OS 'ANTI-CRISTO'...
JMJ - JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE 2023 - OS CRISTÃOS NOS ‘ANTÍPODAS’ DE CRISTO...
(É claro que Portugal é um País laico e, por isso mesmo, esta Jornada – a forma como está a ser organizada - torna tudo ainda mais estranho e lamentável, porque não responsabiliza apenas os ‘empreiteiros’ de sotaina).
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Assistimos, uns incrédulos e estupefactos, outros (muitos) com sorriso boçal e bacoco de orelha a orelha, ao frenesim de esconder debaixo do tapete e dar uma vida efémera e enganadora ao grande aterro de Beirolas/Lisboa Ocidental, tudo isto às cavalitas de uma iniciativa alegadamente cristã e agregadora das energias positivas normalmente irradiadas pela juventude mas, na verdade e neste caso, apenas ou quase só, promotoras de mais uma manifestação do afamado ‘novo-riquismo’ à portuguesa onde os mestres de obras são muito pouco irradiantes - e ainda menos, se falarmos da verdadeira juventude que a maioria deles dificilmente irradia.
Cristo, à volta do qual seria suposto agregarem-se todos os cristãos que participarão no evento, teria seguramente vergonha de vir a Lisboa para este evento – sobretudo face aos contornos miseráveis do despesismo bacoco que todos podemos constatar com crescente espanto e revolta.
- E tudo isto, num País onde grávidas morrem por falta de assistência ou assistência inadequada, onde doentes oncológicos morrem pelas mesmas razões das grávidas, onde centenas de doentes internados e com alta hospitalar se mantêm “internados” e ocupando camas que fazem falta para os internamentos que terão de aguardar as vagas que não existem, por falta de rectaguarda familiar ou institucional, um País onde centenas e centenas de cidadãos ‘sem direito’ a médico de família têm que dormir à porta das unidades locais de saúde para disputar uma vaga no dia seguinte;
- Num País que exporta médicos, enfermeiros e outros profissionais da Saúde altamente qualificados e se prepara para ir buscar a Cuba e outras paragens, profissionais ‘low-coast’ para preencher as escalas hospitalares que rebentam pelas costuras;
- Num País onde os transportes públicos são o que são e onde os profissionais são pagos e tratados da forma que todos sabemos – e por isso escasseiam – e que em vez de tentar atrair mão de obra nacional opta por importar a preços de saldo, de Cabo Verde sobretudo, novos ‘escravos’ para juntar aos muitos que já temos;
- Num País que permite, sobretudo na agricultura, a existência de dezenas, de milhares talvez, de bolsas de escravatura – sim, ESCRAVATURA – com as autoridades, o governo, o ‘senhor dos afectos’ e das selfies babadas e os vendilhões do templo – estes últimos agora muito atarefados nas obras do aterro – fingem de mortos em relação ao drama multifacetado deste País;
- Num País onde centenas de milhar, milhões talvez, vivem (subsistem) abaixo do limiar de subsistência, morrem de frio no inverno e compram a medicação em ‘tanches’ alternadas (mês sim mês não), como se isso respondesse às suas necessidades, aquelas que foram tidas em conta no momento da prescrição;
- Num País onde a natalidade – excluindo aquela que se atribui ao enorme aumento da imigração – tem caído a pique e nos conduz a passos largos para um agregado de velhos e desvalidos em que os jovens, os que ainda teimam em apostar num futuro português, têm que permanecer cada vez mais e até mais tarde em casa dos pais, adiando também cada vez mais no tempo a relação a dois ou pelo menos aquela parte da mesma que é susceptível de visar a concretização do sonho de terem o seu primeiro filho;
Portanto e itens múltiplos à parte que poderia continuar a enumerar...
Só pode ser com um sentimento de profunda revolta que o País real, o País da solidariedade, da fraternidade, do respeito pelos idosos, dos doentes e dos mais fragilizados e desvalidos, o País do respeito pela ‘ética republicana e laica’, assiste a este frenesim esquizofrénico em torno das JMJ.
Tenho pena, mas a apreciação que faço sobre a JMJ não se compagina com ‘conversa mole’.
- E termino como comecei: Cristo teria vergonha de vir ao ‘aterro de Beirolas e Lisboa Ocidental’ – transformado numa espécie de ‘Vilar de Mouros’ de perfil mais ou menos devoto, mas em grande e lamentável no que toca à imposição do ‘estado de exclusão’ (aérea, terrestre e de Direitos) onde os lisboetas em particular e os portugueses em geral se limitarão a sofrer as restrições e limitações à sua Liberdade e ainda por cima, terão de pagar a factura!
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Parece que a Igreja se propõe gastar nesta iniciativa “não menos de 80 milhões de euros”...
No dinheiro da Igreja mandam os seus fiéis contribuintes e não meterei a foice em seara que não é minha. Convém, no entanto, lembrar que, por um lado, a Igreja tem um ‘estatuto de privilégio em termos fiscais e depois, também não pode esquecer – nem consegue esconder – que muitas IPSS e Instituições de interesse público por si tuteladas, vivem muitas vezes abaixo do limiar subsistência e oferecendo aos seus acolhidos condições apenas mínimas ou abaixo disso!
(celestino neves)