Acabo de chegar de uma sessão extraordinária da Assembleia Municipal de Valongo e ainda não 'desliguei' do estado de revolta com que entrei no Salão Nobre do nosso condomínio municipal para votar a segunda (e astronómica) revisão orçamental - 'astronómica' para os habituais padrões da Câmara do subúrbio, evidentemente - de 3,8 milhões de euros.
(Para quem não se lembre, o montante envolvido nesta revisão é basicamente um novo PPI e representa quase o dobro daquilo que foi orçamentado para o ano em curso).
A bem dizer e no que toca 'aos que falaram', a revolta foi unânime e só se distinguiu num ou outro pequeno detalhe, pela maior ou menor truculência relativamente às 'Zemanelices' do costume - para utilizar a expressão de um deputado da oposição - ou às acusações de 'mentiroso compulsivo' formuladas por outros, entre os quais eu próprio...
Há quem diga que 'quem cala consente' mas em abono da verdade nem sequer isso ficou claramente demonstrado. Aliás, o lamentável comportamento inicial de José Manuel Ribeiro em relação a esta 'revisão orçamental em alta' só foi relativamente revertido porque a parte do Partido Socialista de Valongo que ainda tem 'dois dedos de testa', isto é, os que 'não falaram ou falaram muito pouco' nesta sessão, o obrigaram ao arremedo de concertação a que assistimos nas últimas semanas com a introdução de uma ou outra pequena correcção - a verba de 100 mil euros para iniciar o processo de uma nova sede para a Junta de Freguesia de Alfena é um dos exemplos - e a reconhecer o óbvio: que ter 4 vereadores (incluindo ele próprio) não permitem fazer o que lhe vai na real gana...
Mas sejamos claros!
Eu ainda sou dos que pensam que José Manuel Ribeiro nunca deixou de ter bem presente que 4 são menos que 9 e que a sua arrogância anti-democrática ao levar a primeira vez a reunião de Câmara a referida revisão sem qualquer negociação prévia foi pelo contrário bem intencional.
A prova disso é que a sua primeira investida foi chumbada numa quinta-feira ao final da tarde e no dia seguinte de manhã ou início da tarde já estava a ser metido de forma massiva nas caixas de correio dos alfenenses aquele 'comunicado do Partido Socialista de Alfena' - que como se sabe agora, nunca foi aprovado e nem sequer discutido no seio da modesta organização do PS de Alfena.
Mas pronto...
A 2.ª revisão orçamental lá passou na Assembleia com a previsívil e escassa maioria que se verificou, em que uma parte disse 'não' nas entrelinhas mas votou 'sim' para não colocar em causa muitas e justas expectativas e retirar terreno a uma nova investida de vitimização do presidente da Câmara - "deixem-nos trabalhar" - entre os quais me conto e uma parte da 'outra parte' o fez per simples e habitual disciplina de voto.
Seguramente a curto prazo teremos no terreno, projectos verdadeiramente idiotas como o aumento do subsídio aos Bombeiros, a recuperação do moinho do Cabo em Alfena, a recuperação do velho cinema e dos balneários do Pavilhão do Centro Social e Paroquial de Alfena ou o início do processo de construção de uma nova sede para a nossa Junta de Freguesia, entre outras idiotices...
A par disso, assistiremos por outro lado ao lançamento de obras essas sim emblemáticas, direi mesmo de regime, como o 'downgrade' do complexo desportivo dos Montes da Costa em Ermesinde, que passará para um rectângulo de saibro para a prática de futebol de 7 (em vez do actual de 11 que também é pelado) mas ganhará em contrapartida uma pista de 'tartan', porque como todos sabemos, Valongo é uma reconhecida super potência do atletismo nacional.
(Na discussão que teve lugar, houve quem se atravesse a duvidar que saibro e 'tartan' fossem os melhores amigos e que o futuro convívio entre os dois não pudesse ser pacífico).
Teremos ainda uma locomotiva de via estreita emprestada por 13 anos, 27 dias, 23 horas e não sei quantos minutos pela CP, para ser colocada na praça da estação em Ermesinde (por acaso nunca tivemos via estreita por estas bandas) e cuja recuperação exigida pela concedente está orçada em 40 mil euros.
Teremos também - finalmente - a centésima milésima terceira reparação do Pavilhão Municipal de Valongo (onde a ADV joga hóquei).
E - entre muitos outros 'teremos' - não será esquecida ajuda ao nosso JN (Jornal de Notícias) - através do 'upgrade' da publicidade do regime - os anúncios de página inteira com a promoção do 'querido líder' publicados aos Domingos, passarão também a sê-lo nos dias santos ou equiparados.
Ah! Já me ia esquecendo...
E aquela 'famosa máquina de fazer gelo quente' que é um velho sonho de José Manuel Ribeiro, também já poderá ser finalmente comprada...
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Esta foi a minha declaração de voto:
Assembleia Municipal de Valongo
Sessão extraordinária de 18-05-2017
Celestino Neves
(Independente)
DECLARAÇÃO DE VOTO
Voto a favor com reservas:
- Que tendo sido finalmente decidido reconhecer a justiça de alocar uma primeira verba destinada ao início do processo de construção de uma nova sede de Junta para a freguesia de Alfena, permitindo obviar aos enormes e lamentáveis constrangimentos que resultam da exiguidade das actuais instalações;
- Que durante a última campanha eleitoral o senhor presidente da Câmara por várias vezes manifestou o seu interesse em aproveitar as enormes potencialidades oferecidas pela enorme área abrangida pela Quinta da Várzea, mais conhecida por ‘Quinta do Bandeirinha’, num processo de concertação com os seus co-proprietários para ali instalar um pólo de serviços públicos ;
- Que tanto quanto julgamos saber, é intenção dos mesmos proprietários avançar com um projecto de loteamento que lhes permita fazer as partilhas que vêm adiando há vários anos;
- Que nesse caso a Lei e os Regulamentos determinarão seguramente vastas áreas de cedência obrigatórias;
O executivo tenha em conta o seguinte :
- Caso o projecto dos proprietários da Quinta da Várzea avance em tempo útil (que permita acolher o projecto da nova sede da Junta) e caso seja esse o interesse do seu Órgão Executivo, seja desde logo sinalizada uma parte das referidas áreas de cedência para esse efeito;
- No decurso do processo de viabilização do projecto de urbanização, é normal os Serviços fazerem propostas relativamente à localização das áreas de cedência mencionadas, devendo os mesmos neste caso ter desde início a preocupação de que uma das mesmas se situe junto à Rua Nossa Senhora da Piedade e próxima da chamada casa da Quinta, isto no caso da articulação com a Junta, se verificar ser essa a vontade do seu executivo;
- Que evidentemente sejam tomadas todas as precauções por forma a que em circunstância alguma, por razões de morosidade processual ou outras, esta opção possa comprometer ou atrasar o início do projecto de construção da nova sede da Junta de Freguesia de acordo com aqueles que são os objectivos do seu Órgão Executivo.
Alfena, 18 de Maio de 2017