A GASTRONOMIA E O AMOR EM TEMPOS "REMOTOS"...
Eu ainda sou do tempo em que uma boa iguaria era devidamente degustada - sem pressas, sem correrias, sem dar a ideia de que se ia apanhar o comboio...
Por outro lado, uma verdadeira festança digna desse nome, nunca dispensava umas boas e suculentas entradas (hoje em dia e porque o tempo urge, saltam-se regra geral os preliminares, para passar de imediato ao prato principal!).
Os condimentos e as ervas aromáticas integravam-se plenamente no processo de confecção (hoje em dia, opta-se por colocá-los à parte, na borda da travessa ou do prato, qual elaborada lingerie em que só se repara de fugida, para se pôr imediatamente de lado, na ânsia da primeira dentada).
Outro aspecto em que os sinais dos tempos são bem visíveis tem a ver com o facto de no meu tempo haver um processo iniciático muito mais prolongado: A primeira mariscada, a primeira ida à discoteca, a primeira e autêntica troca de fluidos (fosse com a primeira garrafa de bebida, fosse com a primeira rapariga dos nossos sonhos...) ocorria regra geral, com o Secundário já entradote (hoje, começa tudo mais cedo e se calhar por isso mesmo, parece acabar tudo também mais cedo).
Noutros tempos a figura principal era a iguaria - o seu aspecto o seu aroma, a sua capacidade de nos fazer crescer água na boca (hoje, valoriza-se demasiado a embalagem a designação em francês ou italiano, a apresentação artística - às vezes verdadeira obra de arte, que não de arte gastronómica).
Antigamente, comíamos em casa ou fora (hoje, comemos em casa, fora ou em casa vindo de fora - aqui, ganhamos em opções, mas perdemos em qualidade, porque as opções externas, pertencem regra geral à geração do fast-food ou do silicone).
Claro que a vida é assim e dificilmente conseguiremos inverter este estado de coisas: Time is money e o corre corre que daí resulta, condiciona-nos, limita-nos impõe-se-nos! É que antigamente, os relógios o muito que conseguiam ir, era até à escala do segundo (hoje, já conseguimos medir décimas, centésimas, milésimas...eu sei lá que mais).
(PS: esta é a abordagem masculina do tema, mas com algumas adaptações de pormenor, a feminina não se afastará muito deste registo).