25 DE ABRIL de 2020 - ONANISMO E AUTOGRATIFICAÇÃO DO NOSSO PARLAMENTO ...
Como é que eu vou explicar à minha filha de 12 anos esta cerimónia?
(Não, não tenho uma filha de 12 anos, mas permitam-me que faça de conta que tenho para melhor poder falar das histórias reais – apenas os nomes referidos não o são – relativamente às quais eu e milhões de portugueses tivemos de alterar procedimentos por causa da pandemia. A minha ‘filha de 12 anos' vai seguramente ligá-las a esta lamentável comemoração e questionar-me sobre) a mesma.
Na Páscoa deste ano, a minha afilhada Joana contava, como habitualmente, com a presença dos padrinhos e da prima na casa dos seus pais em Guimarães. Tomaríamos as devidas precauções – temos álcool-gel, máscaras e luvas e cuidado bastante para os usar – mas todos optamos por cumprir a Lei e mandamos-lhe o ‘folar’ em dinheiro e por transferência bancária...
A minha irmã Maria, que é solteira e vive sozinha na mesma terra que eu e a 500 metros da minha casa, costuma almoçar quase todos os Domingos na nossa casa. Este ano não o fez – aliás, já há mais de um mês que, e apesar desta curta distância, apenas falamos pelo telefone...
O nosso amigo Joaquim, um velho simpático a quem queremos muito – sim, eu disse velho e não idoso – morreu com COVID19 no Hospital de S. João.
Não pudemos ir ao velório de conforto familiar nem ao funeral que apenas foi acompanhado pela neta mais nova, a Rita e por mais uma ou duas pessoas mais chegadas. A Rita gravou um pequeno vídeo da cerimónia para nos mostrar...
Quando está bom tempo – e estamos na Primavera, uma estação em que começa a estar bom tempo muitas vezes – eu a minha mulher e a minha filha costumávamos dar um salto – de carro, evidentemente – à marginal da Foz do Douro, de Leça da Palmeira, ou mais raramente, à de Vila do Conde ou Póvoa de Varzim para, depois de estacionarmos, fazermos a nossa caminhada matinal e a seguir almoçarmos. Há imenso tempo - quase 2 meses - que não o fazemos...
Um amigo meu, que mora na mesma Cidade onde eu moro e por sinal, a menos de 1 quilómetro da nossa casa, está confinado na sua há vários dias, infectado com COVID19 (mas estável, felizmente). É uma pessoa a quem me liga muita amizade, pela sua preocupação com os outros, pelo seu envolvimento comunitário muito intenso, pela ajuda que sempre reparte com todos aqueles que dela mais precisam. Por todas as razões que ele compreende e também por respeito pela Lei, não fiz até agora nem farei qualquer tentativa às escondidas – que a curta distância até facilitaria – para o visitar...
Dito isto...
Eu percebo que o meu sobrinho António, que é motorista TIR viage por esse mundo fora com o camião carregado de coisas essenciais para que todos nós possamos estar confinados nas nossas casas...
Como também percebo que a PANIKE – desta vez o nome não é ficcionado – Tenha podido atender uma encomenda especial e ma tenha entregue em casa (pão rústico, um pão de ló, e umas natinhas para matar saudades).
O País não pode parar totalmente e as pessoas precisam de comer...
Agora o que eu já não percebo – nem aceito...
É que um grupo de deputados se arrogue um ‘direito’ especial em relação ao comum dos cidadãos de comemorar no Parlamento uma data que me é muito querida, o 25 de Abril, desrespeitando as determinações gerais da autoridade sanitária nacional (a DGS).
E vão fazê-lo de uma forma solitária, onanista e auto gratificante , ainda mais solitária do que vem sendo costume, entre quatro paredes e apenas para fingirem – sim, eu disse fingirem – que gostam do 25 de Abril.
Apesar dos constrangimentos gerais do País, eles não quiseram abdicar da satisfação de envergar a fatiota nova que já tinham comprado nem de ler o discurso de circunstância que o assessor pago por todos nós lhes escreveu.
Alguém entendeu as críticas a esta iniciativa que incendeiam as redes sociais e relativamente à qual circula mesmo uma Petição já com algumas dezenas de milhar de assinaturas, como uma preocupação com o contágio e com a saúde dos nossos deputados e de alguns dos seus convidados...
Nada disso! Eles já são todos crescidinhos e não precisam que ninguém se preocupe com a sua saúde e, honestamente, tendo em conta o número de presenças que anunciam e algumas medidas de precaução que seguramente adoptarão, acho que o risco será mesmo diminuto.
O problema é o mau exemplo!
O problema é a desproporcionalidade ente a utilidade desta cerimónia e o precedente que se abre!
O Problema é que, ao contrário dos anos anteriores, os deputados celebram uma data de que a maioria deles nem gosta enquanto o Povo, ao contrário dos anos anteriores, não pode ter A FESTA que para ele o 25 de Abril merece!
E com tantos e mais alguns problemas associados a esta cerimónia onanista do 25 de Abril a mesma só pode ser classificada como uma Vergonha!