"Valongo é alternativa ao mar"
ENTREVISTA A JOSÉ MANUEL RIBEIRO É candidato à Câmara de Valongo pela segunda vez. Afirma que o PS aprendeu com os erros e que o passado "é um farol". Entre críticas para dentro e para fora, garante não precisar de 20 anos no poder "para pôr o concelho no mapa" da Área Metropolitana
Dora Mota
- O slogan de campanha do PS é "Mudar Valongo". O que quer mudar?
- Mudar é acreditar nas pessoas. É incompreensível que, em 20 anos, a Câmara nunca tenha feito um orçamento participativo. Quem não pergunta às pessoas coisas tão simples como onde gastar parte dos recursos é porque não acredita nelas. Também quero mudar o facto de o concelho ter ficado para trás na Área Metropolitana do Porto (AMP), com peso e visibilidade praticamente zero. No seu entender, porquê? Porque tem tido maus governantes, que não tiveram o engenho e arte para convencer os parceiros da AMP a tornar as serras de Santa Justa e Pias um espaço metropolitano, é área de protecção local. E ainda há pouco tempo ficamos espantados com a assunção da Câmara de que não foi tida nem achada na agregação dos agrupamentos de saúde de Maia e Valongo. É preciso mudar caras também para acabar com vícios. Recorde-se a parceria público-privada do estacionamento: alguém acredita que um presidente de Câmara desconhece que tem uma pinga de quase 200 mil euros no seu telhado?
- Em que é que o PS se vai distinguir da gestão atual, ao nível financeiro?
- Podemos ser uma comunidade transparente, com uma gestão rigorosa e sustentável. Neste mo mento, é o contrário.Faz-se festa com o facto de se ter assinado o Plano de Apoio à Economia Local (PAEL), mas eu acho que, em 308 câmaras, as 200 e muitas que não têm dívidas é que são supergestoras. Os valonguenses ficam satisfeitos quando se fala em promover a ardósia, fazer uma confraria do pão, mas aí somos obrigados a perguntar ao PSD o que andou a fazer nos últimos 20 anos.
- Fernando Melo foi sempre eleito nesses anos, como explica isso?
- Há muitas formas de criar expectativas, de conseguir manter o apoio da população - com obras para encher o olho ou apoios a determinados sectores. Aguentou-se muitos anos por culpa também da oposição, que nunca soube criar uma alternativa.
- É uma autocrítica ao PS?
- É, não me custa fazer autocríticas. A oposição tem uma parte dessa responsabilidade. Fernando Melo veio para Valongo numa altura em que havia muito dinheiro a circular, sobretudo da construção civil, e foi possível criar muitas expectativas. Ao fim de 20 anos, vemos o resultado. Fizeram-se centros culturais em todas as freguesias, que estão fechados ou com pouco público. Tivemos uma expansão urbana brutal, mas temos um cemitério de prédios inacabados. Nunca houve plano estratégico para o concelho. Alguma coisa falhou e é isso que vai estar em causa nas próximas eleições.
- E o que tem agora o PS que não tinha em eleições autárquicas anteriores?
- É um partido unido em torno de um projeto, com uma mensagem. Do contacto que tenho na rua com as pessoas, percebo que acham que chegou a nossa hora, que somos uma alternativa. E nós aprendemos com os erros.
- Quais foram esses erros?
- Isso não é o mais importante. O passado não pode ser encarado como um ancoradouro, mas como um farol que nos dá luz para o futuro. Fizemos, no ano passado, um processo de primárias amplamente participado e disse que o meu compromisso é desafiar todas as forças que estão na oposição. É um acto de grande generosidade, de quem aprende com os erros do passado. A Coragem de Mudar está neste momento num processo interno de debate em relação a uma coligação connosco.
- Está confiante que vai ser eleito?
- Sim, e que vou ter condições para fazer um bom trabalho. Não preciso de 20 anos para pôr Valongo no mapa. Vejo Valongo como a primeira alternativa ao mar na AMP, um local de grande qualidade para viver. Valongo tem tudo para dar certo. Tem uma população de quase 100 mil pessoas, com uma elevada percentagem de jovens, uma localização estratégica, tradições, património. Outros concelhos com muito menos fazem muito mais
- Qual vai ser a primeira coisa a fazer se for eleito?
- Pôr a Câmara em ordem, assim que conhecer o seu estado real. Ninguém fora do poder conhece verdadeiramente o estado da Câmara.
- Descreve um concelho sem peso político e uma Câmara falida. O que o move para deixar a sua carreira e ser presidente de Câmara de Valongo?
- Gosto muito de Valongo, sou daqui, cresci aqui. E não me resigno com o facto de Valongo estar nesta situação. Acho que é obrigação de todos os valonguenses darem um contributo para pôr Valongo no mapa. O que me move é isto porque hoje ser autarca é só dificuldades.
[PERFIL]
José Manuel Ribeiro, 41 anos. casado e com dois filhos, nasceu em Valongo, onde já é experiente nos órgãos municipais. Foi candidato do PS à Câmara em 2001, onde foi vereador sem pelouros entre 1998 e 2005. Há oito anos que é deputado municipal. Foi deputado na Assembleia da República durante cinco anos, até 2011. Líder da concelhiade Valongo do PS, foi o primeiro a assumir a candidatu ra à Câmara. É licenciado em Relações Internacionais e tem um MBA em Gestão de Empresas. Foi presidente e diretor geral do Instituto do Consumidor e conselheiro das Entidades Reguladoras da Comunicação Social e dos serviços Energéticos. Atualmente, trabalha como técnico superior no Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).