EUTANÁSIA, LEGITIMIDADE FORMAL versus LEGITIMIDADE MORAL DOS PROJECTOS - OU A FALTA DE DECORO DE UNS QUANTOS...
O PAÍS ABANA...
Temos sido, felizmente, poupados ao flagelo do COVID19 mas o mesmo já não se pode dizer quanto às ondas de choque que já se sentem geradas pela aproximação da discussão da eutanásia no Parlamento.
Tenho evidentemente uma opinião sobre o assunto que, pelo menos por enquanto, me abstenho de exteriorizar, mas considero que dos dois lados da barricada existe gente séria e também muitos oportunistas para quem a discussão sobre o sofrimento alheio é apenas um pretexto para levar a água ao seu moinho.
Deixemos por agora de lado as posições oportunistas de uns e outros e falemos da gente séria de ambos os lados.
Interrogo-me aliás sobre se as respectivas posições estariam tão extremadas se tivéssemos sofrido em Portugal um impacto emocional como o que teve o caso de Ramón Sampedro em Espanha.
Para quem for genuinamente sério, a decisão sobre as saídas possíveis em presença para enfrentar o sofrimento alheio gerará seguramente em quem a tenha que tomar um enorme sofrimento ético/moral que deve merecer todo o nosso respeito.
A questão não está, portanto – como poderia estar? – no facto de existir ou não existir referendo ou de tudo ser decidido de uma forma ou de outra pelos deputados eleitos.
Todos, deputados e eleitores, têm legitimidade para decidir e que bom seria que as religiões que também têm toda a legitimidade para defenderem os seus respeitáveis pontos de vista se limitassem a isso e não colocassem a discussão em temperaturas próximas do ponto de ignição...
Falemos agora na gente desonesta que se movimenta em torno deste assunto e entre esta, destaquemos e se calhar isso basta, a posição quase pornográfica e ofensiva do partido socialista que por aí se anuncia e promove e que mais uma vez engrossará a posição maioritária mais que previsível da Assembleia da República.
O PS é o principal suporte do governo, governo esse que tem deixado ao abandono e à míngua a rede de cuidados continuados e paliativos e tem adiado de forma indesculpável a regulamentação dos cuidadores informais!
Quantos dos doentes para quem a eutanásia poderá vir a representar a única saída possível para por termo a um sofrimento atroz não poderiam equacionar uma outra alternativa se tudo o que tem falhado até agora em termos de ajudas tivesse sido implementado?
A abordagem do PS sobre a eutanásia é portanto MORALMENTE ILEGÍTIMA e ENVERGONHA Portugal - e deveria envergonhar também os que se repartem por esses debates televisivos para sobre ela discorrer.
É essa abordagem que é promovida pelo Partido Socialista que choca - porque quem se preocupa mais com as 'dores' da Banca e dos ladrões que a gerem ao sabor dos seus interesses e dos interesses conexos - politicamente 'multicolores' diga-se - que à sua sombra gravitam do que com a Segurança Social, com o Serviço Nacional de Saúde, com os problemas da Educação... não tem legitimidade para falar da dor autêntica, porque tem uma reserva mental sobre ela que apontará sempre para uma perspectiva meramente economicista, obviamente negada, sobre as saídas mais fáceis para lhe pôr termo!
E mais não digo – por agora...