AS VÍTIMAS NÃO TÊM 'HIERARQUIA', SÃO VÍTIMAS PONTO FINAL!
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A propósito do massacre de meia centena de pacíficos cidadãos ontem em Orlando (USA) - para além de mais de meia centena de outros gravemente feridos - vale a pena recordar bem a propósito este texto que é uma das muitas versões conhecidas de parte de um sermão de Martin Niemöller (alemão – pastor luterano – 1892-1984) e que por vezes de forma errada tenho visto atribuído a Bertolt Brecht: "A indiferença":
Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.
Foi um autêntico massacre aquele que foi levado a cabo por um louco, um extremista, um terrorista como todos aqueles que têm no últimos tempos levado a cabo atentados como este - França, Bélgica, Iraque, Turquia, Rússia e tantos outros pontos deste mundo virado do avesso.
Mas quer queiramos admiti-lo ou não, ainda vivemos num tipo de sociedade onde o esgar de horror que pomos no nosso semblante perante uma tragédia deste tipo, é construído muito à medida do 'tipo de vítimas' que são atingidas.
É verdade, 'tipo de vítimas'!
Neste caso, parece que eram apenas 'paneleiros' que tinham decidido conviver alegremente e de forma pacífica e celebrar a sua alegria num local reservado - seguindo talvez um ritual um pouco diferente daquele que é usado por outros seres humanos de cor eventualmente diversa mas ditos de 'barba rija e cabeça eventualmente rapada' em idênticos locais de 'celebração', alegria e convívio.
'Hierarquizar' as vítimas segundo a cor da sua pele (ou qualquer outro tipo de 'sinais identificadores') é obviamente estúpido!
As vítimas são-no apenas e ponto final!
Em França, na Bélgica, no Iraque, na Turquia, na Rússia, o sangue de todas tem a mesma cor e idêntica consistência e a violência com que os terroristas de todo o tipo e usando todo o tipo de armas o fazem jorrar exige já muito mais do que o singelo gesto de respeito com nos curvamos em sua memória.
Esse justifica-se evidentemente e deve estar em primeiro lugar mas é necessário e urgente que assumamos uma atitude bem mais activa e de combate perante um tipo de terrorismo que um dia nos pode encontrar no sítio errado e à hora errada e seja lá qual for o ritual que celebremos no momento, nos possa transformar da mesma forma em vítimas, ponto final!
Tal como então consegui articular com um nó na garganta o grito "Je suis Charlie" - eu que até não gosto do tipo de humor do Charlie Hebdo - hoje o grito que me sai da garganta e do teclado com que escrevo este texto só pode ser um: "eu sou 'Pulse' (a discoteca de Orlando), sou 'arco íris', sou gay de alma e coração (ainda que não de corpo)!