O 25 DE ABRIL DOS FINGIDORES...
Citando Pessoa...
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Mas nem só o poeta finge, porque fingir é uma arte multifacetada, transversal a todas as sociedades civilizadas e desenvolvidas - como a que caracteriza o actual momento que vivemos em Portugal.
Além do poeta, também fingem os deputados...
Fingem que exercem o poder em nome do Povo e fingem tão completamente, que chegam a fingir que é Abril o Novembro que lhes vai na alma.
Fingem que é igual ao da lapela o cravo que guardam no coração, mas não, a semelhança entre um e outro queda-se pela fonética.
Quando começarem a desembrulhar as suas habituais e bem elaboradas prosas no próximo dia '25 de Abril dos não confinados' a flor que emergirá das mesmas não será igual à flor dos canteiros de Abril mas antes uma outra menos vistosa e claramente diferente - até pelas suas origens mais inóspitas: uma flor de cardo selvagem...
Mas não estarão sós nessa arte da ilusão de que também se vem fazendo Abril, o Abril de todos os anos que já se somam ao Abril autêntico...
Os capitães - agora tenentes-coronéis ou coronéis - também estarão presentes neste acto de 'supremo fingimento' e fingirão que a bênção que levam aos detentores do efémero poder é igual à que ali levaria Salgueiro Maia se ainda vivesse e fosse convidado.
Mas não!
Salgueiro Maia nunca aceitaria sentar-se naquela casa que se convencionou chamar 'Casa da Democracia' mas que nos últimos anos se transformou na verdade numa versão engalanada da caverna de Ali Babá, uma verdadeira central da corrupção - esse mortífero 'vírus' que há muito circula já ao nível da comunidade pelo que já não há 'cordão sanitário' que consiga impedir a sua penetração no tecido e nos órgãos do País.
Os capitães de Abril estarão ali portanto e também eles, a fingir que é Abril da nossa alegria que ali se comemora e não o Novembro do nosso descontentamento...
Mas há uma outra bênção que ali será levada...
Sua eminência o Cardeal Patriarca D. Manuel Clemente, vai também fingir que está ali em representação dos católicos de Portugal, esses sim confinados e recolhidos ao seu redil.
E fingirá ainda que é em nome de Deus que abençoará os participantes no evento pequeno - pequeno mas não confinado nem mascarado que máscara é adereço de quem trabalha ou trata da saúde ao seu semelhante...
A Deus o que é de Deus e aos homens o que é dos homens!
E esta conveniente separação, D. Manuel Clemente, é ainda mais importante quando a maioria dos homens que ali estarão presentes são pessoas de 'mau-porte' - no pior sentido da palavra e comparações aparte com o porte de Maria Madalena...