(...) Aceitar ou repudiar.
Ninguém é obrigado a aceitar uma herança. Mas esta decisão deve ser bem ponderada. Embora as dívidas do falecido só sejam pagas até se esgotar o valor correspondente ao da herança, o herdeiro poderá ter de provar aos credores que já não há mais bens para saldá-las (...). (Respigado de um artigo da DECO-PROTESTE de 10 de Julho de 2012 intitulado ‘Licença para Herdar’) Ora bem… Como todos temos ainda bem presente na nossa memória, os céus de Valongo toldaram--se de nuvens carregadas de dúvidas, quando os valonguenses se viram de um dia para o outro, órfãos de Fernando Melo. Sobretudo, porque a fazer fé nos que mais de perto privavam com o decano dos autarcas do País, este parecia vender saúde política. E as dúvidas sobre as consequências do infausto desenlace foram nesse momento mais que muitas. Teria o Padrinho deixado testamento lavrado? Teria indicado herdeiro específico ou iríamos ver a alaranjada família envolvida num hipotético duelo a quatro, a discutir o lugar do primogénito? Tiveram curta duração as ditas, porque em menos de um milissegundo, o delfim deu o passo em frente, que já se adivinhava a partir daquela frase lapidar, música para os nossos ouvidos e que foi publicada neste mesmo Jornal: ‘tenho vontade de ser Presidente da Câmara’ . Fernando Melo, lúcido e atento como sempre foi até ao fim dos seus dias em Valongo, teve em linha de conta a vontade expressa por João Paulo Baltazar e passou-lhe para as mãos o ceptro do poder. Ainda bem (para os dois) que nenhum agiu a contragosto, mas ainda mal para os valonguenses, porque por mais bem escolhida que seja a água de colónia do actual mandante ou as perfumadas essências que coloca na água do banho, dificilmente se libertará do cheiro a mofo que a herança lhe transmite. Todos sabemos a enorme diferença entre o cheiro a zero quilómetros daquele carro que andamos a namorar durante meses a fio e o daqueloutro, quando, forçados pelas contas feitas e refeitas concluímos que apenas temos (quando temos) pedalada para o manhoso vendedor de usados que nos tenta impingir a história do costume: “apenas 15 mil, como novo, porque o dono era um senhor idoso e só o conduzia de vez em quando” (15 mil martelados à socapa, obviamente). Por mais lavagens especializadas de estofos e interiores, a carripana nunca se libertará daquele odor característico ao mofo lembrando as caves onde é aconselhável guardar as garrafas de Barca Velha de que Melo tanto gostava, nem a sua condução conseguirá disfarçar os indisfarçáveis ziguezagues provocados pelos efeitos das ditas e que de tão repetidos, acabaram por viciar irremediavelmente a direcção da viatura! Voltando ao princípio – e ao artigo da DECO-PROTESTE – o herdeiro saiu claramente a perder ao aceitar a herança. Podia ter lavado literalmente as mãos e ter vestido uma daquelas túnicas brancas que lhe daria um ar angelical (o branco sempre esteve associado à pureza) nas eleições de Outubro. Deixou-se no entanto tentar pelo brilho efémero de um vulgar e dourado porquinho vazio de dinheiro metálico ou papel moeda mas cheio de dívidas a pagar e só tarde demais deu pelo logro. Se é que foi logro, porque há quem encontre prazer na autoflagelação. (Pequena nota de rodapé: o problema do herdeiro, é que a herança ainda não foi consolidada. Só o será, depois de registada no alaranjado notário da concelhia PSD. Por enquanto, João Paulo Baltazar tem apenas o seu usufruto).
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