MUNDO REAL (O REGRESSO...)
Chegou uma altura em que me cansei literalmente de viajar pelo espaço inter-galáctico arrastado pela ânsia constante e compulsiva de encontrar as novas realidades apregoadas até à exaustão, pelos convincentes vendedores de sonhos que em dado momento do meu percurso terreno se encontravam profusamente disseminados à minha volta...
Diziam-me ser necessário - e POSSÍVEL - reconfigurar o mundo, à luz de uma nova doutrina e construir novas sociedades onde os homens fossem mais iguais - ou menos diferentes...
"De cada um, segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades..."
A REALIDADE que me rodeava colidia definitiva e violentamente com este princípio: - os mais fortes , os mais capazes, os mais poderosos, eram os donos (NATURAIS) do PODER.
Aos outros- os mais fracos, os menos capazes e sem qualquer PODER, estava absolutamente vedada, qualquer tentativa de aceder ao mesmo.
Daí que nem fosse muito difícil convencer-me a embarcar na nave dos sonhos e partir!
Só necessitei de algum tempo para me programar, carregar baterias, ligar os propulsores:(MDP/CDE, Jornal Opinião, Jornal Àvante, PCP, Sindicatos, SUV-Soldados Unidos Vencerão- as acções defensivas do PREC-onde as armas nem sempre se resumiam às palavras mais ou menos inflamadas)
E fui!
Aportei numa imensa galáxia, onde era suposto tudo ser DIFERENTE.
Mas com o passar dos dias e apesar do esforço que fazia, só conseguia ver SEMELHANÇAS!
VANGUARDA, GLORIOSOS DIRIGENTES (ELITE, CLASSE DE PRIVELEGIADOS...).
De cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades (As CAPACIDADES de muitos eram de facto imensas, mas as NECESSIDADES de poucos eram tão grandes, que ABSORVIAM quase toda a riqueza por eles produzida!
Estava na Pátria do Socialismo - a Gloriosa URSS - e não descortinava vestígios do mesmo.
Apesar de tudo, insisti na busca, ao longo dos quase 7 meses que por lá andei, mas o que via todos os dias, era um Pôvo sofredor privado muitas vezes do essencial, em benefício da sua Gloriosa classe dirigente e de muitos largos milhares de estrangeiros - entre os quais eu me incluia - que por lá permaneciam num inegável e gigantesco esforço de catequização política...
Mesmo assim, fiz um esforço suplementar, para me deixar convencer e corresponder ao investimento que vinham fazendo comigo e lá parti de novo - após alguns meses de intervalo em trabalho sindical - desta vez, rumo a um País, artificialmente encravado dentro de outro País - a igualmente Gloriosa RDA
Caí definitivamente em mim e desisti !
E como desejei voltar! (não por saudades do que havia deixado, mas por acreditar que o SONHO, apesar de tudo, continuava a ser possível, sem a necessidade de importar modêlos, que ainda por cima, se resumiam a conceitos teóricos e não testados - ou pior do que isso - subvertidos e falseados)...
Foi bom enquanto durou: um pouco mais que um SONO, bastante menos que uma VIDA, que essa, prossegue por enquanto com horizontes bem mais terrenos - MAS ONDE APESAR DE TUDO, É AINDA POSSÍVEL ALIMENTAR O SONHO...