'Eu ainda sou do tempo' em que uma empresa era uma espécie de 'família alargada' onde o patrão, podendo embora ter por vezes aquele acesso de mau feitio de que não gostávamos - mas os nossos pais não o tinham também quando a paciência escasseava face ao acumular dos nossos erros? - nunca nos faltava, tal como aqueles, nas horas do aperto.
Não que Karl Marx não tivesse razão quando escreveu 'O Capital' (Das Kapital em alemão) mas embora o patrão tivesse de facto como objectivo o lucro, na fase da minha juventude, essa forma de exploração já não se fazia da mesma forma selvagem de outros tempos.
Até nas grandes empresas - às vezes muito grandes mesmo - o trabalho viveu anos de relativa 'democratização' de balanceio relativamente pacífico entre direitos e deveres e sobretudo - aqui 'a diferença que faz a diferença' em relação aos tempos actuais - as relações de trabalho ainda não tinham sido contaminadas pela entrada no processo, do perigoso predador chamado capital financeiro.
A partir desse momento (não foi bem um momento mas antes um longo período em que se foi introduzindo de forma insidiosa) os países - sim porque este processo é verdadeiramente 'internacionalista' - foram perdendo soberania, as empresas passaram a ser meros joguetes nas mãos dos homens da roleta e os governos deixaram de, bem ou mal, representarem (apenas) o Povo. Antes, quando o faziam mal o Povo substituía-os por outros e assim sucessivamente até obter um relativo sucesso na escolha, agora a escolha é quase indiferente, pois todos à sua maneira, serão fiéis representantes dos predadores, passando a constituir simples marionetas nas mãos deles.
O que se passa em Portugal agora, não surgiu do nada, como não surgiu também na Grécia, na Irlanda, em Chipre e nos outros Países que se seguirão.
E nesta trituradora gigante em que o mundo se transformou, os cidadãos deixaram de contar, os países deixaram de ser Estados e de serem delimitados pelas suas linhas de fronteira mas apenas pelo extensão da sua dívida versus capacidade de a pagar no mais curto prazo possível.
"E se isso significar a aniquilação física de uma parte significativa da sua população, nem por isso deve deixar de ser feito, porque é para 'salvar' a outra parte e outros já o fizeram no passado por motivos menos 'nobres', como por exemplo para preservar a predominância de uma raça e blábláblá".
Vem isto a propósito de quê? Ah! já me lembro:
Como alunos aplicados, a nova geração de patrões rapidamente evoluiu para a categoria de caniches amestrados, dos governantes, eles que se transformaram também em buldogues do 'internacionalista' capital financeiro.
Valongo não podia escapar ao fenómeno. A trituradora não nos poupou e por via dela, o sofrimento alastrou, as falências dos patrões que apesar da exploração cada vez mais intensiva e selvagem do seu principal 'capital' - o trabalho - deixavam de poder fazer as entregas periódicas aos usurários foi transformando em esqueletos, edifícios inteiros antes designados de 'Fábrica de xpto', 'Oficina de não sei o quê', 'Gabinete de não sei quantos'.
As Obras públicas antes artificialmente prósperas perderam o gás que enchia a bolha e fizeram 'ploff', a autarquia deixou de receber os fluxos antes imaginados como eternos, as silvas e o mato foram fazendo o que podiam para encobrir as desgraças - veja-se a chamada Zona Industrial do Barreiro em Alfena, só para dar um exemplo...
Mas há tempos, surgiu uma luz ao fundo do túnel, muito ténue, tanto que nem a conseguíamos enxergar, mas como na história do rei que ia nú, não quisemos fazer má figura: "Ah! pois estou a ver (estávamos lá a ver alguma coisa!), sim sim o PAEL! Claro que sei o que é!" - aqui não fingíamos, pois sabíamos bem o que era e para o que serviria nesta altura em que se aproximam eleições!
Mas o PAEL em Valongo não bate certo com a sigla!
Em Valongo, há dívidas que estão a ser pagas a empresas que fecharam portas, que viraram 'camaleões', que venderam instalações e maquinaria, mas que mesmo assim - "e porque não, pergunta o devedor agora pagador?" - recebem o respectivo cheque para depois desaparecerem esquecendo-se de o dividir com os seus credores, outrora quase 'família alargada'.
Não sei se isto é respeitar a Lei - se calhar até é, porque conhecendo alguns mentecaptos que viraram legisladores, tudo é possível - mas que é IMORAL, lá isso é!
Será que a Câmara de Valongo não tem o direito - o DEVER! - antes de passar o cheque, de ver qual é a situação social da 'Fábrica xpto', da 'Sociedade de Empreitadas e Construções", da 'Oficina de não sei o quê'?
Se eu fosse presidente da autarquia, era o que faria - sobretudo, se estivesse interessado em ganhar os votos dos valonguenses nas próximas eleições...