O MINISTRO "ANTI-MILAGRE"...
Agora é oficial: temos um estado e também um governo laicos
Pela voz soporífera e autorizada do ministro das finanças - no decurso da sua última aula na "universidade de verão" do PSD tivemos a possibilidade de confirmar duas coisas de que já desconfiávamos:
Primeira: o homem tem sem sombra de dúvidas, propriedades anestésicas.
Segunda: que "milagres não são possíveis".Esta última afirmação, apreciada assim fora do contexto em que foi produzida, até merece a minha concordância. Não sei é se a Conferência Episcopal não irá reagir, considerando-a uma incursão abusiva por parte de um membro do governo, numa área em que por vontade própria, o Estado optou pelo laicismo.Que os milagres são (apenas) uma questão de fé e essa, tal como a "água benta" cada um toma a que quer, já sabemos e o facto de uns e outros concordarem ou discordarem sobre o assunto, já não é motivo de guerra - pelo menos a nível das sociedades livres e civilizadas.
Daí que não me preocupe nem um pouco com os inofensivos vendedores de milagres que ao toque do sino ou não, usando estola e batina ou vestes seculares, inofensivos, bem falantes, queimando incenso ou aspergindo água benta para acelerar o processo e cobrando valores variáveis pelo serviço - o óbolo (leia-se custo do serviço) deve ter sempre em conta a capacidade económica dos candidatos a "miraculados" - mas sim este tipo de gente, treinada no uso do PowerPoint e outros recursos multimédia e que - pasme-se! - às vezes até sabem manipulá-los com inusitada destreza.
E preocupo-me, porque aqui a técnica, os recursos e o discurso estão ao serviço de uma outra causa que não é laica, ateia, ou sequer indiferente em termos de fé.
No caso deste ministro e do governo que o suporta, eu acho que a coisa passa-se exactamente ao contrário: eles estão empenhados no "anti milagre"!
Só assim faz algum sentido e se percebe vagamente a "lógica" de algumas medidas que têm vindo a ser tomadas e o percurso que nos anunciam até 2015.
Aquilo que fazem - pior ainda, aquilo que se propõem fazer - visa pura e simplesmente impedir que, seja por via do "milagre", seja pelo empenho acrescido dos portugueses, seja por qualquer outra razão intrínseca ou extrínseca, o País não caminhe no sentido de atenuar diferenças e criar uma maior justiça social com base na igualdade de oportunidades, mas pelo contrário, se transforme - tal como a Europa já o é - "num País a duas velocidades", sendo que uns quantos, circularão puxados por centenas de "possantes cavalos" e outros (a maioria) só o poderão fazer a passo - um passo cada vez mais lento por falta de alento.