A CÂMARA DE VALONGO E A PROMOÇÃO DA 'CAÇA AOS GAMBOZINOS'
Se existem pessoas com razões mais que suficientes para defenderem a democracia representativa, eu sou uma delas. Ao longo dos mais de 40 anos de democrata que me orgulho de ser – de forma consciente e assumida, obviamente, que ‘democrata’ já eu tinha escrito na testa quando nasci, mas só comecei a dar por isso um pouco mais tarde - fui-o na ‘forma representativa’ em inúmeras situações relevantes desde a representação em comissões de trabalhadores e no movimento sindical de base de uma das então grandes empresas do País e passando pelo desempenho de cargos de direcção em estruturas de topo – se é que se pode aceitar esta designação - no movimento sindical português.
Um dia destes, ainda vou conseguir arranjar tempo e vontade para preparar uma versão em papel do meu portefólio pessoal, devidamente encadernada e depois oferecê-la a um ou outro democrata representativo da nossa Câmara que me anda a incomodar com definições minimalistas sobre o conceito de Democracia Representativa. Bem sei que esse entendimento minimalista que alguns vereadores têm sobre as funções em que foram investidos pelos eleitores, não é uma pecha de que apenas Valongo padeça. Todos sabemos que poucos são os deputados nacionais que têm a preocupação sistemática – e o respeito também – de se reunirem periodicamente com os eleitores do seu círculo, ou pelo menos com aqueles que integraram o seu staff eleitoral e sem os quais não teriam conseguido seguramente subir o caminho que os conduziu ao pódio. Mas uma coisa é sermos ‘representados’ por omissão – a situação mais habitual, menos lesiva, mas nem por isso menos criticável - outra bem diferente é sermos representados de forma errada, comprometedora dos nossos legítimos interesses e desnecessariamente litigante em relação a pessoas que por razões que não vêem ao caso, até nem mereceriam que o fizéssemos.
E como tudo poderia ser diferente se as regras mínimas de articulação que a nós próprios nos ‘impusemos’ na nossa relação com os eleitos e na deles connosco, estivessem a ser devidamente aplicadas.
Vem isto a propósito da reunião de Câmara de hoje – deveria ter sido por aqui que eu deveria ter começado – e de uma intervenção de um Vereador da Coragem de Mudar que independentemente de poder ser feita à mesma, de não estar em causa o direito que tinha de a fazer, deveria ter sido direccionada para alvos reais e não virtuais, alvos bem ‘grandes’ por sinal e onde até seria mais fácil acertar e ao cidadão comum compreender as verdadeiras razões porque gastamos as nossas munições.
Assim, tenho ideia que vão ficar a pensar que nos andamos apenas a entreter numa divertida 'caça aos gambozinos' deixando o ‘tubarão’ – há quem lhe chame ‘polvo’ - à vontade para continuar a provocar os estragos do costume...
Como diria o Diácono Remédios – um ‘boneco’ criado pelo grande Herman José – ‘não havia necessidade’! E a frase fez hoje todo o sentido, na reunião pública de Câmara.