ANATOMIA DE UM SIM...
Houve ameaças de excomunhão, ouve dedos em riste ameaçadores apontados aos anticristo, aos carrascos dos inocentes, às mulheres depravadas e devassas, que só pensam no seu próprio prazer esquecendo-se depois das consequências inerentes - os bebés(?) até às 10 semanas de gravidez...
Toneladas de papel com imagens-choque de fetos ensanguentados, com descrições pormenorizadas de práticas de aborto com décadas de desfasamento em relação à realidade actual, circularam de mão em mão, inundaram as caixas de correio, poluiram o ambiente...
Houve mentes infantis de crianças de 11 anos, violentadas às portas das escolas, com a distribuição de DVD's repletos de pormenores sobre o aborto e a aniquilação de bebés que os defensores do SIM se proporiam levar a cabo...
Rezaram-se terços na praça pública, fizeram-se procissões, invocou-se o sofrimento lacrimoso de Nossa Senhora de Fátima e pediram-se Euros para custear as despesas...
Alguns Bispos, Padres e Cónegos, esqueceram as palavras sensatas e os conselhos de ponderação do seu Cardeal Patriarca e envolveram-se em autênticos actos de pré-inquisição, onde às vezes só faltava acender as fogueiras da suprema expiação, tal a semelhança dos contextos deliberadamente gerados pelas suas intervenções inflamadas...
E perante esta autêntica barragem de fogo que se abateu sobre o nosso Povo maioritariamente católico, ouve quem acreditasse no pior (ou no melhor, conforme a óptica...)
Mas, surpresa das surpresas, eis que ele (o Povo) dá aos doutores da lei e aos escribas, a lição que se impunha:
Em vez de os acompanhar no apedrejamento das mulheres pecadoras, ele preferiu apoiá-las (seguindo aliás, o conselho de Cristo - aquele que nunca pecou, atire a primeira pedra!...
Ficamos todos a ganhar com mais este exemplo de maturidade da gente humilde, mas estão especialmente de parabéns:
- As Mães e futuras Mães de todos os homens e mulheres de Portugal, que vão finalmente ver consagrado na Lei, o seu direito a uma maternidade consciente e responsável e a um aconselhamento médico ou psicológico, que as ajude a tomar uma opção ponderada, sempre que se vejam perante uma situação mais difícil em que a interrupção da sua gravidez seja uma das hipóteses a considerar!
- As crianças de Portugal, que passam a ter o direito de nascer felizes e desejadas, em vez de despejadas neste mundo, órfãs de pais vivos, para ficarem por aí, quantas vezes ao cuidado de quem não as cuida, durante anos e anos, sempre a acreditar (até desacreditar definitivamente) no milagre de ver surgir uns pais de coração que os acolham se a Lei não complicar...