ATRASOS E OUTONAIS INCONTINÊNCIAS...
Chegaste finalmente. Cheio de pujança, sem te fazeres anunciar - talvez porque já vinhas atrasado e sabias que estavam todos à tua espera há imenso tempo.
Não sei se terá sido a "tântrica contenção" em que te mantiveste durante mais de um mês, ou outra razão qualquer a motivar a abundância de fluidos com que na tua primeira investida presenteaste aqueles que te aguardavam, mas a verdade é que tirando as barragens, que são umas "insaciáveis compulsivas", houve muito quem se queixasse da tua pujança repentina.
Sabes como são as pessoas: umas eternas insatisfeitas!
Se a abordagem é demasiado impetuosa, "está tudo mudado, já nada é como antigamente, cada coisa a seu tempo, com respeito sem saltar etapas..."
Se pelo contrário as afagam demasiado, se exageram nos carinhos ou de forma (que elas consideram) demasiado contida, retardando porventura um pouco o clímax, lá vem a queixa inversa: "que nunca mais chega, que já basta de intróitos, que querem é abundantes libações, que não é justo estar há tanto tempo a fazer-se caro, ou pior do que isso, que até parece que está de conluio com o rival, permitindo-lhe que mantenha um poder que já deixou de lhe pertencer".
Desta vez - ontem mais precisamente - ganhaste coragem e digo-te mais: satisfizeste plenamente até os desejos mais radicais!
Mas como sempre acontece, para muita gente a "sede" virou rapidamente saciedade - porventura, rapidamente demais, dado o teu vigor um pouco excessivo - e da saciedade à rejeição, vai como sabes, apenas um pequeno passo.
Esqueci-me no início de te chamar pelo nome - Outono - uma estação para a qual o calendário já nos remetia há mais de um mês, mas que tu foste "adiando" este tempo todo, deixando-nos entregues a um Verão usurpador, renitente em partir, para gáudio de alguns e preocupação de outros que ainda vivem muito na base da regularidade desta intermitência trimestral das estações.
Benvindo por isso Outono, mas já agora que chegaste tarde e a más horas, bem que podias ter entrado mais sereno, com mais doçura. Aquela doçura dos frutos maduros, das castanhas assadas, da mudança gradual dos tons da natureza e não soprando que nem monstro danado e "aliviando-te" do excesso de líquidos daquela forma incontida a que ontem assistimos.
Quero acreditar que foi apenas um momento de desvario da tua parte e que vamos continuar a ter-te como sempre, ternurento, melancólico, inspirador de poetas e pintores, conciliador entre extremos antagónicos.
Deixa os excessos para esses extremos - os teus dois outros parceiros - o que te precedeu e aquele que te virá tomar o lugar. Tu não és destas coisas!