CONVERSAS IMPROVÁVEIS COM UM CÃO CHAMADO BALTAZAR #1
De forma algo inesperada, eis que surge a primeira oportunidade de conversar com o pequenote Baltazar de que falei AQUI há algum tempo atrás.
Guimarães, dia soalheiro, um pedido irrecusável para um passeio no jardim, com o saquinho de plástico no bolso - que afinal não foi necessário porque o pequenote só se aliviou em forma líquida - e lá veio a inevitável conversa sobre Valongo.
- Ó pequenote, antes de mais, explica-me lá melhor, porque outro dia ficou-me essa dúvida quando faladraste que sabias tudo o que se passava na Câmara de Valongo, como é que isso é possível a esta distância - saberes mais sobre Valongo do que eu que moro lá...
- Pois... vocês os humanos, animais ditos ineligentes, inventaram o telefone, o telemóvel, o SMS, o Facebook o e-mail e um belo dia, vem um qualquer Edward Snowden dizer-lhes que tudo isso pode servir para devassar a vossa vida a milhares de quilómetros de distância. Isto já para não faladrarmos naqueles casos caricatos em que vocês conversam no Facebook com uma garota 'topo de gama' que mais tarde descobrem ser afinal um matulão com um focinho mais feio do que o dos meus primos buldogues. Tudo muito tecnológico, mas no fundo pouco fiável e às páginas tantas, vocês já não acreditam em nada e já duvidam de quase tudo.
- Atalha pequenote, resume, porque não temos a tarde toda!
- Então é assim: quando um de nós toma conhecimento de uma coisa que pensa ser do interesse de algum companheiro de longe - ou do seu dono - coloca-a no ar...
- Como assim?
- Ladrando, daaaha! Dependendo da ração que os nossos donos nos tiverem dado, essa mensagem pode chegar... digamos que a 3 ou 4 quilómetros, com o vento de feição. É captada pelos colegas, com um pedido de repetição e assim vai avançando no terreno. Acredita que em território continental pode chegar a todo o lado independentemente da distância. E temos uma vantagem: nós não sabemos mentir. O que ladramos não é susceptível de segundas interpretações e para além do mais, farejamos sempre a veracidade da notícia que vamos colocar no ar antes do primeiro WOOF-WOOF.
(Neste ponto, já eu estava literalmente de boca aberta de espanto).
- WOOF! Acorda!
- Desculpa, surpreendeste-me. Mas pronto, já percebi a mecânica da coisa e então...
- Então, foi assim que eu há dias soube que uma coisa que tu escreveste sobre uma empresa da tua terra - Alfena - que fechou as portas e despediu os trabalhadores, provocou uma celeuma enorme.
- A SEC?
Sim, acho que é assim que se chama, que nós não somos muito bons com siglas - e um colega que costumava andar por lá, junto à entrada das antigas instalações aproveitando um ou outro bocadito de frango ou de salpicão que sobrava ou caía no chão quando os trabalhadores do armazém ou do parque de máquinas faziam o intervalo para a bucha da manhã ou da tarde, soube que tu foste um pouco injusto com o dono.
- Como assim?
- Tu escreveste que ele recebeu 1 milhão e tal de euros e que talvez tivesse ido de bermudas e chinelos para um paraíso fiscal qualquer gozar os rendimentos - o que é isso de paraíso fiscal?
- Passa à frente. Eu depois explico-te.
- OK! Então parece que o homem afinal está cá e até passa por algumas dificuldades. O dinheiro (parte do tal milhão, porque o meu homónimo que manda na Câmara ainda não o pagou todo) transitou através dos Bancos numa operação com um nome estrangeiro que tenho dificuldade em pronunciar - Factoring? - e não se sabe muito bem se foi uma 'operação de trânsito' ou se foi para pagar dívidas, que nós os caninos, de Bancos percebemos pouco e apenas os usamos durante a noite para alçarmos a perna nas suas entradas e dar trabalho à mulher das limpezas que entra antes às 7 da matina para remover com água e lixívia as nossas 'marcas'.
- Pois, mas o tal senhor foi dos que andou por ali pela Câmara envolvido numa coisa muito feia chamada 'ajustes directos'!
- Sim, sim, é verdade, mas segundo o meu amigo - e isto é o que se comenta entre a canzoada de Valongo - a partir de 2009, uma altura em que vocês realizaram aquela operação chamada eleições para colocarem no mesmo lugar o dono do costume, aquele que gostava de beber uma marca de vinho em que uma única garrafa custa mais que um ano da ração que eu como - eu ainda gostava de perceber porque é que vocês põem marcas nas bebidas para poderem cobrar 375 aéreos por menos de 1 litro...
- Euros! Mas atalha.
Pois... seja euros. Dizia eu, que a partir de 2009 e porque o senhor Almerindo (é o tal senhor da SEC) apoiou um tal Lobo grande...
- Lobão!
- Ah! seja - Lobão, Lobo grande tanto faz - a partir dessa altura, o tal senhor do vinho caro e o meu homónimo cortaram-lhe todos os contratos, apesar de continuarem com a enorme dívida por pagar.
- Quer dizer que empresa do tal senhor Almerindo deixou de ser 'non grata' na Câmara?
- Exactamente!
- Bem ... agora deixaste-me algo apreensivo. Se calhar fui duro demais com o senhor Almerindo no tal post... Mas a verdade é que ele durante muito tempo andou por ali como os outros a alimentar o sistema!
- Andou, mas essa era a regra e quem não alinhava não 'mamava' - é assim que vocês dizem?
- 'Pera lá Baltazar! Mas o Lobão é aquele que ficou muito comprometido numa reunião de Câmara, quando o vereador pequenote - sem desconsideração para ti - levantou aquela questão de um jantar pago por Fernando Melo à oposição incluído numa verba de cerca de 16 mil euros de refeições mal documentadas que o Tribunal de contas recusou validar!
- Ah! sim, também ouvi ladrar sobre isso, mas nessa altura (do tal jantar) o tal Lobo grande ainda contava ganhar as tais das eleições. Como não ganhou, rapidamente se esqueceu de quem o financiou!
- Resumindo - e para não ser de novo injusto - a SEC (ou os Bancos) receberam como pagamento da divida da Câmara...
- Pelo que me contou o canino de Valongo, cerca de 700 mil euros - agora ladrei bem! - ou seja cerca de 60% do total em dívida. Mas também se sabe que não deve ter vindo a tempo ou não chegou para salvar os postos de trabalho porque a empresa fechou e transferiu o que resta para outro local situado no Concelho da Maia e está a tentar negociar com a parte residual da mão de obra que restou e com a Segurança Social para ver se consegue manter alguma coisa.
- Possas, pequenote! Mas vendo bem as coisas, nesta aparente injustiça para com o Sr. Almerindo, culpas divididas, quem sai pior nesta 'fotografia' do encerramento da SEC em Alfena, é afinal a Câmara e...
- Exactamente! A Câmara, o meu homónimo e o tal do Lobo grande que foi muito pouco solidário com quem quase o ajudou a eleger - o meu amigo valonguense ladrou-me que tinha sido uma diferença de cerca de 800 votos!
- Sim, sim, parece que foi isso. Bem... não queres fazer na relva? Não? Então vamos lá p'ra casa, que já tenho algo para escrever. Vai pensando na próxima inconfidência.
- WOOF!
PS: Foi bom ter esta faladrura com o pequenote Baltazar. Neste caso tratou-se de uma espécie de 'remake' do meu post sobre a SEC. Porque afinal, há muitas pontas escondidas por detrás daquela lista enorme e quase ilegível do pagamento das dívidas da Câmara ao abrigo do PAEL.
Brevemente, voltarei à carga para saber as últimas fofocas da canzoada de Valongo - agora que já percebi a mecânica da coisa...