A CREDIBILIDADE DO PAÍS E OS "DISCURSOS REDONDOS"...
Não existe nada pior, nada mais demolidor em termos da destruição das sinergias de que um país - qualquer país - carece para navegar e em muitos casos apenas manter-se à tona neste mar agitado em que o capitalismo selvagem transformou este mundo em que vivemos (ou sobrevivemos) do que a falta de confiança.
Desde logo, a confiança dos seus cidadãos, depois a dos seus parceiros num contexto mais restrito ou regional, aqueles a quem podemos comparar - tomando o cidadão comum como exemplo - aos vizinhos do lado ou ao corpo de bombeiros mais próximo...
E a confiança não é um bem móvel nem imóvel que esteja disponível no mercado. A confiança merece-se ou não, face aos comportamentos evidenciados por aqueles que necessitam de a invocar perante alguém.
Não depende da nossa apresentação num determinado momento - como aquele cidadão que quando comparece numa entrevista de emprego, vai sempre muito mais "produzido" e aperaltado do que o costuma fazer no seu dia a dia - mas abarca normalmente um período de "registos" bem mais abrangente e alargado.
A confiança de um país, mesmo que territorialmente pequenino como é o caso de Portugal, não depende de nenhuma qualquer apresentação em power point por mais bem elaborada e bem conseguida que o tenha sido pelos inúmeros assessores pagos a peso dos euros que não temos, não depende de nenhum discurso, por mais palavroso que o seja, não depende sequer de nenhum esforço pessoal "lider de serviço" no momento, no sentido de aperfeiçoar o nível do seu "inglês técnico" - técnico ou não - para se fazer entender, porque não é por aí, por se expressarem melhor ou pior na língua usada pela maioria daqueles a quem procuram convencer, ou por recorrerem simplesmente a um tradutor fiável como assessor, que o seu problema se resolve.
Mais importante do que tudo isso, é o respectivo "curriculum" - virtual mas nem por isso menos relevante - que os acompanha e o "registo fotográfico" que os precede - os deles e por arrastamento, os do seu país.
Quem foi que disse que os "serviços de inteligência" só serviam para tratar de assuntos relacionados com a segurança dos respectivos países ou de natureza estratégica mais global?
Será que Sócrates algum dia acreditou que a figura patética em que se transformou nos últimos anos era apenas do "conhecimento restrito" dos cerca de dez milhões de portugueses?
Será que Passos Coelho - a viver teoricamente o chamado período de "estado de graça" - acredita que os discursos redondos que produz, alguns num inglês já bem menos "técnico" que o do seu antecessor, vão ser os elementos determinantes para convencer os seus parceiros internacionais?
Será que Paulo Portas ainda acredita que os lideres mundiais perdem tempo a ver filmes do "rato Mickey"?
Portanto, a confiança (ou no sentido que eu pretendo atribuir ao termo, a credibilidade) ao contrário da ideia que alguns nos tentam "vender" não é um conceito abstracto, flutuante e subjectivo e muito menos uma qualidade "de curto prazo". Pelo contrário!
Uma parte significativa dos itens que a suportam baseia-se em grande medida, no "ADN" dos lideres - políticos, financeiros, homens de negócios, gente com capacidade de decisão nos países que necessitam de a invocar - mas estes têm de demonstar que a merecem.
E lamentavelmente, neste período difícil que Portugal vive e em que tanto precisa de a conquistar, isso não tem acontecido e o nível e a fiabilidade das "credenciais" que continuamos a apresentar não mudou muito.
Falta apenas dizer - e por ter ficado para o final, nem por isso deixa de ser menos relevante - que os interlocutores com quem temos de interagir, são, muitos deles também, feitos da mesma massa de má qualidade e transportam no seu "ADN" o mesmo tipo de deficiências que caracterizam os nossos lideres, o que torna inevitavelmente o prognóstico ainda muito mais reservado...
PS: Mas já agora e a propósito do tema desenvolvido - confiança (ou credibilidade) - situemo-nos apenas no espaço confinado do pequeno rectângulo em que nos movemos e onde apesar das contingências difíceis e dos "propósitos" (impostos por uma Troika vinda de "terras estranhas") de alterar radicalmente certos (maus) hábitos, de acabar com certas mordomias, de preencher ministérios, secretarias de estado, gabinetes, departamentos e lugares equiparados, com gente competente em prejuízo do carreirismo ou da fidelidade canina de alguns boys and girls em relação aos chefes - chefes sim, que agora o governo é bicéfalo (embora com uma das cabeças um pouco menos desenvolvida) - cito também apenas apenas dois, para ser abrangente, maus exemplos que induzem sinais que vão no sentido inverso àquele que nos disseram e continuam a dizer pretender seguir:
O homem do "queijo limiano" - Daniel Campelo - e o "vice-rei" de Gaia e presidente de algumas empresas municipais - Marco António Costa, figura sobejamente conhecida dos valonguenses e nem sempre pelos melhores motivos (começando desde logo, pelas estruturas locais do próprio PSD, alfenenses em particular).
Se estão no governo por causa da componente "competência", então é caso para dizer - e como me custa fazê-lo! - que não temos de que nos queixar da Moody's, quando somos nós a pormo-nos a jeito junto ao caixote do lixo...