24 DE ABRIL ASSINALADO HOJE NA CÂMARA DE VALONGO...
Não, não se trata de um lapso inadvertido no título deste post...
Uma vez mais e à margem do Regimento e da Lei, o presidente da Assembleia Municipal de Valongo resolveu discriminar negativamente o seu único deputado independente, impedindo-o de usar da palavra na sessão solene marcada para hoje.
Ao fazê-lo, transformou - ele e o poder que apoia, obviamente - esta que seria uma Sessão solene de comemoração do 25 de Abril, numa espécie de celebração saudosista do 24 de Abril de má memória, onde até deu para o presidente da Câmara falar do seu 'pedegree' - ou da falta dele...
Assumiu a prepotência de forma solitária - a sua decisão não foi submetida ao Órgão a que preside - e fê-lo apenas e uma vez mais, para dar cobertura à perseguição miserável que me é movida pelo presidente da Câmara.
Como eu disse em 'off' mas em voz suficientemente alta para que todos ouvissem, nesta cerimónia 'não disse a letra com a careta', por isso e depois de vincar bem o meu protesto - 'incidente' no dizer do presidente - retirei-me da sala, permanecendo no átrio até ao fim da cerimónia.
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Este era o texto que preparei e que fui impedido de ler:
Dia da Liberdade, hoje e em todos os amanhãs que tivermos...
Da liberdade para escolhermos entre todas, a forma de sermos livres que mais nos agrade, de transpormos para o exterior de nós o que já não precisa de ser íntimo, seja através música, da pintura da escrita e de tantas mil formas de partilharmos a nossa ânsia de sermos livres de corpo e pensamento inteiros.
Da liberdade de caminharmos sem grilhetas, sejam elas à maneira antiga e que nos tolhem fisicamente o passo ou as grilhetas dos tempos modernos, aquelas que nos colocam no editor de texto do nosso computador a imaginária cruz em azul-sinistro da proibição de exteriorizarmos pensamentos que incomodem os que mandam, mesmo que os que mandam o façam de forma iníqua.
Da liberdade de recusarmos ser escravos-assalariados ainda que o salário possa ir muito para além da malga de sopa e do naco da pão de outros tempos e mesmo que ele possa dar acesso à forma mais sofisticada de rolar no alcatrão ou ao direito de nos sentarmos na cadeira mais próxima de quem manda e a opinar sobre o aprimoramento da arte de escravizar sem dor os da nossa espécie.
Da liberdade de tornarmos público através da fala, da escrita ou da língua gestual, que o rei vai nu quer isso corresponda ao padrão de verdade mais em voga ou não, porque a verdade não é uma coisa física nem a sua interpretação pode ser feita em contextos que a possam condicionar.
Dia da Liberdade é hoje, um hoje que queremos que se repita em todos os amanhãs, em cada dia de todos os anos da vida que nos resta e daquela que sobre para os que nos renderem na sua preservação.
Valongo, 25 de Abril de 2016
Celestino Neves – deputado municipal independente