"CANDIDATOS ENGRAÇADINHOS" E ELEITOS SEM GRAÇA NENHUMA...
Eu até gosto do Jerónimo de Sousa e sinceramente não acho que tenha havido maldade no soundbite da noite eleitoral - "Podíamos arranjar uma candidata mais engraçadinha e com um discurso mais populista" ...
No calor do balanço eleitoral e ainda a quente face à desgraça dos resultados obtidos pela maioria dos candidatos, não vai ser esta tirada menos feliz que vai alterar a opinião que tenho sobre o secretário-geral do PCP - e é boa.
Mas já agora, camarada Jerónimo, que tal meditar um pouco sobre o porquê da "candidata engraçadinha" ter dado uma abada ao (apenas) simpático ex-sacerdote? Que tal comparar o trabalho dos dois - o dela no Parlamento Europeu e o dele... não sei onde?
À prestação dela nesta campanha eleitoral, à forma quase intimista como dialogava com as pessoas, sem grandes encenações, sem grandes manifestações de massas, sem grandes 'arruadas', o simpático ex-sacerdote contrapôs sempre o formato oficial do PCP, ao bom (?) estilo da fase pré-Gorbatchev da URSS ou à actual do 'camarada' Kim Jog-un da Coreia do Norte, esse baluarte do socialismo...
Como poderia portanto o PCP esperar um resultado diferente?
Mas poderia o PCP ter obtido melhor resultado?
Claro que sim!
Bastava que tivesse sabido antecipar a mais que previsível estratégia do candidato do regime, um "pré-eleito" que, ele sim, resolveu investir o máximo na faceta de "engraçadinho" - no sentido mais pejorativo do termo.
A alternativa para "candidatos engraçadinhos", caro Jerónimo, não seria evidentemente um "candidato (ainda mais) engraçadinho" mas sim um candidato sério, mas sério 'a sério' - sem ter de ser necessariamente sisudo.
É público que, por razões que se prendem com o combate em que estou envolvido, eu votei em Paulo Morais.
Não vou evidentemente ao ponto de achar que o PCP poderia ter apoiado esta candidatura, mas coisa bem diferente teria sido o apoio a Sampaio da Nóvoa que deveria ter sido seriamente ponderado não fosse a tradicional 'urticária' que o termo 'independente' sempre provoca nas elites dirigentes dos vários Partidos e também do PCP.
Não é por acaso que na Assembleia Municipal de Valongo os representantes do PCP (mas neste caso também do Bloco de Esquerda) têm estado sempre ao lado do poder socialista - da 'facção do avental' que é maioritária - na sonegação de direitos ao deputado independente (eu próprio). Este posicionamento nada surpreendente - pelas piores razões - tem impedido uma tomada de posição justa, visando adaptar um ou dois pontos do Regimento que me impedem de ter os mesmos direitos do deputado (único) do Bloco de Esquerda!
E ainda que em tese pudéssemos admitir que prevalecia maioritária a actual situação, seria apesar de tudo mais simpático verificar que, pelo menos ao nível local, o termo 'independente' não provocava este tipo de "urticária".