DA PRAIA AO BALCÃO, COM DINHEIRO OU CARTÃO ...
Outono.
Até ontem - grande chuvada aquela que me surpreendeu no silêncio da noite - foi tempo de absorvermos com mais ou menos discrição, a beleza dos femininos corpos seminus – claro que admito a preferência delas pelos que ostentam menos redondezas - fruindo os prazeres do sol, as carícias das ondas nos nossos pés naquele ‘toca e foge’ que nos delicia e nos mantém na linha imaginária que guia os nossos passos entre a parte transitável da praia e a superfície navegável que lhe determina o limite.
A partir de agora, esse tipo de beleza, grande parte da qual deveria ser considerada ‘património estético da humanidade’, vai ser substituída – escondida seria talvez o termo mais adequado - por aquela outra ‘beleza’ vendida num balcão perto de nós: marcas como Ralph Laurent, Diesel, Levis, Calvim Klein e tantas outras - passe a publicidade que ninguém me encomendou - vão assumir o 'papel principal', valorizadas é claro, pela diferença entra o cabide da loja e o suporte onde passarão a ser publicamente exibidas...
Mas já agora e para que não me chamem de tendencioso, deixem-me dizer que em tempos de crise e de negócios fáceis, podem também ser encontradas sobre uma simples tábua da feira mais próxima - que a contrafacção não exige balcões luxuosos nem atendimento personalizado - ou ainda numa loja do chinês perto de si.
Apesar de tudo, gosto mais da época estival, não apenas porque é mais do tipo de nos ‘encher o olho’ mas sobretudo, porque na loja de marca, na feira ou na loja do chinês, a beleza do Outono/Inverno que agora se começa a vender, nos pesa sempre muito mais na carteira e contém em si mesma uma insanável contradição: pagamos para não ver aquilo que ela vai esconder!