o morto em Auschwitz. Veio o crédito ao consumo, a Conta-Ordenado, veio tudo quanto pudesse ser o ter sem pagar. Porque nenhum Banco quer que lhe devolvam o capital mutuado, quer é esticar ao máximo o lucro que esse capital rende.

Aguilhoando pela publicidade enganosa os bois que somos nós todos, os Bancos instigavam à compra, ao leasing, ao renting, ao seja como for desde que tenha e já, ao cartão, ao descoberto-autorizado.

Tudo quanto era vedeta deu a cara, sendo actor, as pernas, sendo futebolista, ou o que vocês sabem, sendo o que vocês adivinham, para aconselhar-nos a ir àquele Balcão bancário buscar dinheiro, vendermo-nos ao dinheiro, enforcarmo-nos na figueira infernal do dinheiro. Satanás ria. O Inferno começava na terra.

Claro que os da política do poder, que vivem no pau de sebo perpétuo do fazer arrear, puxando-os pelos fundilhos, quantos treparam para o poder, querem a canalha contente. E o circo do consumo, a palhaçada do crédito servia-os. Com isso comprávamos os plasmas mamutes onde eles vendiam à noite propaganda governamental e, nos intervalos, imbelicidades e telefofocadas, que entre a oligofrenia e a debilidade mental a diferença é nula. E, contentes, cretinamente contentinhos, os portugueses tinham como tema de conversa a telenovela da noite, o jogo de futebol do dia e da noite e os comentários políticos dos "analistas" que poupavam os nossos miolos de pensarem, pensando por nós.

Estamos nisto.

Este fim-de-semana a Grécia pode cair. Com ela a Europa.

Que interessa? O Império Romano já caiu também e o mundo não acabou. Nessa altura, em Bizâncio, discutia-se o sexo dos anjos. Talvez porque Deus se tivesse distraído com a questão teológica, talvez porque o Diabo tenha ganho aos dados a alma do pobre Job na sua trapeira. O Job que somos grande parte de nós.

 

publicado às 14:32

EXISTEM ELOS QUE SÓ A MORTE CONSEGUE QUEBRAR...

Hoje foi um dia diferente...

Os jovens que agora têm a sorte de não verem a sua vida de estudo ou profissional interrompida por um período de serviço militar obrigatório - que no caso de incluir uma comissão nas ex-colónias, podia chegar aos quatro anos, como foi o meu caso - dificilmente conseguirão entender a ambiência muito especial que costuma caracterizar os múltiplos encontros quase sempre anuais que os ex-combatentes costumam realizar por esse País fora.

Hoje foi o dia da Companhia de Artilharia 2746.

Em cada ano um pouco mais velhos, às vezes registando com tristeza a notícia sobre alguns ausentes com cuja presença nunca mais poderemos contar, apesar de tudo, hoje todos pudemos constatar como é ainda imensa aquela reserva de alegria que nos fez recordar os momentos melhores, ou para sermos mais rigororosos, os menos maus, que o poder iníquo que na altura punha e dispunha sobre as nossas vidas nos obrigou a viver.

No nosso caso, recordamos Moçambique e Cabo Delgado e uma vida de muitas privações vivida entre 1970 e 1972.

E a esta distância, esquecendo os achaques que a uns mais a outros menos, já nos vão afectando, foram momentos bem passados num dia de fraterno convívio.

Verdade seja dita, a presença de muitas companheiras e muitos filhos e netos ajudaram na animação - alguns e algumas ouvindo-nos provavelmente falar pela enésima vez daquele episódio mais caricato,  daquela situação mais complicada enfrentada e resolvida com sucesso, daquela conversa brejeira sobre epísódios de 'interacção racial' jamais abordados com as companheiras fora destes contextos...

Foi Bom! Foi na Torreira, no Hotel Restaurante Jardins da Ria e de parabéns pelos bons momentos proporcionados - com muita gula integralmente saciada  à mistura - está o alferes Pinho - alferes? já devia ser no mínimo,  general na reserva!

Teve obviamente algumas ajudas que não passaram despercebidas: das simpatiquíssimas esposa e filha e do 'eléctrico' Mendes...

Só mesmo nós e os nossos familiares mais directos conseguimos 'entrar' no verdadeiro âmago destes momentos mágicos!

Já agora - e garanto que não ganho nada com a publicidade! - recomendo vivamente a outros ex-combatentes, quer o local, quer o serviço, quer ainda o preço do qual me dispenso de falar, mas que está significativamente abaixo do de muitas iniciativas idênticas que conheço.

 

publicado às 22:23

'BÁCOROS' ESFOMEADOS NECESSITAM DE UM ÚBERE FÉRTIL...


Este arremedo de País em que transformamos a Pátria que nos legaram os nossos ilustres - e em muitos casos muito heróicos - antepassados, começou por ser uma espécie de rectângulo de contornos algo irregulares e com uns 'adereços' à volta, a que chamávamos 'províncias ultramarinas', mas que em boa verdade nunca foram nossos porque não os herdamos de ninguém nem nos foram oferecidos - com excepção de Macau - por quem quer que fosse.

Agora, os contornos do pátrio território continuam a ser rectangulares, mas como os tempos 'evoluíram' a forma é agora tridimensional e assemelha-se a uma avantajada gamela capaz de conter a ração que alimenta a 'porca de criação', bem dotada de tetas e de um avantajado úbere onde cabem à vontade 230 'bácoros' famintos capazes até de devorarem as entranhas da Pátria no dia em que o 'sumo' da porca já não os satisfizer.

Curioso mesmo, é apesar de conviverem no mesmo espaço 'espécies' aparentemente antagónicas, serem capazes de o dividir e partilharem a chafurdice que fazem, na sua luta pela sobrevivência mantendo-se no essencial, todos de acordo quando se trata de consensualizar o acesso às tetas e ao úbere.
publicado às 23:43

OS DEVORISTAS - CITANDO O DR. JOSÉ ANTÓNIO BARREIROS...

Bem oportuno o artigo que se segue e publicado no Blogue do meu ilustre amigo José António Barreiros "A  REVOLTA DAS PALAVRAS":


 

 

A crise de valores morais num País atinge-se quando ante a imoralidade já ninguém reage. A crise dos valores num País chega quando já ninguém está seguro de quem diz a verdade. Senti isto esta manhã ao ler, atrasado já, a notícia sobre o custo das refeições que se pratica no Parlamento. Veio revelada num jornal, aqui, mas a fonte terá sido o blog Má Despesa Pública, que sucessivamente publicou notícias sobre isso aqui e aqui e também aqui. O blog Porta da Loja, adita aqui, mais elementos.
Não vou transcrever o que dizem essas revelações. Peço apenas que leiam. Eu sei que temos todos pouco tempo, mas perdemos tanto tempo em coisas sem interesse. Ademais o dia de hoje está murcho. É uma visita guiada ao nojo, previno. Já agora, confira aqui, no site da Assembleia da República.

Cada um dos que lerem sabe o estado em que está o País, o estado de carência económica, a fome. Os deputados também sabem. Sabem que podem pagar, que devem pagar refeições que não sejam àquele escandaloso preço. Sabem que aquelas ementas requintadas são de restaurantes "gourmet", e que as refeições que no Parlamento se sirvam a preço bonificado devem ser dignas mas frugais, por serem refeições em local de trabalho. Sabem que a diferença entre o luxo que usufruem e o preço que pagam é suportado pelos contribuintes que somos todos nós outros. Sabem que comparando com o que estão a penar milhares e milhares de portugueses, aquele requinte sumptuário mais do que um escândalo é uma provocação.

Os deputados sabem isto tudo mas não se importam. Sabem que fazem parte de um sistema político que ofende o nome da democracia chamando-se democracia. Sabem que integram uma longa família de privilegiados que, em rotativismo permanente, vêm ocupando o poder, com umas franjas irrelevantes para os que estejam fora do sistema. E mesmo quanto a esses sabem que a lei do come e cala-te ainda é a grande lei para os comprometer, comprando-lhes o compromisso.
Os deputados, os governantes, aqueles que a política eleva a cargos e coloca em altas funções sabem que estão por cima de um estábulo de mansos bois que é o que resta do Povo português, que rumina sobre a palha seca do dia a dia e se conforma a mugir lugubremente o fadinho da pouca sorte.
Comensais do luxo, ruminantes da sem-vergonha, cevantes do aproveitanço, na hora da digestão nem uma crise de consciência os afectará, quantos folheando jornais já no hemiciclo, tantos passeando na net, nos intervalos do instante fugaz do «bate rabo» do quem vota a favor, quem vota contra, quem se abstém, a ladainha sonolenta sobre o trabalho legislativo em que pouquíssimos trabalham e em que se vota como o partido manda votar, tantos por cabeça.
Não, os deputados frequentadores dos restaurantes parlamentares não têm  disso que lhes atrapalhe a gorja, aflija as entranhas, amargue o fígado, gazeei as tripas. É que a deputação nacional terá seguramente sanitários adequados em que, com trânsito regular dos que querem lá saber, exprimem, vindo do eu íntimo, o que sentem quanto a todos nós.
Um dia, um dia estou certo, quando os famintos cercarem o hemiciclo para porem termo, a pontapé que seja, à grande bouffe desta imoralidade nojenta, talvez os apanhem com as calças na mão.
publicado às 12:10

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