ALFENA DOS ENCHIDOS OU O "OURO-DOS-TOLOS"...
Aos noue dias do mes de Fr.º de mil seis sentos e nouenta annos em o alto da serra chamada ual de porcos que he em a frg.ª de Alffena, sita em a Com.ª da Maya, termo e jurisdiçam da muyto nobre e sempre leal sidade do Porto, ahi estando prezente o doutor Jozeph da Crus, Juiz do Tombo do Coll.º de nossa sr.ª do Carmo da Uniuersidade de Cohimbra. Ahi perante elle Juiz pareseo prezente Manoel de Payua, procurador do dto. Coll.º e por elle foi requerido a elle Juiz que elle fizera sitar a Ber. [N.R.: «Bertholameu»] Ferras de Almeida comendador da comenda de Sam Juliam de Augalomga com quem comfina esta frg.ª de Alffena p.ª q em o dia de hoye pla huma ora dipois do meyo dia se achace no prezente lugar ou seu procurador p.ª se continuar com esta demarcaçam de emtre huma frg.ª e outra, e que elle Juiz o mandace appregoar plo porteiro e que nam parecendo a sua Reuelia se fosse continuando com a dtª demarquaçam o que uisto por elle Juiz seu requerimento confirmado de mim escriuam de como fis a dtª sitaçam mandou apregoar ao dito comendador Ber. Ferras de Almeida, o coal o dtº porteiro aprregoou e logo paresseo prezente elle Juiz Manoel de Oliua, e apresentou a procuraçam atras proxima que eu escrivão reconhesi ser feita e asignada pla mão do dito Ber. Ferras e disse que em uertude della uinha asistir a dita demarquaçam e que por tal effeito se louuaua em Pedro Franc.º da mesma frg.ª de Auga Longa ao coal elle Juiz mandou uir perante sim e lhe deu o juramento dos santos euangelhos sob cargo do que depois de lhe por sua mão direita lhe encarregou que bem e uerdadeiramente declarasse a diuizam de entre as freiguezias e declarece adomde era nesessr.º levantar marcos pª se desfazerem as duuidas que nisso podia aver o que elle prometeo fazer uerdade comforme emtendece plo juramento que elle Juiz lhe daua de que elle Juiz mandou fazer este termo que asignou com os ditos louuados e procurador e eu Manoel de Souza Barboza escrivão das sizas neste Conc.º da Maya, e deste Tombo que o escreuy // Jozeph da Cruz // Manoel de Oliua // de Pedro Franc.º louuado Franc.º da Costa //
Primeiramente comesaram elles louuados a medir pela deuizam de emtre as freiguezias do alto da serra chamada val de porcos donde estaua feito huma Crus em hum penedo que era o ultimo marco que estaua posto adomde comesaua a d.ª frg.ª de Sam Juliam e dahi indo pela serra abaixo athe junto o sobrejro uentoso coatrocentas e uinte e duas uaras adonde diseram era nesesr.º leuantar um marco o que elle juis mandou leuantar e dar um prégam pelo porteiro Manoel Fran.co que com pena da lei nimguem o arranquáce nem emtendêce com elle.
E logo foram medimdo elles pela deuizam de emtre as freiguezias the o p.ro [N.R.: primeiro] outeiro de junseda cemto e doze uaras a ahi se fes huma Crus em hum penedo que serue de marco da deuizam.
E logo foram medimdo mais elles louuados pela deuizam de emtre as freiguezias em dir.to p.ª o poente athe o outro outeiro adomde chamão tambem junceda em direito do penedo piqueno sempre augas uertentes cemto e oito uaras, se fes huma crus em huma pedra q. fiqua tambem seruindo de marco.
E logo foram medindo elles louuados pela deuizam de emtre as frg.as em direito p.ª o poente the o alto da serra adomde chamam penas altas em a Recham delle seis sentas sesenta e sete uaras e ahi disseram era nesessr.º leuantar outro marco o que elle juis mandou leuantar e dar prégam conforme o p.ro.
E logo elles louuados foram medimdo pela deuizam de emtre as freiguezias em d.to p.ª o northe athe o alto da serra defronte de penas altas adomde está hum penedo duzemtas e uinte uaras em o coal fizeram tambem huma Crus em o d.º penedo o q.l [N.R.: qual] fica tambem seruindo de marco.
E logo foram elles louuados medimdo direito p.ª o norte pela deuizam de emtre as freiguezias athe o ualle da Ribr.ª junto ao caminho cemto carenta e oito uaras e ahi disseram elles louuados era nesessr.º leuantar outro marco o qual elle juis mandou leuantar e dar prégam na forma dos mais.
E logo foram medimdo elles louuados direito the o Rio Leça por rredor da parede da bouça de An.to Luis setenta e oito uaras e serue a d.ª parede de deuizam. (…)»
Esta descrição, bastante clara, coloca--nos, num primeiro ponto, no alto da Serra de Vale de Porcos ou do Sobreiro Ventoso, elevação existente entre os vales da Fonte da Prata e de Porcos, a sul da atual A41, no ponto onde se tocam as três freguesias, Alfena, Sobrado e Água Longa (ainda hoje lá está o penedo citado no Tombo).
A partir desse ponto, o limite segue para noroeste, atravessando os terrenos que foram recentemente alvo da especulação imobiliária de que a imprensa deu nota, descendo para o “Sobreiro Ventoso”, junto ao Ribeiro de Junceda, nas imediações do Nó de Transleça/Cruz da A41, local onde, até às obras de construção da auto-estrada existia um marco do Colégio do Carmo (infelizmente nem sempre as leis de proteção do Património são cumpridas e a construção da A41 foi um bom exemplo disso…). Depois o limite segue, quase em linha reta, pela cumeada dos outeiros da Junceda, onde ainda hoje existem os penedos referidos no Tombo (verdadeiros sobreviventes à força cega das buldózeres e à incompetência dos técnicos que deveriam cuidar da defesa do nosso Património), pela encosta das “Penhas Altas” ou “Penhas d’Abelhas” (hoje conhecidas pelo moderno topónimo do “Alto Catorze”, numa alusão à casa do vigia da linha elétrica de alta tensão ali existente até há alguns anos, o 14º desde a origem da linha, construção de que hoje apenas subsistem ruínas…), até chegar a um pequeno planalto ou “Recham” onde ainda hoje se encontra um outro marco com o monograma do Carmo.
Da Rechã o limite continuava a quase linha reta anterior pela cumeada da elevação conhecida por “Serradinho”, descendo até ao “Caminho do Vale da Ribeira”, caminho público secular que liga os lugares de Transleça (Alfena) e da Cruz (Água Longa) pelo vale do Rio Leça, e deste caminho pela “Parede da Bouça de António Luís” até ao Rio Leça (esta parede existiu até há alguns anos até que o proprietário dos terrenos de ambos os lados do limite resolveu retirá-la para unir as terras e tentar obter maior rendimento agrícola).
Num próximo artigo voltaremos ao tema para concluir a descrição do limite de Alfena com Água Longa a norte do Rio Leça.
Por: Arnaldo Mamede (*)
(*) Membro da AL HENNA – Associação para a Defesa do Património de Alfena.
Respigado do Blog Sentir Água Longa
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Fonte da Prata portanto - ou Sobreiro Ventoso...
Nomes que remetem o nosso subconsciente para uma qualquer zona de mineração - ou então, para um incipiente e inóspito povoamento de sobreiros, quiçá algum exemplar único fustigado pelo vento, daí o 'ventoso'...
Graças no entanto ao esforço de um abnegado autarca do nosso burgo, essa grande figura do ordenamento do Vallis Longus que foi destacado vereador do Urbanismo e denodado 'homem de mão' do soberano Fernando Melo, de seu nome José Luís Pinto e em conjugação de esforços com a benemérita instituição Banco Santander, foi possível transformar em ouro a modesta prata e acabar com o ventoso do Sobreiro - desde logo, demolindo o próprio Sobreiro!
O Progresso é mesmo assim que se constrói e se na senda do mesmo houver prata ou ouro, os sobreiros que se atravessem devem ser demolidos - ainda que para tal, o 'faroeste' urbanístico tenha que ser descriminalizado...
Foi o que fez o soberano do tempo presente, outro eminente autarca do 'subúrbio' que tendo começado por ser um batalhador destacado contra os adoradores de bezerros de ouro, se foi convertendo paulatinamente num entusiástico militante do dEUS dos enchidos e enlatados feitos de bezerros de carne e osso.
José Luís Pinto, dizem, terá sujado as mãos por quase nada - há sobreiros que demoram anos a demolir e prata que demora séculos a virar ouro e ele não teve tempo de assistir à metamorfose - mas a jovem promessa de avental vestida oriunda das hostes socratistas, essa não brincou em serviço e atacou no momento certo, aquele momento em que a metamorfose se deu - e a prata virou ouro....
Era um jogo de fortuna e azar e ele atento, soube agarrar a fortuna no momento certo pela mão do tal dEUS dos enchidos e enlatados.
Contra ventos e marés - os ventos que fustigavam o tal Sobreiro da elevação e as marés que agitavam as águas do Ribeiro de Junceda - lá vai a jovem promessa socratista de Valongo sujando as mãos e as botas, enquanto vai posando para memória futura ao lado dos monstros roncadores que vão arrasando o que já estava semi-arrasado. Mas não arrasarão a história do lugar que essa ficará por ali durante muitos anos a atormentar as noites de azáfama no fabrico das salsichas.
Portanto, de avental e mãos sujas pela poeira efémera do 'ouro-dos-tolos', que é o único que sairá da prospecção, vamos continuar a ver o nosso jovem edil a calcorrear o "Alto do Catorze" gastando as solas dos sapatos, até que um dia terá forçosamente de "dar corda aos mesmos" para escapar a alguma maria bernarda justiceira de que ninguém está livre - sobretudo quando esse alguém faz tudo para fazer jus à asserção "cá se fazem cá se pagam"...