Ricardo Bexiga, um 'suburbiano' por inerência e interesses conexos, é apenas um entre muitos exemplos de que o dom da ubiquidade existe de facto entre os políticos - no caso concreto, os políticos que fazem leis e as usam também como ferramentas de trabalho do seu dia a dia.
Advogado/ajustador directo com a Câmara de Valongo/accionista da Quaternaire Portugal / deputado da Nação / socialista Socratista / Segurista / Costista (neste último caso, por absoluta e óbvia conveniência) ele é um notável empreendedor capaz de agregar à sua actividade principal um sem número de outras, separadas por barras oblíquas (/) - ou slash para usara a terminologia anglófona que cai sempre bem nestas circunstâncias.
E é claro que facturando em todas elas, alguma presença efectiva ele deve garantir junto de cada um dos clientes, penso eu... Ficamos é sem saber qual de entre todas é a que se encontra imediatamente à esquerda da primeira slash, ou seja, a principal...
Parece no entanto que nos últimos dias, para além de mim e de mais uns quantos milhões de portugueses, a sub-comissão de ética da Assembleia da República resolveu também ela duvidar do referido 'dom' da ubiquidade - em relação a ele e a mais alguns da mesma 'espécie'. A semelhança fonética com promiscuidade, uma palavra de porte duvidoso sobejamente vulgarizada aqui no subúrbio, deve ter contribuído para o avolumar da dúvida e isso acabou por dar uma visibilidade seguramente não pretendida por quem prefere os dias de nevoeiro aos de sol intenso e radioso.
E terá sido assim que de repente e seguramente a contragosto, Ricardo Bexiga se deu conta de que até no subúrbio já existem zonas onde a luz solar consegue penetrar e proporcionar uma boa exposição e um razoável nível de escrutínio.
Este post podia portanto ser sobre ele mas não é, ou pelo menos não é só sobre ele.
Foi no entanto esta sua subida à ribalta e seguramente a contragosto, que me trouxe à memória o assunto principal do post e que já foi tema de discussão na Câmara do subúrbio em 2015 mas que acabou arquivado implicitamente, de forma apressada e sem grande alarido.
O que escrevi AQUI e também AQUI seria suficiente para aguçar o apetite a uma oposição digna desse nome, não fosse o elevado número de telhados de vidro existentes em muitas casas do subúrbio aconselhar o máximo de contenção no arremesso de pedras para o outro lado da rua.
O recorte seguinte refere-se a uma declaração com data de 28 de Julho de 2015 assinada pelo advogado / tarefeiro do escritório do deputado Bexiga - aquele que é mais ou menos residente no condomínio da Avenida 5 de Outubro (por força da emigração do seu patrão para a cidade tomada aos mouros pelo rei que batia na mãe e que agora é capital do reino cristão de Portugal).
De seu nome Frederico Bessa Cardoso, é a seu cargo que está a manutenção do, salvo erro, 4º. ajuste directo com a Câmara de Valongo.
Rec._1
Esta declaração é evidentemente de uma completa mentira e das duas uma: ou a mesma foi deliberadamente induzida pelo directamente interessado e visado na declaração a fim de esconder a verdade sobre a sua situação irregular, ou então, como dizia o outro, 'estão todos feitos'.
A verdade, é que em 28 de Julho de 2015 o Engº. Paulo Ferreira, adjunto do presidente da Câmara, conforme pode ser constatado pelos recortes seguintes da certidão permanente com data de 29 de Julho de 2015 - o dia seguinte ao da declaração do escritório de Ricardo Bexiga - acumulava o cargo público de membro do Gabinete de Apoio à Presidência, como ajunto de José Manuel Ribeiro, com o de sócio gerente da CAMEF (Carlos Machado e Esteves Ferreira) uma empresa do ramo da Construção civil com alguma obra feita no subúrbio, nomeadamente para a Junta de Freguesia de Valongo, situação que manteve até 10 de Setembro de 2015 (ver últimos 2 recortes).
De qualquer forma, e para a hipótese de não estarem 'todos feitos', tanto o advogado/tarefeiro como o deputado/advogado seu patrão tiveram tempo e oportunidade mais que suficientes para assumirem o erro e rectificarem a referida declaração.
Não o fizeram e portanto a mentira é colectiva, ou seja, é de todos os que a alimentaram, dela beneficiaram ou a ela aderiram.
Rec._2:
Rec._3:
Rec._4:
Perante a clara e indisfarçável incompatibilidade do membro principal do seu GAP - e seu adjunto - impunha-se ao presidente que tivesse também ele assumido publicamente e de forma clara o erro, com a humildade e a transparência que tanto apregoa.
Em vez disso optou pelo lamentável e habitual registo de negação e a oposição, na Câmara e na Assembleia Municipal, também não manifestou grande interesse em pegar no assunto com mãos de pegar. Os telhados de vidro ainda são uma das fragilidades do subúrbio e ninguém se atreve a atirar pedras para o outro lado da rua com receio dos danos próprios.
O assunto arrefeceu portanto e arrefeceu de tal maneira que os mais optimistas pensaram que tinha morrido...
No entanto e à cautela...
Porque a dúvida é como a semente lançada à terra fértil - mais tarde ou mais cedo germina e vira árvore - receou o visado que o tapete maior existente no condomínio não fosse suficiente para a esconder, pelo que à cautela optou a destempo (em 10 de Setembro de 2015) por se dirigir à Conservatória de Vila Nova de Famalicão - convenientemente afastada dos holofotes do subúrbio - para entregar uma alteração com efeitos retroactivos a 31 de Outubro de 2013!!!
Em termos legais essa suspensão fora de tempo, depois de paga a respectiva multa até pode ser legal. Mas os actos praticados até esse momento de forma ilegal, no exercício de uma função também ela ilegal , não podem ser legalizados por uma declaração retroactiva.
Rec._5:
Rec._6:
Perante isto...
Poderia eu ter esticado mais a corda e avançado de facto para uma denúncia junto do Ministério Público, como era aliás a minha intenção inicial? Poder podia, mas seria seguramente mais um assunto destinado ao arquivamento liminar.
Além de que...
1) A oposição na Câmara ouviu a minha denúncia inicial e acompanhou os seus desenvolvimentos assobiando para o ar;
2) Os deputados municipais idem aspas;
3) O Presidente da Assembleia Municipal - a quem entreguei todas as provas relacionadas com o assunto - considerou normal que o adjunto do presidente tivesse estado cerca de 2 anos a exercer funções de forma claramente ilegal e não achou nada estranho que tenha suspendido o cargo de sócio gerente da CAMEF apenas em 2015 e com efeitos retroactivos à data em que assumiu o cargo de adjunto;
O evidente desinteresse e mútuas condescendências da esmagadora maioria dos actores em presença sugeria-me que 'chutasse para canto' e seguisse em frente rumo a pelejas mais importantes. Foi o que fiz, tendo em conta que tenho andado ao longo dos últimos 2 anos e meio a pregar no deserto contra promiscuidades várias e contra corrupção que continua a inquinar o poder local do subúrbio. Se calhar não deveria ter desistido tão rapidamente, porque esta gente sem dignidade não se coibiu de voltar ao registo mentiroso cerca de 2 anos depois, desta vez em Tribunal e no julgamento que terminou há cerca de 1 mês atrás, onde vários deles e por várias vezes não hesitaram em jurar falso e mentir ao Tribunal com vistas à condenação (provisória) do cidadão Celestino Neves.
E assim termina este post que tendo começado a falar do deputado Ricardo Bexiga e das suas barras oblíquas não se ficou por aí, porque encenações manhosas e actores de manhas várias são coisa que não falta nos vários palcos do subúrbio.