4 DE MAIO, DIA DE... TODAS AS MÃES!
Se há coisas que me intrigam, uma delas é esta mania de nos querermos redimir num único dia, dos restantes 364 de omissão - dia Terra, da água, da espiga, da criança, do pai, disto, daquilo, daqueloutro - sendo que, em cada um deles, é simultaneamente o dia de nos esquecermos de todos os outros...
Para não fugir à regra, a sociedade de consumo determinou que amanhã deveremos comemorar o dia de todas as mães, comprando como é da praxe, o inevitável presentinho (na maior parte das vezes com o dinheiro avançado por elas próprias...) escolhido a partir do vasto leque de opções com que o lóbi da publicidade nos tem bombardeado nos últimos dias.
Sentimo-nos felizes por este ano não nos termos esquecido ("-vês mãe, desta vez não me esqueci!" ) e mais ainda, ao vermos o sorriso rasgado com que elas acompanham o acto solene de desatar o embrulho especial feito a preceito pela jovem simpática da loja, contratada em part-time (para fazer face ao acréscimo de pedidos de embrulhos especiais que sempre acontecem nas vésperas de todos os "dias de qualquer coisa").
E pronto, cumprido o ritual, estamos prontos para atravessarmos de novo o deserto dos próximos 364 dias de esquecimento ou omissão, isto é, vamo-nos lembrar esporadicamente delas (das mães), quando tivermos de lhes pedir o dinheiro para o dia do pai, para os anos da mana ou do mano, da namorada ou do namorado, etc.,etc...
Nessas alturas, voltaremos a colocar o nosso melhor sorriso e a voz mais doce que conseguirmos - para que elas não se lembrem de nos perguntar: "-então e a tua mesada, já acabou?"
Abençoada sociedade de consumo, que embora por caminhos ínvios, nos vai proporcionando a oportunidade de demonstrar de vez em quando, que não nos esquecemos de alguém ou de algum momento importantes!