TRANSPORTE DE DOENTES NÃO URGENTES...

Uma das 'regras de ouro' dos últimos governos visando a contenção da despesa pública 'na defesa do Serviço Nacional de Saúde', consiste em cortar em tudo que, possa embora parecer essencial, ou mesmo sendo-o de facto, tenha em contrapartida a 'vantagem' de mexer apenas ou quase só com pessoas sem capacidade reivindicativa.
Aliás, de tão habituados a tirar o chapéu quando os senhores doutores do governo falam deles e de tudo de bom que por eles vão fazendo, os visados pelos cortes, chegam até a ficar convencidos de que os sacrifícios que lhes impõem são uma inevitabilidade, uma consequência da "tal crise" de que ouvem falar em todos os quatro canais que a televisão digital terrestre lhes 'vendeu' - é o termo exacto, depois de terem sido obrigados a comprar aquela 'coisa' chamada descodificador...
Um dos cortes desde já anunciados, é aquele que tem a ver com o transporte de 'doentes não urgentes'.
O Hospital fica a mais de uma dezena de quilómetros? Paciência! Alguém com bom coração e (ainda) com dinheiro para a gasolina do carro e que por feliz acaso tenha de se deslocar para aquelas bandas, há-de representar a solução.
Mas também, mesmo que a gasolina falte, que o carro enguice, que não haja ninguém a ter de ir para os lados do Hospital, restará sempre a solução de 'transporte colectivo' destes novos tempos de crise: Três burros 'ligados em série' à maneira dos electricistas e de que a fotografia acima é um exemplo.
Um deles, monta-o a Ti'Arminda, a condutora e que também vai a uma consulta "por causa do coração que não anda bem" e os outros dois, podem resolver o problema do exame à próstata do Ti'Otílio e das análises e da radiografia aos pulmões da Ti'Adelina.
A Ti'Arminda é solidária e por isso vai fazer dois pequenos desvios para os pegar nos respectivos casebres onde moram e onde iriam ficar resignados à espera de melhores dias para os ditos exames.
Com um pouco de sorte do senhor Herculano da funerária da Vila - a sorte de uns é a má sorte de outros - não fosse a bondosa Ti'Arminda e talvez nem viessem a precisar da deslocação.
Retalhos do País real, de um País em crise profunda - que no entanto, não é para todos, mas apenas para aqueles que não a podem evitar, nem aos nefastos efeitos e ao sofrimento atroz que a sua passagem provoca aos mais frágeis e desprotegidos. Este País não é para velhos - sobretudo, velhos doentes e pobres!