CP FALIDA - A GREVE QUE OS CONTRIBUINTES PAGAM...
Para que não restem dúvidas, uma declaração prévia de interesses:
Eu já fui sindicalista - conheci aliás Carvalho da Silva na empresa onde comecei a trabalhar no dia 25 de Abril de 1974 e onde ele já trabalhava. Fiz depois disso e trabalhando já numa outra empresa, parte da Direcção do então maior Sindicato do Distrito do Porto e acho que não preciso de dizer, que sou a favor das greves, fiz muitas, ajudei a mobilizar os trabalhadores mais exitantes para muitas também.
A greve, é portanto e no entendimento que que dela faço uma forma de pressão - ou se quisermos usar uma terminologia mais sindicalista, uma forma de luta - para obrigar a entidade patronal a ceder perante reivindicações que se consideram justas. Só que como diz o poeta, em cada ano que passa, "o mundo pula e avança" (nem sempre nas mãos de uma criança) e isso exige adaptações. Para começar, uma nova geração de sindicalistas, activistas sindicais, dirigentes, que sejam capazes de em cada momento e a propósito de cada situação de conflito, escolher o melhor caminho, a melhor forma de o percorrer e sobretudo, de perceberem que o paradigma mudou e que actualmente, só uma minoria de trabalhadores que eu considero "privilegiada" - veja-se como são as coisas: hoje ter trabalho certo é um autêntico privilégio - é que se pode "dar ao luxo" de sacrificar o seu salário nos dias de greve.
Mas a greve, pretendendo sempre ser uma "arma" contra o patrão incumpridor, prepotente, mau pagador, seja lá qual for o defeito que se lhe aponte, como todas as armas, pode ter efeitos colaterais nefastos e não pretendidos por quem a usa: aqueles que indirectamente e sem tarem nada a ver com o conflito, se vêm prejudicados por ele. Em situações normais, quase todos aceitam esse sacrifício como uma inevitabilidade, um contributo solidário para a luta de outros que amanhã eventualmente nos possam retribuir na mesma moeda e por isso, é que raramente ouvimos, nas reportagens que sempre se fazem a propósito das greves, uma maioria dos auscultados a manifestar-se frontalmente contra as mesmas.
Mas francamente! Escolher o período de Natal - aquele em que muitos que não têm carro como muitos dos sindicalistas e dos grevistas podem ter, necessitam de meios de transporte para ao menos nesta quadra, se juntarem em convívio familiar é demasiado brutal. O comboio, é um desses meios por excelência e a verdade, é que essas pessoas foram deixadas sem alternativa pelos maquinistas da CP. Pode ser muito justa a sua luta - quem sou eu para fazer juizos de valor sobre ela? - mas o prejuízo que provocariam à entidade patronal seria o mesmo, se a iniciassem antes ou depois desta quadra festiva. Por isso, é que nas reportagens que ouvi hoje, o público já não foi tão solidário e compreensivo como costuma ser.
Acresce que os maquinistas sabem qual é a verdadeira situação da empresa e o peso que ela já representa para os contribuintes. Os maquinistas não podem alegar que desconhecem, que parte do salário que recebem, já não resulta directamente do seu trabalho, mas sim dos nossos impostos e que por este andar, como dizia há dias um vice presidente do grupo parlamentar do PS a propósito da nossa dívida externa, "ou se põem finos" ou vão ter mais tarde ou mais cedo, de aprender a falar mandarim - uns quantos, que uma parte significativa, irá seguramente engrossar as fileiras do desemprego depois de terem recebido "12 dias por cada ano de trabalho" - como manda a Troika que se faça.
A greve dos maquinistas - nesta altura e nas condições actuais da empresa - é pois e antes de tudo, um "tiro no próprio pé" e é absolutamente irracional pela desumanidade que representa para com os "cidadãos não automobilizados" que pretendem comer em paz e ao menos uma vez no ano o bacalhau ou seja o que for, fora dos seus locais de residência onde a família mais alargada os aguarda.