A VIDA VALE A PENA!
Nesta altura, discute-se na Assembleia da República um projecto de lei - ou melhor, vários, que na politica, todos gostam de "apresentar trabalho", nem que seja apenas para escrever o mesmo texto do adversário político ao qual retiram uma vírgula aqui, acrescentam um ponto ali, quando não se ficam apenas pela simples formatação do texto...
Refiro-me ao chamado "testamento vital" - ao qual espero a sociedade dê a devida relevância.
Nada que tenha a ver por enquanto, com uma outra questão mais profunda - e porventura muito mais polémica - que é a da eutanásia e sobre a qual já muito se tem escrito, dito e debatido.
Valerá a pena talvez, passarmos os olhos muito por alto sobre a aridez dos textos agora em discussão, mas mais do que isso, aquilo sobre o qual vale de facto a pena reflectir, é o que a sociedade tem feito, faz ou pode fazer, para que a qualidade de vida dos seus cidadãos - nos diversos escalões etários, os quais como é óbvio, implicam uma atenção também diferenciada - se mantenha com um nível de dignidade compatível com as exigências de um País que se pretende solidário.
Tenho um entendimento muito pessoal sobre a vida - eventualmente partilhado por muitas outras pessoas - e que se resume a umas quantas condicionantes sem as quais, ela (a vida) deixará de fazer grande sentido:
- Enquanto conseguirmos sorrir, não com aquela espécie de esgar ou sorriso de plástico dos políticos em campanha eleitoral ou dando entrevistas, mas com um sorriso espontâneo, amigável, empático, a vida vale a pena.
- Enquanto sentirmos que mesmo nos nossos momentos mais adversos, temos amigos à volta que exigem que vivamos, que mais do que isso, nos dizem que a nossa ausência lhes causará profundo sofrimento e que no caminho que nos falta percorrer, eles estarão sempre ao nosso lado, a vida vale a pena.
- Enquanto os "homens sábios" que estudam, fabricam, prescrevem e ministram os medicamentos ou executam os actos cirúgicos ou as ajudas técnicas de que em determinado momento, de forma temporária ou definitiva possamos passar a ter de estar dependentes nos garantirem que isso não apagará , nem o nosso sorriso nem o daqueles que nos rodeiam, a vida vale a pena.
- E a vida vale ainda a pena, enquanto sentirmos prazer em escutar o marulhar das ondas do mar, enquanto o canto das aves não nos for indiferente, enquanto à beira mar nos alegrarmos perante a magia de um por de sol, enquanto a surpresa de sermos apanhados por uma inesperada chuva de verão não constituir motivo de incómodo, mas antes pelo contrário nos divertir e der prazer.
E tudo isto, independentemente de estarmos apoiados nas nossas próprias pernas, numa cadeira de rodas ou suportados por um qualquer outro tipo de ajuda técnica.
PS: Tinha este pequeno texto já semiacabado, quando o destino fez com que me cruzasse com uma querida amiga num local onde costumamos deslocar-nos sobretudo quando temos alguma dúvida sobre o estado da nossa saúde, mas onde também podemos ir por simples rotina para as "revisões periódicas".
No meu caso foi este último motivo que ali me levou, sendo o primeiro a causa da deslocação da minha amiga.
Tal como ela, também eu já tive necessidade de esclarecer dúvidas relevantes e agir em conformidade - com determinação e sem medo - em situação não exactamente igual, mas de gravidade também relevante e neste momento felizmente, vivo já apenas a fase das consultas de rotina.
No caso dela, nem sequer existe ainda uma certeza, mas mesmo que existisse, ela tem pelo menos uma enorme vantagem sobre mim e sobre os milhares de outros cidadãos que se vêm de repente confrontados com certezas de idêntica gravidade: a juventude, que é sempre um factor de enorme relevância perante as situações de doença.