DEMOCRACIA DOENTE...
Anda por aí muita gente escandalizada - eu diria mesmo, muito preocupada - com as declarações de Otelo Saraiva de Carvalho acerca de um hipotético "golpe de Estado". Vamos por partes:
Otelo fala demais e regra geral, fora de tempo e eu também me incluo no número daqueles que pensam que o homem não fecha bem e que, como costuma dizer o Povo a propósito de comportamentos idênticos, devemos "dar-lhe um desconto".
Mas há uma parte do que ele diz, que é, digamos assim, "repescada" por Vasco Lourenço - que já agora, aproveito para dizer, que foi meu Comandante de Companhia nas Caldas da Rainha, no curso de sargentos milicianos da 1ª incorporação de 1969 - admite essa intervenção em caso de ameaça à Democracia.
Para ele e para muita gente na qual eu próprio me incluo, ainda não é esse o caso, mas não demoraremos muito a chegar ao inevitável "ponto de ignição" se não travarmos primeiro e não invertermos a seguir, a nossa perigosa progressão nesta quase suicida "rota de colisão".
Não se percebe pois o nervosismo dos muitos "democratas de ocasião", para quem a democracia é (apenas) uma forma de roubar ou prejudicar os outros sem serem incomodados pela polícia ou pelos tribunais, isto é, uma "democracia" à sua medida que usando e subvertendo as regras da genuína, retomada pelo Povo português em Abril, lhes dá o seu "toque pessoal", transformando-a nestas novas formas de assaltar, de roubar de discriminar, tudo em nome dos mais "elevados interesses" da Nação.
Não acho que as coisas se devam resolver à paulada, com disparos de obuses, com assaltos ao Parlamento ou ao Palácio de Belém, mas quando os centros de poder se transformam em "antros de corrupção", em exibições festivas de convivência e promiscuidade quase obscena entre interesses supostamente legítimos e outros que deveriam ser combatidos em vez de acarinhados - como temos assistido por exemplo nos últimos dias, por parte do supremo magistrado da Nação em relação aos Bancos - ele que é de facto um mau exemplo do que deve ser a frugalidade dos políticos em tempos de crise (veja-se a comitiva de que se fez acompanhar na sua última visita aos Açores) - então estou com Vasco Lourenço: por enquanto, a Democracia está apenas doente, portanto, ainda a tempo de ser tratada pela "medicina geral" - o Povo. Mas se a "medicação não resultar, então impõe-se, quer isso nos agrade quer não e com todos os custos que implica, uma ida ao "bloco", para extirpar o mal pela raiz.
E na situação actual de "meios", só a Instituição militar dispõe de um "bloco operatório" à altura da situação!