UMA MÃO CHEIA DE NADA E OUTRA DE COISA NENHUMA......
“ORÇAMENTO PARTICIPATIVO JOVEM”, “SEMANA DA PRESTAÇÃO DE CONTAS”, “REDE INTERNACIONAL DAS CIDADES DAS CRIANÇAS” (do livro do professor italiano Francesco Tonucci «La Città dei Bambini») ...
Expressões com que nos temos cruzado nos últimos tempos aqui por Valongo - as duas primeiras pelo menos – podem querer dizer muito ou não significarem nada de concreto.
Esse é o problema de muitas das ‘expressões/bandeira’ que, pretendendo corresponder a acções ou propósitos concretos, na verdade e na maioria das vezes, são apenas e só, frases vazias de conteúdo - por aqui pelo menos, é isso que acontece...
Ou seja...
Ninguém no seu perfeito juízo se põe no meio de uma rua ou de uma qualquer praça a agitar uma bandeira para ninguém e se isso acontecer, há que desconfiar se a tanta agitação não corresponder um nível de aplausos correspondente a essa acção ou não contribuir para juntar cada vez mais pessoas à sua volta...
(Bem, talvez tenha de abrir aqui este parêntesis para recordar aquele episódio caricato de um deputado, líder de um grupo municipal, que em plena sessão da Assembleia Municipal de Valongo esteve cerca de 10 minutos a falar para uma cadeira vazia – a cadeira do então presidente da Câmara, Fernando Melo que nesse dia tinha faltado à sessão.
O protagonista concreto do edificante monólogo existe mesmo e preside actualmente à condução dos destinos do nosso Concelho).
Portanto...
- ‘ORÇAMENTO PARTICIPATIVO JOVEM’:
É muito lindo! mas... porque não e antes de tudo, um Orçamento participativo do Povo todo?
“Ah!... é a democracia representativa e blá-blá-blá” - uma abstracção que basicamente significa “chutem para cá o vosso voto e vão à vossa vidinha nos próximos 4 anos que agora decidimos nós!
E isto vale igualmente, tanto para o poder local como para o nacional.
- ‘SEMANA DA PRESTAÇÃO DE CONTAS’:
Até poderia ser menos criticável se se tratasse apenas de uma redundância inútil organizada em ciclos anuais E se a obrigação de manter os munícipes permanentemente informados sobre a forma como se gasta o seu dinheiro fosse cumprida em permanência. Começando logo pelo momento em que estes ao longo do ano civil vão colocando dúvidas, fazendo perguntas, ou criticando algumas das opções de que vão tomando conhecimento indirecto, mas nunca podem questionar os eleitos em tempo útil!
Exagerando, é como cá em casa um dos três decisores resolvesse recorrer ao crédito bancário para comprar um Ferrari com uma enorme ‘Trilobite’ estampada na fuselagem e depois, à mesa com os outros dois, de repente e a meio caminho entre uma garfada e um gole de vinho, soltasse a ‘bomba’: “olhem, comprei um ‘popó’ baril que nos vai ser entregue na próxima semana. Vamos ficar a pagar uma prestaçãozita de dois mil euros mensais durante 10 anos, mas não há crise. Foi uma boa compra, não foi?”...
- ‘REDE DE CIDADES DAS CRIANÇAS’:
Uma Cidade idealizada pelas crianças... tanta ternura neste livro e, aparentemente, também neste aproveitamento feito pela nossa Câmara!
Mas será que, vista á lupa e olhando para a dura realidade das nossas crianças concretas e definidas, encontraremos alguns pontos de contacto com a realidade em que grande maioria delas vive com os seus pais? Uma cidade (Concelho) onde os transportes escolares são o que são porque são organizados por adultos que se esquecem delas, onde muitas das habitações ainda estão longe do aceitável quanto mais do ideal no que toca aos parâmetros de conforto e de dignidade exigíveis num País civilizado...
Mas tudo bem, se vamos agora dar voz às nossas crianças no que toca à construção da sua/nossa cidade, então, pergunta incómoda seguramente, porque não temos dado e continuamos a não dar essa possibilidade aos adultos que são os seus pais?
Concluindo – e sobre as ditas frases/bandeira:
Se um dia destes encontrarem, na Praça Machado dos Santos, no Largo dos Patos, ou no salão nobre do condomínio da Avenida 5 de Outubro, algum solitário com ar de lunático a agitar uma bandeira ou a falar para uma cadeira vazia, o mais certo é tratar-se de alguém que se tenha escapado de uma qualquer ala psiquiátrica de qualquer hospital próximo e, por favor, não lhe atribuam o poder de decidir sobre os vossos destinos!...