BATISMO DE FOGO (OU "A PRIMEIRA VEZ")
Em cenário de guerra, batismo de fogo é isso mesmo: a primeira vez em frente do inimigo, o primeiro contacto com o fogo real (desta vez a sério e não em ambiente simulado de treino).
Numa estranha analogia convencionou-se designar da mesma forma, aquele momento especial da nossa juventude, embora neste caso, não se possa nem deva considerar o outro lado como inimigo...
Na primeira situação, os que se iniciam depois de terminada a recruta, têm idades semelhantes. Já na segunda, o caso muda de figura, pois o período de recruta não se rege por padrões rígidos e é sempre condicionado por factores de natureza subjectiva bem diferentes do ambiente cronometrado e pré-programado do quartel.
No meu caso, a recruta foi um pouco além dos padrões normais para a época - durou o equivalente a 17 longos ciclos de translação da Terra!...
Vou-me socorrer da ajuda de uma pequena fábula para tentar explicar os motivos de tal desfasamento:
Era uma vez um pequeno reino, onde só havia frondosas árvores carregadas de variados frutos e uns estranhos seres voadores, que de ramo em ramo - e de fruto em fruto - executavam uma curiosa e estranha coreografia: tocavam, acariciavam, beijavam, arriscando por vezez uma inconsequente dentada. Repetiam-se sem parar em ciclos monótonos e arreliantes e sem sinais de mudança.
De quando em vez porém, uns quantos mais afoitos destacavam-se do grupo e assumiam um comportamento mais avançado e activo: fruto apetecível virava fruto comestível!
Curiosamente, tal mudança de comportamento parecia ocorrer, independentemente do estado de desenvolvivento dos estranhos seres: havia uns clara e indiscutivelmente mais precoces, enquanto que outros repetiam digamos que indefinidamente, este ciclo vicioso até à exaustão, sem qualquer sinal de mudança...
Igualmente estranho, era o que se passava com os frutos: Havia-os de diferentes tamanhos e estados de maturação, acontecendo por vezes que alguns de maior tamanho, se apresentavam com aspecto insípido e pouco interessante e cuja aparencia por si própria parecia afastar eventuais interessados, enquanto outros, nitidamente menos desenvolvidos, aprentavam um aspecto verdadeiramente apelativo, capaz de se transformar no polo de atracção de vários interessados...
Foi neste sensível e complicado ecossistema feito de estranhos e contraditórios compromissos, executadas que foram 17 longas voltas da Terra em torno do Sol, (e passando agora da fábula para a realidade) que ocorreu o meu Baptismo de Fogo - o meu bigbang ...
Em jeito de conclusão,direi que o Baptismo de fogo, sendo um acontecimento marcante, não tem necessariamente de constituir uma referência positiva do percurso (às vezes até se passa o inverso...). Faz parte no entanto de um ritual de iniciação que tem que ser cumprido: é o primeiro degrau de uma escada - temos que o subir, para chegarmos aos seguintes.