NÃO AO FIO NORTE CONTRAFEITO!
Segundo a edição do Jornal SOL de hoje, cinco volumes e um conjunto indeterminado de cassetes com a gravação das sessões de julgamento de uma acção cível contra as empresas Caminhos de Ferro (CP) e Rede Ferroviária Nacional (Refer) desapareceram do Tribunal da Relação de Lisboa.
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Trata-se de uma acção cível contra a CP e a Refer que foi interposta pelo desembargador Eurico Reis e por duas familiares.
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«O desaparecimento de um processo de um tribunal é raro e estranho», garante fonte da Relação».
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Não é não, cara "fonte da Relação"!
Pelos vistos aí pela Capital andam bastante atrasados no que toca a processos judiciais com locomoção autónoma que de repente resolvem ir dar uma volta.
Seja porque se cansem de estar para ali nas prateleiras sem mexer uma palha – nem um trabalhador que se preze gosta de ser posto na prateleira – seja por qualquer outro motivo que não vem ao caso, aqui na província, que é como se sabe, toda a vasta região à volta da Capital - estas fugas já não constituem propriamente uma novidade.
Os valonguenses por exemplo, tiveram o privilégio de poderem beneficiar de alguma visibilidade proporcionada por um destes mediáticos casos noticiado AQUI, em que um conhecido autarca - o presidente da Câmara Municipal de Valongo Dr. Fernando Melo, se viu de repente libertado da maçada de uma provável acusação por parte do Ministério Público, graças a uma destas fugas.
É que, ao contrário das protagonizadas por presos das cadeias que de vez em quando resolvem tentar a sua sorte pulando a cerca enquanto os guardas assistem ao Porto/Benfica ou às novelas da noite da TVI, estas, por envolverem objectos aparentemente sem vida própria e ainda por cima, quase sempre manietados por uma ou duas laçadas de fio norte, tem sempre um impacto maior junto da opinião pública e também da publicada.
Neste último caso relatado pelo SOL, ficamos sem saber se os inertes foragidos – processo e cassetes – estariam ou não atados com fio norte genuíno. É que este pormenor aparentemente sem importância, pode fazer toda a diferença, dado que nas lojas dos chineses já se vendem uns novelos de cordel com aparência semelhante, mas que não garantem nem de perto nem de longe os parâmetros de segurança do verdadeiro, que até tem Norte no nome.
Mas claro que até mesmo os mais elevados padrões de qualidade do dito fio podem não servir para grande coisa, se quem faz o atado, seja por falta de jeito ou por deliberada negligência, resolver dar a laçada com nó simples, ou lasso quanto baste, para facilmente se desatar.
Obviamente que o inerte, sabendo que está a sair de uma prateleira a caminho de outra e mais outra e quem sabe, mais outra ainda, num ciclo interminável que à vezes pode chegar mesmo às frias e espartanas prateleiras do Tribunal Constitucional, não hesitará em aproveitar a porta entreaberta, perdão o nó mal atado, para tentar a sua sorte na fuga!
Aqui em Valongo, essa fuga teve pelos vistos êxito absoluto e a famigerada Certidão - porque era disso que tratava - nunca mais foi vista por estas bandas.
Apesar de tudo, um foragido, sobretudo quando se encontre na posse de provas comprometedoras, é sempre um risco para aqueles a quem pode comprometer se vier a ser recapturado e mesmo que tenha sido alvo daquele tratamento radical a que os brasileiros costumam chamar "queima de arquivo", há sempre uma possibilidade de alguém o ter clonado (nos inertes à base de celulose, vulgo papel, costuma atribuir-se à clonagem a designação de fotocópias).
Por isso é que se consta que Fernando Melo ainda hoje sofre de episódios esporádicos de terrores nocturnos imaginando-se a ser asfixiado por uma laçada de fio norte com vida própria com cerca de dois metros, a mesma que atava (mal) a certidão em causa e a respectiva pasta acondicionadora.