ABRIL PODE SER QUANDO UM HOMEM QUISER!
Vivemos dias de raiva - por enquanto contida, mas indiscutivelmente corrosiva - e expressámo-la de formas bem diversas, algumas admiravelmente criativas.
Sendo suposto 'agredir' a Troika da nossa revolta com tudo aquilo que de mais contundente tivéssemos à mão, eis que a inesgotável imaginação de uma mulher portuguesa - talvez parente muito afastada da conhecida padeira de Aljubarrota - resolveu ontem - no decurso da manifestação de Lisboa - carregar com um cabaz de suculentos e macios tomates para 'armar' algumas dezenas de manifestantes, que obviamente não se fizeram rogados e se serviram dos mesmos, não para os comerem, mas para com o seu arremesso, dar à fachada do edifício do FMI a cor do sangue que nos sugam há tempo demais!
Depois a mensagem subliminar daquela outra mulher, que com o já distante Abril do nosso contentamento ainda na memória, resolveu oferecer um cravo vermelho a um dos polícias do Corpo de intervenção incumbido de defender a sede do mal que se abateu sobre nós, alguns talvez com uma enorme vontade de largar a farda e passar para o lado dos que têm razão - porque Portugal não está a beneficiar de um resgate, mas sim a ser vítima de um assalto e o papel natural de um polícia, é sempre o de lutar pela lei e a ordem, logo, lutar contra os verdadeiros assaltantes que nos entraram fronteiras adentro com 'licença para roubar'.
De todas estas e de muitas outras imagens, que foram capazes de fazer na nossa memória a ponte entre Abril de 1974 e Setembro de 2012, ficou uma certeza: Abril pode perfeitamente ser em Setembro, em Dezembro que seja - ou como diz o poeta - Abril é quando o homem quiser! Desde que seja a tempo e em tempo útil.
E depois de já quase tudo ter sido dito sobre o civismo da maior manifestação de sempre em Portugal, o merecido destaque - pela positiva desta vez - para o comportamento irrepreensível da Polícia - ela que sente na carne as dificuldades que todos nós sentimos, acrescida de uma incumbência bem desagradável como 'suplemento', mas que não pode obviamente recusar: defender os costados da 'bandidagem' a quem o País foi entregue para ser governado, na última (esperemos que no sentido literal do termo) distracção do Povo na altura de colocar a cruzinha no seu voto.