ALFENA E OS 'CRIADORES' DE EMPREGO - ENTRE A VERDADE E A FICÇÃO...
A ficção:
Ia um cidadão anónimo a caminho do trabalho, quando de repente se depara com um daqueles (quase) rotineiros assaltos a uma loja de material electrónico.
"Olha que giro, um assalto! Deixa-me lá ver como corre, que ainda é cedo para chegar ao trabalho".
Por esta amostra já dá para perceber que o dito cidadão não tem um sentido de responsabilidade cívica lá muito apurado. Prefere assistir ao 'filme' a pegar no telemóvel e ligar à polícia...
Passado algum tempo, começam a sair os assaltantes com as sacolas carregadas de 'produtos facilmente transaccionáveis' e um deles, ao ver o olhar de cobiça que o cidadão lançava sobre as embalagens vistosas de 'telelés' topo de gama que carregava - e pressionado que estava pela absoluta urgência da primeira dose que aquela hora do dia já deveria estar a 'mandar para a veia' - lança-lhe à queima roupa um desafio quase irrecusável: "se tiveres duas de cinquenta levas o saco".
O nosso cidadão por acaso até tinha mais do que 'duas de cinquenta', dado que contava no regresso do trabalho, passar por casa do senhorio para pagar a renda da casa. Fica fácil portanto, imaginar como é que este episódio terá terminado...
A realidade - meio ficcionada:
Ia um conhecido autarca da nossa praça - do ramo do 'urbanismo criativo' - a 'ver as vistas' do burgo alfenense, quando se depara com um conhecido 'testa de ferro' a comprar terrenos classificados como Reserva Ecológica Nacional (REN) ao preço da 'uva mijona'.
"Olha que giro, um negócio de terrenos! Deixa-me lá ver... etc., etc.,".
Nisto, tinham-se já retirado os modestos proprietários rurais das terras 'que não valiam (quase) nada', meio tristes meio contentes com o produto do negócio que tinham acabado de fazer - tudo somado, uns modestos 4 milhões - começam a chegar ao mesmo ponto de encontro os Mercedes topo de gama carregados de homens de negócios com ar pouco recomendável. O nosso autarca conhecido pelo faro apurado para todo o tipo de negócios mais ou menos claros na área do empreendedorismo moderadamente transparente, pressente de imediato que aquele pode ser o negócio da sua vida - um dos... - e no entanto, de forma tão simples e tão fácil - para ele, obviamente.
Uma simples e mal redigida declaraçãozinha de intenções da autarquia comprometendo-se a 'dignificar' aquela extensa área de pinheiros e eucaliptos' baptizando-a desde logo com o nome pomposo de nova Zona Industrial de Alfena (ZIA) é a varinha mágica que faz multiplicar em minutos, não os pães que ali não os havia, mas os euros que se adivinhavam nos bolsos de todos os que acabavam de chegar. O gesto ter-lhe-á rendido aquilo que muitos adivinham mas poucos estarão em condições de poder provar.
Já o 'testa de ferro' esse, entre os quatro milhões pagos aos modestos proprietários iniciais e os 20 milhões embolsados ou a embolsar no futuro próximo - depois da consolidação do negócio - terá enriquecido... deixa cá ver, deixa cá ver... é só fazer as contas, como diria o Guterres.
Passou-se algum tempo sobre este assalto - sim, porque é de um assalto que estamos (também) a falar - e chega ao terreno um outro autarca que não é do ramo do Urbanismo criativo e depara-se com aquele imenso tesouro ao ar livre.
"Olha que giro! Uma Zona Industrial para a Jerónimo Martins"...
Alguém que ouviu o aparte alerta-o para o facto daquilo ser o 'produto de um assalto' que não deve ser mexido até ao trânsito em julgado das queixas que se encontram a ser apreciadas no Ministério Público.
Qual quê nem qual carapuça! Se o produto do assalto pode - teoricamente - ajudar a criar alguns postos de trabalho, porque é que devemos ter pruridos ou preocupações com o cumprimento das Leis?
"Faz-se um PDM aditivado com uma pequena dose de detergente - tipo 'OMO lava mais branco' - e pronto. Caso encerrado" - isto é o que o nosso autarca está inclinado a fazer...
Caso encerrado coisa nenhuma! É que este é um daqueles casos típicos em que os fins não justificam os meios!