O "PADRINHO" DE VALONGO
Citando-me a mim próprio na crónica que saiu hoje no Jornal VERDADEIRO OLHAR:
O PADRINHO DE VALONGO (*)
"Bem feito! O Povo tem os governantes que merece, porque não participa, não vota (ou porque se o faz, põe a cruzinha no quadrado errado) e isto, aquilo e aqueloutro".
Frases feitas que vamos ouvindo, mas nem sempre inteiramente justas!
O País é um atoleiro, Valongo é o seu modelo à escala (para pior) enquanto a Família de Don Fernando Melo liderar os negócios do Burgo, mas na verdade, o Povo até nem teve a parte principal da culpa.
No mandato anterior, o PS com Maria José Azevedo, fez um excelente trabalho de oposição, manteve o Don minimamente controlado e graças a uma espécie de efeito repelente, libertou o interior da Câmara da desagradável presença do seu consigliere – o do gabinete de projectos mais conhecido de Alfena - que circulava pelos corredores e gabinetes da mesma como se estivesse no seu próprio quintal.
Porém, havia outras rosas para plantar e o jardineiro-mor do roseiral, da mui nobre e invicta cidade do Porto, decidiu estraçalhar o canteiro e optar por novas espécies.
Ao bom estilo da Cosa Nostra di Vallis Longus, o Don viu ali uma janela de oportunidade e convidou o líder da Família rival da invicta para um jantar (o Tribunal de Contas descobriu há pouco quem pagou a conta) e entre uma garfada e a seguinte, lá acertaram os pormenores do canteiro.
Maria José Azevedo não aceitou obviamente ser reciclada à força e avançou com Coragem de Mudar o que estava mal, de forma independente. Quanto ao Povo, fez quase tudo bem, excepto num pequenino detalhe:
- Deu ao Padrinho a maioria mais pequena do País;
- Deu às duas parcelas divididas do canteiro, as condições necessárias para controlar os desmandos de Don Fernando;
- Porém, reforçou de forma injusta, o lado menos produtivo do mesmo.
As consequências estão à vista:
A Câmara faliu, enquanto o Don dorme em serviço, exagera no absentismo, gasta mais que a mesada, prevarica, enche a Câmara de sobrinhos afilhados, genros, noras e afins, não cumpre as leis do País, mente à oposição ou sonega-lhe informação relevante.
Perante tudo isto, a subespécie maioritária do canteiro ficou afónica (existem rosas que falam mas não esta) mas pior do que isso, transformou o caule da rosa numa ajuda técnica que se tem revelado fundamental para mascarar os desequilíbrios do velho senhor, consequência do pouco cuidado que tem com a boca – sobretudo com um certo tipo de líquidos de efeito mais demolidor.
Melo – todos já demos por isso - está preso por arames daqueles que as floristas usam para manter o caule das rosas, firme e hirto por um pouco mais tempo do que aquele que a natureza permite.
Mas o Don conta com uma outra ajuda técnica: a do ex-vice rei de Gaia e actual secretário de Estado e também seu ex-vice em tempos idos. Velha amizade, ou algo mais?
Preso por arames, levado em braços, terminará o mandato, como um verdadeiro Don e a defender a Cosa Nostra di Vallis Longus - como sempre tem feito.
(*)The Godfather – Francis Ford Coppola, 1972
Celestino Neves