NANISMO, COMPEXOS DE INFERIORIDADE, TIRANIAS E FENÓMENOS CORRELATIVOS...
‘Independente até à medula’ é um qualificativo de conotação geralmente positiva, com que procuramos descrever alguém (ou a nós próprios) que não se deixa condicionar nem manietar na altura de tomar decisões.
Mas é uma frase que muitas vezes também tem, ou pode ter, um sentido perverso:
No ser humano como animal político – e aqui ‘político’ deve ser entendido no sentido lato e não no de qualquer tipo de vinculação partidária – há ‘dependências’ inultrapassáveis e ‘independências’ inaceitáveis.
Ninguém sabe tudo sobre todas as coisas, ninguém ‘move montanhas’ independente da ajuda de terceiros, ninguém muda um mundo cheio de pessoas, sem interagir com uma parte delas – e interagir implica assertividade, negociação, coordenação de movimentos, para que quando forçamos a alavanca, tenhamos sempre a certeza de que todas as forças com quem partilhamos o objectivo comum, se conjugam no mesmo sentido.
O verdadeiro independente não tem de ser – não pode ser nunca – uma espécie de ‘organismo unicelular’.
O verdadeiro independente só o é, porque assume as características do conjunto de células que integra, sendo que o qualificativo só faz sentido quando aplicado ao todo e não à parte.
O verdadeiro independente, tendo embora um umbigo como todos os seres humanos normais, nunca fixa no mesmo o seu olhar (tampouco no dos outros) na hora de tomar decisões.
‘De olhos nos olhos’ é talvez a melhor postura para o fazermos, por ser aquela que melhor permite que os megabits de informação partilhada fluam de forma livre e menos susceptível de falhas.
Claro que todos sabemos que o ‘módulo óptico’ não está ao mesmo nível no conjunto dos elementos do grupo e por vezes esquecemo-nos de que a articulação cervical onde o mesmo se situa, é mesmo isso: uma articulação.
Se somos um pouco mais baixotes, teremos forçosamente que mover a mesma no sentido ascendente e ao contrário, se somos do tipo XXL, obviamente o inverso.
É infelizmente muito vulgar entre os primeiros a existência de um certo complexo de inferioridade idêntico ao que afecta um conjunto seres humanos ‘diferentes’ dotados de características físicas cientificamente designadas por nanismo, mas que não tem em qualquer dos casos nenhuma razão de ser. A verdade, é que esse complexo, que evidentemente não faz qualquer sentido, transforma-os muitas vezes em 'pequenos tiranos', sobretudo se investidos de algum poder ou capacidade de influenciar decisões - entendendo-se aqui a pequenez como um estado interior e nunca no sentido físico propriamente dito.
Neste exacto contexto, ganha aqui pleno sentido a frase de um autor cujo nome agora não me ocorre: "Nunca dês ao lobo a guarda do rebanho nem o trono a um homem pequeno".
Olhar para cima não é nunca sinal de servidão, da mesma forma que olhar para baixo – desde que não seja para o respectivo umbigo – não pode ser entendido como sintoma de sobranceria.