'PLANANDO' SOBRE UM TEMA POLÉMICO...
Há quem entenda o casamento como um 'contrato de exclusividade' em cujo clausulado deve estar sempre incluído o amor.
Ora bem... sendo em princípio um contrato voluntariamente assumido pelas duas partes, até faria sentido que assim fosse, mas também nada obsta a que possa não o ser, sobretudo na sua vertente católica, que o considera irrevogável - 'até que a morte nos separe'!
Como primeira discordância de fundo, um contrato firmado de forma honesta, nunca deve excluir uma cláusula de rescisão e depois, não pode incluir clausulado cujo cumprimento não dependa da vontade de qualquer das partes.
Como segunda discordância - ainda de fundo - o termo amor é tão subjectivo, que fazer depender dele a genuinidade do contrato (casamento) assumido pelas partes, é manifestamente uma violência psicológica inconcebível, face a penalização social que aqueles que eventualmente se atrevam - ainda e uma vez mais na sua vertente religiosa - a quebrar uma das 'cláusulas' (a perenidade) sempre sofrem.
Chegamos pois a um ponto em que se impõe que coloquemos as seguintes questões:
Se as duas partes, atentos os superiores interesses de terceiros (nomeadamente os filhos) concluírem que a parte 'exequível' do contrato é compatível com uma relação de companheirismo, de cumplicidade, de entreajuda na resolução dos problemas comuns, sem constrangimento de nenhuma delas, sem colidir com a sua liberdade individual, porquê atrbuir tanta importância à inexistência de uma cláusula introduzida abusivamente - o amor no sentido que a sociedade atribui ao termo quando aplicado no contexto de um casal?
Podem ou devem as duas partes conviver com o facto de uma delas ou mesmo ambas, em determinado ponto do seu percurso de vida comum poder ou poderem vir a envolver-se sentimentalmente com uma terceira sem que isso implique necessariamente uma ruptura na sua relação? A minha resposta é claramente sim.
Ouvimos muitas vezes referências a vários tipos de amor. Ouvimos até dizer que se pode amar - na vertente mais comum do termo - mais do que uma pessoa ao mesmo tempo e que isso pode nem sempre colidir com uma relação saudável a nível do casal. Talvez tudo isso seja verdade. Inclino-me mesmo mais no sentido de que o seja mesmo, mas na base de tudo, acho que o cimento da relação de um casal é uma mistura de vários componentes e não apenas de um, porque se fosse apenas o amor em regime de exclusividade a manter o casamento, então, com tudo o que de negativo isso representa, quando ele descamba para o tipo excessivo, possessivo, doentio - embora (ainda) amor - obrigará a que se tenha de introduzir uma qualquer 'cláusula travão que possa evitar os inúmeros excessos, a muita violência e mesmo as muitas perdas de vidas de que vamos tendo notícia.
Por mim, acho que amor - no contexto em que escrevo - é uma questão íntima, pessoal, não passível de regulamentação e que deve estar sempre fora de qualquer contrato específico - ainda que esse contrato possa ser o contrato de todos os os contratos: o Casamento.
Quer-me parecer que se assim fosse, se deixássemos - muitas vezes de forma hipócrita - de valorizar detalhes irrelevantes, teríamos seguramente mais casamentos felizes e menos divórcios problemáticos, conflituosos ou mesmo dramáticos.
(Disclaimer: Limitei-me a teorizar sobre um tema que me atrai e que não tem - mas podia muito bem ter - obviamente nada a ver comigo em termos pessoais...)