A ARCA DE NOÉ EM "VERSÃO MALDITA" - O CICLO INFERNAL...
Se alguns se queixavam da rotina deprimente que há anos se abateu sobre o País e do imperceptível e quase indolor movimento de queda que só uns quantos mais atentos aos movimentos das estrelas conseguiram detectar, pois então alegrem-se ou alarmem-se, porque no ano que aí vem, o que menos teremos serão situações de rotina - pelos piores motivos possíveis. Ou não estivesse o País já alguns meses a navegar à vista num mar pejado de escolhos e de tubarões ferozes, comandado a partir do "espaço exterior" através de controlo remoto da omnisciente, omnipotente e pese embora a distância, omnipresente Troika.
Lamento muito se o que vou dizer vai de alguma forma desiludir os meus amigos resmungões da blogosfera e do Facebook, que se fartam de malhar no actual "bombo da festa", mas só temos de nos culpar a nós próprios pela situação a que isto chegou: Cavaco (primeiro ministro) passou pelo crivo da nossa vontade soberana, Guterres também, Durão Barroso, idem e Sócrates, idem, idem, aspas, aspas. E as asneiras que fizeram têm de forma indelével, a nossa "assinatura" por baixo e beneficiaram do nosso silêncio cúmplice ao longo de vários anos. E os últimos, em que se integra o tal "bombo", também, embora neste caso, isso já não faça grande diferença, pois os "fios" que os ligam ao comando externo, são a fingir: o comando funcionaria mesmo que nós lhos cortássemos.
Bem sei que há para aí umas heróicas e honrosas excepções já quase sem voz de tanto gritarem "cuidado", mas no meio da cacofonia estridente dos fiéis adoradores da "bendita" sociedade de consumo que durante este tempo todo conseguiu a proeza de manter anestesiada a vontade e toldar a razão da imensa maioria do Povo, os seus avisos não passaram de simples sussurros no meio dos intensos e agradáveis cantos de sereia que nos foram entrando casa e mente adentro. Não interessa - ou interessa agora muito pouco - dizerem-nos "eu bem avisei!". Nem o prazer que alguns aparentam sentir ao verem estampado nos nossos rostos o sofrimento e a tardia desilusão, lhes servirá de grande coisa. estão metidos no mesmo barco - o tal que navega à vista num mar imenso pejado de escolhos e guiado por controlo remoto - e o melhor é mesmo deixarem-se de ficar a fruir do solitário prazer de descobrirem na cara dos vizinhos a razão que tantas vezez lhes negaram e agora vêm confirmada. Se o barco afunda, a grande catástrofe não estabelecerá diferenças entre eles e os pactuantes silenciosos com as acções criminosas do passado recente.
Eventualmente e numa espécie de Velho Testamento reescrito, salvar-se-ão os maus da fita que embarcados a tempo na "arca de Noé" em versão maldita, rumarão às offshore da nossa desgraça, cujos cofres foram atestando com sucessivas transfusões a que nos foram subetendo e onde agora saciarão a sua sede imensa e compulsiva e comerão os frutos e mel silvestre que ao longo dos anos nos foram retirando da boca, que agora darão para os aguentar até que as águas baixem e um novo ciclo do "deus dinheiro" se inicie.
Entretanto, do mar que restar do dilúvio, virão cardumes imensos de tubarões que se encarregarão da santária tarefa de devorarem os biliões de cadáveres que a saúde pública dos vindouros exige que desapareçam. E tudo recomeçará - no ponto decidido pelos detentores do controlo remoto: os novos ricos hão-de transformar-se a seu tempo nos novos indigentes e uma nova classe dominadora há-de surgir no horizonte dos Países, com uma nova Troika à cabeça, que os ajudará a construir uma nova versão da barca maldita, mais sofisticada e melhor equipada para o salvamento final dos novos escolhidos. E os tubarões, farão aquilo que sempre fizeram ao longos dos séculos quando ocorre algum naufrágio: a limpeza sanitária!