PASSOS COELHO 2013 - MILAGRE OU 'EFEITO PLACEBO'?
Desde a separação entre a Igreja e o Estado português, que passou a ser laico e portanto teoricamente em condições de poder representar todas as sensibilidades dos seus cidadãos, que não assistíamos a uma tão profunda e publicamente assumida manifestação de fé por parte de um primeiro ministro de Portugal. Foi no Pontal e o protagonista encarregou-se da oração de graças pelo facto de em 2013 Portugal deixar de estar em crise, ou pelo menos, de iniciar o movimento ascendente rumo ao paraíso.
É sempre comovente, até para um agnóstico como eu, assistir a orações tão profundante convictas, sobretudo quando como neste caso, o interveniente parece acreditar mesmo naquilo que diz e defende essa crença com toda a força da sua aparente convicção, mas tratando-se de alguém que terá de fazer mesmo parte integrante do milagre que anuncia para que este tenha alguma hipótese de 'ocorrer', então a nossa embrionária fé começa a sofrer o primeiro abalo. Passos Coelho subiu ao púlpito com expectativas muito baixas, com ausências incómodas entre os crentes mais mediáticos, com manifestações de fé moderadamente calorosas - algumas de simples e notória conveniência, por causa do risco dos fotojornalistas e Paparazzi do costume captarem alguma pose mais indiferente...
Não assisti à oração na totalidade - vi apenas alguns excertos dispersos na profusa cobertura televisiva dos canais 'puxa-sacos' do costume - mas no pouco que vi e nas imagens de aproximação durante a devota prece, pareceu-me ver sobre a cabeça do orador - no sentido literal do termo - uma imperceptível auréola de santidade, o que é um caso notável, tratando-se da pessoa em causa.
Porém - mais um inevitável abalo na embrionária fé - não o ouvi pedir perdão por ter participado no maior assalto jamais praticado em Portugal em que eu fui um entre as muitas vítimas do 'arrastão', por ter vendido todos os nossos anéis que tinha à sua guarda sem sequer nos consultar, por ter vendido a 'quota restante' da nossa soberania à ex discípula de Heinrich Honecker sem nos dizer sequer 'água vai', mas também, uma branca qualquer um pode ter e o que interessa é o milagre de 2013!
Quem é que disse que a fé move montanhas?
Estando como estamos sem alternativas, só nos resta mesmo é acreditar, por pouco que seja, no misterioso domínio do exotérico, ou então, no chamado 'efeito placebo'. Passos Coelho poderá representar assim esse 'misterioso efeito' sobre o tamanho do nosso desânimo e se pelo menos isso ele conseguir, já será alguma coisa.
O grande problema, é que numa sociedade minimamente informada como (já) é a nossa, as pessoas têm a mania de ler sempre a 'bula' que vem dentro da caixinha antes de ingerir a 'droga' e assim acontecendo, lá se vai o tal 'efeito' - a não ser que, como em tantos outros actos do governo, Passos Coelho arranje maneira de falsificar a 'bula'...