SERÁ QUE JOÃO CÉSAR DAS NEVES TEM RAZÃO E PORTUGAL É UM PAÍS DE RICOS?
Nada como uma boa peleja para nos animar um pouco.
Hoje o autor deste Blog deixou-me na caixa de comentários do meu esta abordagem, feita a partir de um ângulo um pouco 'arrevesado' - digo eu - em relação à questão dos pobres, verdadeiros ou 'inventados'(!), à questão dos salários baixos como factor da nossa competitividade, entre outras e por mim abordada AQUI.
Não gosto muito de me pronunciar a quente sobre assuntos desta envergadura, mas achei que o José Carmo da Rosa não se devia ir sem uma primeira 'tacada'.
Só para aquecer...
A resposta - para já...
"Ora bem…
Claro que esta 'carta aberta' em formato de resposta à outra do Carlos Paz, merecendo uma 'degustação' bem mais demorada, remete-me desde já para uma enorme contradição por parte daqueles que defendem que a saída para a competitividade de países periféricos como Portugal só se fará pela via dos salários baixos - em concorrência com a China, ou pior, com o Vietname, a Índia , o Bangladesh, o Camboja e outros.
Se assim fosse, a Alemanha não estaria a dar cartas na Europa e a ditar as regras dos cortes.
Ou então a lógica é (mesmo) uma batata...
CN"
Ao Carlos Paz (ex CEO da Groundforce), que acerca de uma entrevista dada pelo economista João César das Neves à TSF o manda à merda numa ‘carta-aberta a um mentecapto’ que foi publicada no Notícias Online. E ao Carlos A. Augusto, que aproveitou a boleia para postar aqui a tal carta-aberta do outro Carlos sem um link para a entrevista, mas com um NEM MAIS como aprovação e título.
Carlos Paz diz na sua carta “ouvi-te brevemente nos noticiários da TSF no fim-de-semana e não acreditei no que estava a ouvir. (…) disseste coisas absolutamente INCRÍVEIS, como por exemplo: “A MAIOR PARTE dos Pensionistas estão a fingir que são Pobres!”
Carlos Paz diz que ouviu brevemente!
Talvez resida aqui o problema, porque quando se faz acusações graves deve-se ter o cuidado de ouvir atentamente e ser preciso nas citações. Mas claro, precisão nunca foi o forte da nossa elite, que se deixa facilmente levar por emoções e pressentimentos, e depois, o que fica do que poderia ser uma interessante discussão é apenas isto: peixaria, berraria e insultos…
O que eu ouvi com a devida atenção do economista João César das Neves, foi que“Há uma data de gente a falar dos pobres que não são pobres e que em nome dos pobres querem defender o seu e a fingir que são pobres.”
Ora, Carlos Paz, que não parece viver no Casal Ventoso, nem deve ser pensionista e muito menos um pensionista que alguma vez teve fome, parece corresponder ao público-alvo a que o economista se refere: dos que ficam surdos de tanto fingir de pobre… Mas é verdade que o João César das Neves na tal entrevista disse que:
“…. A maior parte dos pensionistas não são pobres”
O que, segundo estatísticas da Pordata sobre a Caixa-Geral de Aposentações, também é verdade…
Para ser franco, isto surpreendeu-me!
Sempre pensei que os meus pais fizessem parte da grande maioria, mas não, só 20% dos pensionistas recebem uma pensão abaixo do salário-mínimo; 54% situam-se num escalão que vai de 500 a 2000 euros; outros 25% no escalão entre 2000 e 4000 euros; e só 1% recebe mais de 4000 euros. Neste escalão encontram-se certamente os advogados reformados das PPPês, políticos e os presidentes do conselho de administração de grandes empresas.
Carlos Paz: “João, disseste mais coisas absolutamente INCRÍVEIS, como por exemplo: ‘Subir o salário mínimo é ESTRAGAR a vida aos Pobres!’ Estarás tu bom da cabeça, João?” [as capitais são da autoria de Carlos Paz – CdR]
Carlos Paz volta a ouvir mal
Neste caso o economista até disse pior, não falou em ESTRAGAR mas emDESTRUIR a vida dos pobres. Ora, em toda a Europa esta temática está a ser actualmente discutida entre políticos, sindicalistas e economistas nas calmas e, tal como o nosso João César das Neves, usando apenas ARGUMENTOS. Uns acham que aumentar o salário mínimo faz perder postos de trabalho: os patrões empreguam menos gente e há o problema da concorrência. Basicamente são estes os argumentos. Outros acham que a um aumento de salário se segue automaticamente um aumento do consumo, o que é bom para a economia.
Eu, que não percebo patavina de economia, para poder formar uma opinião como cidadão, gostaria de ouvir calmamente as duas versões com argumentos que toda a gente perceba – de preferência sem demagogia, berraria e insultos em cartas-abertas. Resumindo, de gente boa da cabeça…
Voltando ao tema da pobreza
Toda a gente percebe que viver em Portugal com um salário-mínimo oficial de 565,83 euros é bastante difícil, mas um economista percebe um pouco mais (ou devia). Percebe que existem na Europa onze países com um salário-mínimo mais baixo que o nosso - e todos eles são potencialmente nossos concorrentes.
Picante detalhe. A Grécia tem o salário-mínimo fixado em 683,76 euros e tem também - talvez por isso, digo eu a medo! - uma situação económica bem pior que a nossa. Mas os 117,93 euros, que representam a diferença entre Portugal e a Grécia, é grosso modo o salário-mínimo na China…
A partir de aqui acho que não é preciso ser economista para perceber que:
- ou estala a curto prazo uma revolução salarial na China que vai multiplicar o salário-mínimo chinês por dez;
- ou vamos trabalhar mais do que eles;
- ou vamos ter que arranjar maneira de fabricar coisas que eles (ainda) não conseguem fazer;
- ou fechamos as fronteiras hermeticamente.
De outra forma não vejo maneira de como manter o mesmo nível de vida na Europa, com inevitáveis repercussões sobre o salário-mínimo.
E não vai adiantar muito escrever cartas-abertas, insultar, fazer greve, rezar, cantar a Grândola, respeitar a constituição ou as directrizes do Tribunal de Contas. Os chinocas são 25% da população mundial.
Mas há pior. Os próprios chineses já começaram a sentir na pele a concorrência de países com um salário-mínimo ainda mais mínimo, como o Vietname, Cambodja, Índia, Bangladesh, e este ano foi registada na China a menor taxa de crescimento dos últimos 13 anos: 7,8%. E segundo eles 8% é o mínimo necessário para manter a taxa de desemprego sob controle. Mas se os chineses empobrecem, então é que estamos lixados: não vão ter poder de compra para importar o nosso Vinho do Porto e as lojas de chineses no nosso país vão triplicar.