'BEM AVENTURADOS' OS POBRES DE ESPÍRITO...
São católicas todas as minhas raízes, são católicos praticantes todos os meus mais próximos, eu próprio noutros tempos me envolvi numa certa ala activista da Igreja católica - a JOC e depois a LOC - colaborei com o pároco da minha terra na animação da missa dominical, na participação nos grupos de jovens, etc., mas neste momento, se alguma chama me animasse ainda nessa área, se porventura ainda tivesse algum activismo organizado - nas várias frentes que a Igreja ainda vai conseguindo manter em Portugal - estaria como é costume dizer-se, 'a rasgar o cartão', depois de ouvir D.José Policarpo a falar sobre o que não deve e a não dizer nada sobre o que deve.
No fundo, juntou-se ao coro de imbecis que nos desgovernam, quando proferiu ontem em Fátima, palavras insensatas que nunca imaginei ouvir da sua boca - eu que o considerava um homem de opinião, um homem de sensatez consolidada, um homem que não se limitasse a alinhar pela opinião oficial - engrossando o grupo dos imbecis que destroem a nossa Pátria por dentro e nos tentam convencer em cada dia, em cada minuto, em cada segundo, que não existe outro caminho, que não há espaço para a indignação, que lutar é coisa de outros tempos e anti constitucional, não deixando nem uma palavra de conforto e de solidariedade para as suas 'ovelhas' que sofrem!
Fraco pastor este que abandonando que o rebanho para se juntar aos lobos, corre o risco de um dia destes olhar para o lado e já não avistar nenhuma das ovelhas por terem sido todas dizimadas ou simplesmente 'emigrado' por instinto de defesa...
Ficamos zangados quando os homens imbecis proferem imbecilidades, mas ficámo-lo mais ainda quando elas nos chegam da parte de homens inteligentes, homens de ciência como eu considerava D. José Policarpo! - considerava, porque acabei de o adicionar à manada de imbecis que andam por aí a agredir o País, exibindo uma opulência ostensiva de meios que são pagos por todos nós, depois de o ouvir dizer ontem em conferência de imprensa, que não é com manifestações de descontentamento na rua, com protestos, com o exercício de um dos mais elementares direitos em Democracia, o direito à indignação, sobretudo aquela mais genuína e mais pura, não organizada por grupos de influência - que obviamente também têm todo o direito a promovê-la! - que se resolvem os problemas. Aliás, ele faz pior: considera que põem em causa a nossa Constituição e que acredita que as medidas de austeridade são necessárias e vão resultar!
Vale a pena abrir o link que remete para o PÚBLICO e para as suas declarações.
O homem foi claramente 'além da chinela' e nem me atrevo a reproduzir o role de imbecilidades que proferiu!
Desrespeitando e ofendendo os que sofrem, recuou em certa medida e salvaguardando apesar de tudo algumas diferenças de contexto, até aos tempos tenebrosos de má memória da Igreja da Inquisição: investido das funções que detém na hierarquia, criticar os que lutam contra a opressão é meio caminho andado para começar a denunciá-los do alto do púlpito ao poder iníquo que arranjará seguramente 'masmorras' bastantes para enfiar o tal 'poder da rua' que que não agrada a José Policarpo. Não sei como é que não tem a dignidade de despir a batina da Igreja dos pobres e oprimidos que vestiu seguramente por engano e envereda por um fim de carreira na política, quiçá como ministro das finanças!
Na génese da Igreja Católica estiveram sempre os mais pobres entre os pobres e por isso é que (ainda) assinala algumas excepções relevantes de alguns dos seus santos, oriundos de famílias abastadas, mas que resolveram fazer uma opção de pobreza para engrossar o número daqueles que lutavam por um mundo melhor e ajudá-los nesse percurso difícil.
José Policarpo foi hoje a excepção contrária - um novo Cerejeira sem Salazar mas com um Coelho saído da cartola da senhora Ângela Merkel que nos visitará brevemente e que seguramente lhe virá beijar o anel cardinalício em sinal de agradecimento por este acto de pura bajulação ao poder, enquanto este investe com toda a violência sobre os oprimidos.
Já não temos a PIDE mas continuamos a ter muitos carrascos e ele usou o 'púlpito' do seu estatuto para sinalizar aqueles cuja execução há-de ser levada a cabo pelos mesmos!