BONS NATAIS PARA TODOS...
Hoje não vou falar de Natal...
Porque em Portugal ele apenas existe neste curto espaço de tempo em que se convencionou - quem convencionou? - que todos sejam moderadamente felizes nesta quadra, tenham a sua ceia de consoada e o seu almoço de Natal com alguma abundância. E tudo isso para que os generosos doadores do Banco Alimentar contra a fome - mas há fome em Portugal? - se sintam recompensados pela generosa dádiva da lata de atum, do quilo de arroz corrente, da garrafa de óleo (azeite num ou outro caso), do pacote de esparguete da Nacional. Por isso vou falar (sobretudo mas não só) de "roupa velha" - um pouco mais abaixo...
E não vou falar de Natal por uma outra (e relevante) razão:
Porque quem fala de Natal está a fazer um frete àqueles que enchem a boca a dizer que Natal é todos os dias (para eles até é...) mas se esquecem de ajudar a tornar esse Natal-de-todos-os-dias possível (também) para todos os mais simples entre os simples, para os 'descamisados', para os desvalidos da sorte - aqueles que, por terem apenas uma casa pequena (às vezes apenas um sítio e uma embalagem de cartão onde se deitam) nunca se esquecem da sua residência quando são perguntados sobre isso...
Hoje não vou falar de fome...
Apesar de saber que ela existe no mundo que nos rodeia e também em Portugal que faz parte desse mundo à nossa volta - porque não é-de-bom-tom falar destas coisas desagradáveis nesta época festiva de paz-e-amor...
Hoje não vou falar de guerra...
Em primeiro lugar, porque ela só existe no 'mundo distante' e Portugal pertence ao 'mundo próximo' onde-(ainda)-não-há-guerra e depois, porque se o pão não chega para toda a gente, as guerras cumprem um papel importante de 'regulação do número de bocas'que se escancaram para o comer...
Hoje não vou falar de facínoras...
Nem de vigaristas, de políticos e governantes desonestos arvorados em 'estadistas', de administradores-das-Justiças-em-nome-do-Povo, de deputados da(s) Nação(ões) que os sustenta(m) - em primeiro lugar, porque em Portugal não existe gente desse calibre... Até mesmo o 'grupo dos 230' - aquele grupo de pessoas que não sabe muito bem onde mora e quando é perguntada sobre isso, o primeiro lugar que lhes ocorre dizer é aquele-sítio-onde-já-foram-muito-felizes, de preferência a muitos quilómetros do sítio onde traficam (influências), até mesmo esses, não passam de arraia miúda presa por fios aos donos que os administram e manipulam no "teatro global" em que Portugal se insere.
Mas pronto...
Porque apesar de não querer falar de Natal a música está no ar um pouco por todo o lado e de forma involuntária somos sempre conduzidos para-o-voto-de-circunstância-do-momento, sejamos felizes! Uma noite que seja mas muito felizes!
E lembremo-nos - essa será a nossa suprema e saborosa vingança - que os-senhores-do-reino não sabem o que é uma boa 'roupa velha' comida no dia de Natal e regada com um ou dois copitos do especial que já vem da noite passada!