JAQUINZINHOS E BARCA VELHA?
Todos nós já fomos miúdos e dependendo da idade de cada um, somos uma espécie de "produto" de uma determinada época, quase sempre condicionados/moldados pela mesma, independentemente do quase sempre inglório esforço que regra geral, os nossos progenitores faziam para reduzir ao mínimo a "nefasta" influência que a mesma exercia na formação da nossa personalidade.
É por isso que com frequência nos surpreendemos com uma aparentemente inexplicável contradição, que é a de "produtos" de épocas muito próximas serem às vezes tão diferentes nos seus hábitos, nos seus gostos, nos seus comportamentos.
No meu caso por exemplo, em que já não vou para novo, tenho um daqueles pequenos segredos "inconfessáveis" e socialmente comprometedores que, acho que pela primeira vez, vou partilhar:
Gosto de apreciar esporadicamente um bom manjar acompanhado de uma boa bebida em doses muito mas mesmo muito moderadas, mas gosto igualmente - e aqui vem a parte "inconfessável" do segredo - de uma boa dose de "jaquinzinhos" com um arrozinho de feijão vermelho bem malandrinho, igualmente acompanhado e com a mesma moderação atrás referida, por uma boa "pomada".
Dizem-me os amigos quando me apanham nesta última situação comprometedora, que "é o meu pé a fugir-me para o chinelo". Será...
Agora num e noutro caso, acho que seria completamente incapaz de enfrentar uma Barca Velha 1966 Tinto (preço de referência €375,00)!
É sangue azul demais para o meu chinelo e acho - acho não, tenho a certeza! - que me cairia mal podendo até dar-se o caso de me fazer parar a digestão, ou pelo menos de me provocar uma desagradável azia.
Claro que há outras razões que explicam esta insanável incapacidade:
É que mesmo que fosse capaz de cometer o pecado mortal de "casar" a tal da Barca Velha com os tais "jaquinzinhos", nem assim o meu cartão de débito, que por acaso é de cor azul e não dourada, conseguiria comportar tal loucura - sobretudo tendo em conta o tempo que levaria a repor o respectivo plafond (no meu caso, o saldo).
No entanto, conheço pessoas - por exemplo, um dos casos que me ocorrem assim de repente é o do Dr. Fernando Horácio meu dilecto amigo e autarca de eleição (no sentido literal) - que não estando assim tão distanciadas da minha época em termos de vinda ao mundo, emborcam tão nobres exemplares de garrafas do precioso e velho néctar com a mesma facilidade com que eu emborco garrafas de água do Luso.
Moral da história: Tal como não bastam condições climáticas excepcionais idênticas num determinado ano para conseguirmos obter de uma mesma casta, ainda que em courelas contíguas, um produto vinícola igualmente excepcional, também não é apenas a época em que nascemos e crescemos e que de alguma forma nos condicionou, que por si só faz de nós bebedores normais ou "apenas" requintados degustadores de rótulos, sobretudo quando os rótulos são a parte mais relevante e mais valiosa do produto!